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Essa é a primeira vez que uma nordestina chega ao topo da Sociedade Brasileira de Computação. E é a segunda mulher no pais que chega ao cargo de presidente. Thais reberá o posto do atual presidente da SBC , professor Lisandro Zambenedetti Granville, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A SBC que está completando 45 anos foi fundada em julho de 1978, na cidade de Porto Alegre.
Thais Vasconcelos Batista, professora Titular do Departamento de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, chega a presidência da SBC em solenidade marcada para o dia 6 de agosto próximo, que realizar em João Pessoa o Congresso da Sociedade Brasileira de Computação (CSBC), que há 45 anos escolheu a Paraíba, para realização do conclave.
O CSBC é conhecido nacionalmente como “um congresso de grande porte, composto por 35 eventos, que discute temas variados, extremamente atuais e relevantes para a Sociedade, incluindo a convergência entre o mundo físico e digital, os desafios da regulação do desenvolvimento e uso das tecnologias e serviços digitais, a aplicação da lei de proteção a dados, o uso da inteligência artificial em várias áreas de conhecimento como finanças, saúde, educação, meio-ambiente, entre outras”, disse Thais Batista.
O mega evento vai reunir diversas personalidades nacionais importantes em solo paraibano, durante a semana de 6 a 11 de agosto, sendo representantes dos ministério da Ciência e Tecnologia, da Justiça e Segurança Pública, do Comitê Gestor da Internet no Brasil, do Google, do Porto Digital, entre outros.
O MaisPB conversou com a professora Thais Batista, que tem um vasto currículo, premiações, atuações profissionais nacionais, é autora de três livros técnicos da área de Computação, todos em inglês, publicados numa editora internacional, além muitos artigos técnicos publicados em revistas internacionais da área. É filha do saudoso escritor e intelectual paraibano Juarez Batista e Lygia de Vasconcelos Batista. Leiam a entrevista na integra e saiba mais sobre uma jovem paraibana de destaque internacional. Thais aceitou integrar o time de colunistas do MaisPB, um presente para nossos leitores.
MaisPB – Você vai assumir em agosto a presidência da Sociedade Brasileira de Computação, o que isso representa em sua carreira profissional?
Thais Batista – A Sociedade Brasileira de Computação (SBC) é a maior sociedade científica da área de Computação da América Latina e sempre teve um papel importante na minha carreira. Esse é um momento especial, a SBC está completando 45 anos de muito trabalho em prol da Computação no Brasil. A presidência da SBC é o ápice da minha carreira, um reconhecimento Nacional que muito me orgulha. Ao mesmo tempo, tenho consciência que a responsabilidade é enorme e enfrentaria uma variada gama de desafios. A Computação é uma área transversal a todas as áreas do conhecimento, alicerce de todo o processo de surgimento e consolidação de tecnologias disruptivas em diversos setores. A nova gestão da SBC herda uma gama de conquistas consolidadas pelas gestões anteriores e irá enfrentar novos desafios de uma sociedade altamente conectada em uma era onde se presencia a convergência do mundo físico e do digital, o uso massivo de redes sociais, a disseminação de grandes volumes de informações e a proliferação de soluções de inteligência artificial. As demandas desse contexto são complexas e envolvem soluções de hardware e software com preocupações relacionadas à sustentabilidade, proteção a dados, governança e ética.
MaisPB – A solenidade será em João Pessoa, no Teatro Pedra do Reino, na cidade que você nasceu, tão significativo evento, tem o apoio do governo do Estado e da prefeitura?
Thais Batista – A solenidade será no contexto do Congresso da Sociedade Brasileira de Computação (CSBC), que após 45 anos está sendo sediado, pela primeira vez, em João Pessoa. O CSBC um congresso de grande porte, composto por 35 eventos, que discute temas variados, extremamente atuais e relevantes para a Sociedade, incluindo a convergência entre o mundo físico e digital, os desafios da regulação do desenvolvimento e uso das tecnologias e serviços digitais, a aplicação da lei de proteção a dados, o uso da inteligência artificial em várias áreas de conhecimento como finanças, saúde, educação, meio-ambiente, entre outras. Diversas personalidades nacionais importantes estarão no CSBC durante a semana de 6 a 11 de agosto, tais como representantes do ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério da Justiça e Segurança Pública, do Comitê Gestor da Internet no Brasil, do Google, do Porto Digital, entre outros. Uma oportunidade imperdível para participação expressiva da prefeitura e do governo do Estado que, infelizmente, parece não ter percebido a relevância do Congresso e o quão ele pode ser um divisor de águas para o Estado.
MaisPB – E a interação do Governo e da Prefeitura, com evento né?
