Inpe: taxa de desmatamento cai 21,8% na Amazônia e 9,2% no Pantanal

Publicado em quinta-feira, maio 9, 2024 · Comentar 


A área desmatada na Amazônia foi de 9.064 km² entre agosto de 2022 e julho de 2023 (o equivalente ao tamanho da República de Chipre, no Mediterrâneo), de acordo com números oficiais consolidados do governo federal divulgados nesta quarta-feira (08) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Quando comparado ao último levantamento do Inpe, houve uma queda de 21,8% do total da área desmatada entre as duas temporadas, mostram os dados consolidados do Inpe. Na edição anterior, esse número foi de 11.594 km², entre agosto de 2021 e julho de 2022.

Os números são do relatório anual do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), considerado o mais preciso para medir as taxas anuais. Ele é diferente do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), que mostra os alertas mensais – e que já sinalizava quedas na devastação nos últimos meses.

Nos últimos 20 anos, o índice do Prodes atingiu sua marca mais alta em 2004, quando 27,7 mil km² foram desmatados (veja gráfico abaixo).

Porém, depois disso, quando levado em consideração o período seguinte, houve uma queda constante nesses números. E assim a temporada com menor desmatamento na Amazônia em toda a série histórica do Prodes foi em 2012, com 4,5 mil km².

Amazônia: área desmatada em km²

Taxa de desmate é medida entre agosto de um ano até julho do seguinte

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Mas a situação se inverteu novamente em 2015, e a área desmatada aumentou, chegando a 10.129 km², em 2019; 10.851 km², em 2020; e 13 mil km², em 2021.

O número só voltou a cair no último ano da gestão de Jair Bolsonaro (PL), atingindo a marca de 11.594 km². Bolsonaro, porém, assumiu o governo com uma taxa inicial de desmatamento em torno de 7.500 km², a qual não apresentou reduções quando comparada com o índice do começo do seu mandato.

Há um grande resultado em relação a Amazônia, confirmando os dados de queda [de 2023]. E isso é fruto de uma ação de política pública com base em evidência e estratégias. Esse resultado de queda é a combinação de ações de fiscalização e também as ações voltadas para os eixos do plano de combate ao desmatamento, como por exemplo aporte de recursos para fazer uma abordagem positiva, criando alternativas de base sustentável.
— Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, em fala durante uma coletiva de imprensa em Brasília nesta quarta (08).

Ana Clis Ferreira, porta-voz da frente de Florestas do Greenpeace Brasil, diz que a diminuição da taxa de desmatamento na Amazônia em 2023 é resultado da reinstauração de medidas de fiscalização e controle ambiental a nível federal no ano anterior. Entretanto, ela adverte que tais medidas estiveram inativas durante a maior parte de 2024.

“Se considerarmos o atual contexto de paralisação dos servidores do Ibama e ICMBio há mais de 100 dias, em razão de melhores condições de trabalho, a tendência de queda observada no ano passado poderá mudar de direção. Não adianta comemorar a redução do desmatamento na Amazônia no passado, ao mesmo tempo em que o governo ignora reivindicações trabalhistas de quem está na linha de frente do combate à devastação da floresta”, analisa Ferreira.

Pantanal

 

No Pantanal, uma das maiores áreas úmidas contínuas da Terra, que enfrentou uma temporada de incêndios devastadora entre 2019 e 2021, deixando marcas profundas, o Prodes revelou uma queda de 9,2% no desmatamento em relação a 2022.

Em 2023 (agosto de 2022 a julho de 2023), foram desmatados 723,13 km², enquanto em 2022 (agosto de 2021 a julho de 2022) esse número foi de 789,41 km² (veja gráfico abaixo).

Apesar da recente diminuição, especialistas ouvidos pelo g1 alertam que este ano o desmatamento na região – um fenômeno associado às queimadas – está aumentando novamente. E a perspectiva para os próximos meses não é das melhores.

Prodes Pantanal
Bioma registrou uma queda 9,2% em relação a 2022

Comparativamente a outros biomas brasileiros, o desmatamento no Pantanal tem uma trajetória marcada por altos e baixos.

Entre 2001 e 2014, os dados oficiais do Inpe feitos pelo Prodes apontaram uma redução significativa, de mais de 60% do seu desmatamento anual, caindo de 1.000 km² para 370 km².

No entanto, desde 2014, o que vem sendo observado é um aumento expressivo nessa taxa.

No Pantanal, os dados desse ano são positivos porque temos uma queda de 9% do desmatamento que foi registrado pelo Inpe, mas essa queda se inscreve numa trajetória de aumento, temos nos últimos anos um aumento do desmatamento do Pantanal. Então a situação continua preocupante, inclusive os patamares de desmatamento do bioma.
— Daniel Silva, especialista em Conservação do WWF-Brasil.

Para contornar essa tendência crescente, em agosto do ano passado o Inpe decidiu lançar o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) do Pantanal, um monitoramento via satélite da supressão e degradação da vegetação pantaneira que tem como objetivo auxiliar a elaboração de políticas públicas contra o desmate de forma mais célere.

O serviço é baseado nas iniciativas de sucesso que são o Deter Cerrado e Amazônia, que monitoram, como o próprio nome diz, quase em tempo real o desmatamento e alterações da cobertura florestal nesses biomas, facilitando assim uma rápida articulação interministerial e entre órgãos governamentais para implementar medidas eficazes de proteção ambiental e combate à degradação.

O sistema produz sinais diários de alteração na cobertura florestal para áreas maiores que 3 hectares (0,03 km²), tanto para áreas totalmente desmatadas como para aquelas em processo de degradação florestal (exploração de madeira, mineração, queimadas e outras).

Diferente do Prodes, porém, o Deter não é o dado oficial de desmatamento, mas alerta sobre onde o problema está acontecendo.

Deter Cerrado

 

Durante a coletiva de imprensa, realizada nesta quarta-feira (08) em Brasília, o governo federal também antecipou os indicativos do Deter Cerrado. Os dados já apontam para avanço do desmatamento no bioma.

“Historicamente, a política ambiental no Cerrado possibilita um crescente aumento nos dados de desmatamento no bioma. Planos de ações ambientais precisam ser implementados no Cerrado, assim como é preciso fortalecer a fiscalização ambiental na região”, diz Ferreira.

De agosto do ano passado até abril de 2024, houve um aumento de 27% nos alertas de desmatamento ilegal quando comparado ao mesmo período do ano passado. Ao todo, já são 4.869 km² desmatados, enquanto em 2023, no mesmo período, o valor era de 3.537 km². Os estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia são os estados com maiores indicadores de área desmatada.

“Nesse momento queremos alcançar resultados positivos também para o Cerrado e por isso que fizemos o plano para o Cerrado, customizado para o Cerrado. A destruição já causa diminuição da vazão dos principais rios, retardando o regime de chuva e causando prejuízos sociais, econômicos e ambientais. Temos que nos adaptar para fazer frente as mudanças climáticas”, disse a ministra, Marina Silva.

Redação/G1

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