Com gestão sólida, Athletico-PR luta pelo bi da Copa do Brasil para ampliar sua força no futebol do país

Publicado em sábado, dezembro 11, 2021 · Comentar 


Athletico-PR que luta pelo bicampeonato da Copa do Brasil pode aumentar a galeria de títulos relevantes de um clube que acreditou no sólido planejamento. Cerca de 20 anos depois de dar prioridade ao investimento em sua estrutura e projetar seu elenco, o Furacão ganha força no cenário do futebol brasileiro e sul-americano.

Consultor de gestão e finanças do esporte, Cesar Grafietti detalha ao LANCE! o que foi essencial para o clube paranaense “subir de valor”.

– O Athletico é o resultado de um planejamento, que é tudo aquilo que cobramos no futebol, mas poucos têm capacidade e paciência de fazê-lo. Desde a inauguração da “meia” arena, o clube vem se estruturando, com um CT moderno, investimentos em tecnologia para avaliação de desempenho de todas as categorias, e chegando à finalização do estádio – disse.

NOVO MANDATO, BUSCA POR NOVA ESTRUTURA

Kyocera Arena, primeiro passo para transformação da Arena da Baixada (Foto: Divulgação)
Kyocera Arena, primeiro passo para transformação da Arena da Baixada (Foto: Divulgação)

Foto: Lance!

Em 1995, Mário Celso Petraglia se tornou mandatário com a proposta de modernizar totalmente o Athletico. Na sua pauta, estavam a revitalização do CT do Caju e também da Arena da Baixada.

O Furacão foi pioneiro no país em outro aspecto: dos “naming rights”. Em 2005, o clube fez acordo com a Kyocera Mita e a Arena da Baixada se tornou Kyocera Arena. O estádio ganhou padrões europeus e se tornou uma referência no futebol brasileiro.

Posteriormente, a Arena da Baixada teve um novo passo em sua modernização, ao se tornar uma das sedes da Copa do Mundo de 2014.

TÍTULO BRASILEIRO E CAMPANHAS DE DESTAQUE NO FUTEBOL NACIONAL

Aos poucos, a sensação de que o Athletico podia sonhar com dias melhores começou a aparecer. Em 1999, a equipe foi vencedora da Seletiva para a Libertadores, competição organizada para designar um dos representantes do Brasil para a competição continental em 2000. No elenco, estava o atual comandante Alberto Valentim (que era lateral-direito), além de nomes como o volante Axel e os atacantes Kelly e Kleber Pereira.

A primeira prova de que estava em novo rumo veio em 2001. Com o futuro pentacampeão Kleberson e o atacante Dagoberto (ambos vindos da parceria com o PSTC, clube de Londrina) e atletas como Cocito e Alex Mineiro, a equipe foi campeã brasileira em 2001, derrotando o São Caetano por 1 a 0.

Anos depois, jogadores vindos da parceria com o PSTC (clube de Londrina) como Fernandinho, Jadson e Alan Bahia chegaram à Arena da Baixada. Em 2004, a equipe lutou até o fim no Campeonato Brasileiro, mas perdeu o título para o Santos. No ano seguinte, veio uma trajetória forte na Copa Libertadores até a final, só que o São Paulo acabou levando o troféu.

ALTOS E BAIXOS EM CAMPO E COM O OLHAR EM TÉCNICOS ESTRANGEIROS

Nem sempre o Athletico-PR teve uma estrada de plenitude. Em algumas edições do Brasileirão, a equipe lidou com a luta contra o rebaixamento e até amargou em 2011 a queda para a Série B.

Porém, aos olhos do economista Cesar Grafietti, as convicções de Mário Celso Petraglia foram cruciais para o Furacão mantivesse seu planejamento.

– Nesse meio de caminho o clube chegou até a ser rebaixado, mas o projeto não foi abandonado. E isso foi possível porque o clube tem um “dono”. Um clube com dono e que tenha a visão correta tem enormes chances de se estruturar – afirmou.

Em 2012, o Athletico foi arrojado ao recorrer ao uruguaio Juan Ramón Carrasco, que levou a equipe à semifinal da Copa do Brasil e à final do Paranaense. Porém, após oscilações na Série B, ele deixou o comando. A equipe obteve o acesso sob o comando de Ricardo Drubscky.

No ano de 2013, a equipe paranaense foi à final da Copa do Brasil sob o comando de Vagner Mancini, em competição na qual ganharam projeção nomes como o goleiro Weverton, o lateral Pedro Botelho e o atacante Marcelo Cirino. Classificado para a Copa Libertadores, o Furacão voltou a recorrer a um técnico estrangeiro: Miguel Ángel Portugal. No entanto, o espanhol se demitiu em maio de 2014.

OLHO CLÍNICO E COMPETITIVIDADE

A busca por um elenco que não fugisse de seus padrões financeiros continuou a fazer parte da rotina atleticana independentemente do desempenho em campo. Para isto, o clube apostou em olho clínico e boa estrutura.

– Tem dois aspectos que precisam ser considerados: o primeiro é que o clube consegue escolher bem. Não vai acertar sempre, mas vai errar menos que a média, porque utiliza sistemas de análise de desempenho de ponta – disse o economista Cesar Grafietti, completando:

– O segundo é o círculo virtuoso: por estar equilibrado financeiramente os atletas gostam de jogar num clube que paga em dia. Por isso consegue atrair os atletas que quer, e que sabem que podem brigar por conquistas – finalizou.

O lateral Renan Lodi e o volante Bruno Guimarães se tornaram símbolo da revelação de atletas em um contexto no qual o Estadual deixou de ser prioridade.

NOVA ERA DE COLECIONADOR DE TÍTULOS

Nikão, presente na guinada do Furacão (Foto: Divulgação / Conmebol Sudamericana
Nikão, presente na guinada do Furacão (Foto: Divulgação / Conmebol Sudamericana

Foto: Lance!

A sucessão de títulos de ponta veio no últimos anos. Sob o comando de Tiago Nunes, o Furacão contou com o ímpeto de Pablo e Nikão para engrenar na Copa Sul-Americana de 2018. Após dois empates em 1 a 1 com o Junior Barranquilla, o troféu veio nos pênaltis.

O ano seguinte teve também sabor de ineditismo. Com o equilíbrio de Bruno Guimarães e um ataque formado por Nikão, Rony e Marco Ruben, os rubro-negros levaram a melhor sobre o Internacional duas vezes: 1 a 0 na Arena da Baixada e um 2 a 1 em pleno Beira-Rio.

O ano de 2021 já rendeu um bicampeonato para a equipe da Arena da Baixada. Em final acirrada no Estádio Centenário, o Athletico viu o histórico Nikão sacramentar o triunfo por 1 a 0 sobre o RB Bragantino, em uma decisão “à brasileira”.

O jogador de 29 anos, que iniciou carreira no Atlético-MG e antes de chegar a Curitiba em 2015 rodou por clubes como Bahia, Ponte Preta e América-MG, mostra outro potencial: o de elevar a competitividade dos atletas que vestem sua camisa.

NÍVEL ATÉ… MUNDIAL?

Especialista de gestão de finanças e marketing, Amir Somoggi aponta que o valor do Furacão já deixou para trás outros clubes tradicionais do Brasil.

– Seguramente, o Athletico já ocupa o espaço que é dele por direito. A gestão dele nos últimos 20 anos focando na construção de ativos, no CT, no estádio, a gestão de futebol buscando não gastar mais do que arrecada, acumulando lucro, produzindo e vendendo jogadores, está no lugar que já foi do Vasco ou do Botafogo. Hoje, o Furacão é uma camisa forte em uma gestão moderna – assegurou.

Um estudo da Big Data Sports detalhou que o Athletico gerou R$ 328,9 milhões em receitas em 2020, deixando para trás clubes como Fluminense (R$ 194,3 milhões), Vasco (R$ 191,6 milhões), Botafogo (R$ 166,4, milhões) e Cruzeiro (R$ 123,3 milhões).

Após a conquista da Copa Sul-Americana, o mandatário Mário Celso Petraglia fez a promessa de levar o Athletico ao título do Mundial de Clubes em 2024. Sócio da Sports Value, Somoggi aponta alguns obstáculos para o clube driblar.

– As competições com os clubes que mais gastam, como Flamengo, Palmeiras, Atlético-MG, São Paulo, Corinthians, tende a ser cada vez mais dura. Acredito que o Athletico terá de aumentar os custos. Este modelo do Furacão dependerá de mais receita. Ele não tem tantas receitas operacionais como o Flamengo no estádio. O grande desafio é crescer em receita para poder gastar mais de forma equilibrada – e alertou:

– Caso resolva gastar da mesma forma que os outros para tentar ganhar os títulos, como aconteceu com o Atlético-MG, o Athletico-PR vai fugir do seu DNA de boa gestão. O seu grande desafio é realmente investir mais em marketing, a internacionalização da marca, para crescer na receita e gastar com equilíbrio – completou.

O consultor de gestão e finanças do esporte Cesar Grafietti também fala sobre o risco de cair em armadilhas.

– Competições de mata-mata têm sempre a possibilidade de alguém teoricamente mais frágil vencer. Mas entrando no grande erro dos dirigentes, a expectativa jamais pode ser tão alta. Vencer a Libertadores é possível? Sim, vide o fato de vencer e chegar à final da Copa do Brasil, tão complicada quando a Libertadores. Mas não é óbvio para nenhum clube, então planejar isso parece exagerado. Mundial, então, nem pensar – apontou.

Para Grafietti, há outro aspecto na declaração de Petraglia.

– É importante entender a mensagem: ele quer o clube competindo em grande nível, e em competições eliminatórias, onde a diferença financeira tem menos impacto que numa competição longa como o Brasileiro – disse.

Enquanto o Mundial de Clubes é um sonho distante, o Athletico-PR volta inteiramente suas atenções para a final da Copa do Brasil contra o Atlético-MG.

Da redação/ Com Portal Terra

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