Thais Batista – Recentemente foi aprovado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) um anexo à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que traz um rol de competências e habilidades de Computação que devem ser oferecidas pelas redes escolares. O texto aprovado pelo CNE teve participação e protagonismo da SBC. O CSBC está oferecendo um curso sobre como adequar os currículos escolares para incluir essa nova realidade de ter Computação no ensino básico. O curso visa capacitar os professores e orientar como implantar essa transformação, que certamente trará inúmeros benefícios para a formação do estudante brasileiro. No ano passado esse curso foi ofertado no CSBC que aconteceu em Niterói e houve uma participação massiva da prefeitura e governo. Na Paraíba, surpreendentemente, não houve o mesmo interesse por parte dos entes governamentais.
MaisPB – Essa é a primeira vez que uma mulher chega a presidência da SBC (na região Nordeste) vamos falar dessa ascensão, já bastante comum no universo feminino?
Thais Batista – A única presidente que a SBC teve foi do Sudeste e saiu da presidência a 16 anos atrás (em 2007). Depois de 16 anos, uma mulher vai novamente presidir a Sociedade Brasileira de Computação. Eu nunca imaginaria que uma mulher Nordestina poderia chegar à presidência de uma Sociedade de uma área majoritariamente composta por homens. A ascensão feminina é uma realidade no Brasil e no mundo, mas a área de Computação vem enfrentando uma contínua queda de interesse das mulheres e espero que o fato de ter uma mulher na presidência da SBC estimule o público feminino a ingressar em carreiras da área tecnológica. Há um mito que Computação não é para mulheres e que elas não conseguem evoluir na carreira. A SBC vem trabalhando, através de vários programas, para mudar essa visão equivocada.
MaisPB – Eu li que foi na base do voto e que a você recebeu 746 do quadro de 791 votantes – legal né, saber que seu nome foi vitorioso por centenas de votos?
Thais Batista – Sim, fiquei muito feliz com a votação expressiva na nossa chapa. Apesar da SBC ter um grande número de associados, apenas os sócios efetivos podem votar e ter o apoio deles é muito importante para dar legitimidade à nossa gestão.
MaisPB – Como aconteceu da menina Thais se envolver com o mundo da computação, da tecnologia, essa estupenda plataforma que mudou o mundo?
Thais Batista – As minhas disciplinas favoritas durante a época da escola eram matemática e física e eu sempre quis fazer um curso da área de exatas que explorasse o raciocínio lógico. Quando eu fui fazer vestibular, o curso de Computação era recém-criado na UFPB e eu optei por Engenharia Civil, mas cursei somente 1 ano e fiz novo vestibular para Computação. Várias peculiaridades me encantam na Computação, como o fato de ser uma área transversal a todas as áreas do conhecimento e um meio para a solução de problemas da sociedade, bem como uma área que tem uma evolução extremamente rápida e exige que o profissional esteja em constante aprendizado e seja capaz de gerar inovação. Eu gosto de estar sempre estudando, pesquisando e instigando os meus alunos a evoluir e produzir inovação.
MaisPB – Thais é coordenadora do Núcleo Integrador de Pesquisa e Inovação em Engenharia de Sofware do Instituto Metrópole Digital da UFRN. Vamos falar sobre esse trabalho?
Thais Batista – O Núcleo Integrador de Pesquisa e Inovação em Engenharia de Software (SETE) do Instituto Metrópole Digital (IMD) da UFRN tem como missão dar suporte ao desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa, extensão tecnológica e inovação na área de Engenharia de Software. O SETE é composto por vários professores e desenvolve uma gama variada de ações, incluindo residências em TI com vários órgãos (atualmente são 9 residências), projetos de desenvolvimento, pesquisa e inovação com diferentes empresas nacionais e multinacionais.
MaisPB – Como é seu trabalho em sala de aula no Departamento de Informática e Matemática Aplicada na UFRN?
Thais Batista – Eu leciono disciplinas para a graduação dos cursos relacionados com Computação da UFRN e também na pós-graduação (mestrado e doutorado) em Sistemas e Computação. Além disso, coordeno uma residência em TI com a Justiça Federal do Rio Grande do Norte (JFRN). Tenho muita alegria em transmitir conhecimentos para os alunos e também aprendo demais com eles. É um processo de aprendizado mútuo. Grande parte do meu trabalho envolve a orientação de alunos de iniciação científica, de mestrado e de doutorado. O processo de orientação é muito gratificante e traz a satisfação de ver os alunos evoluírem. É extremamente gratificante ver ex-alunos que são bem sucedidos e estão em vários lugares do mundo: alguns são professores na UFRN, outros de outras universidades do Brasil e outros que trabalham em grandes empresas no Brasil e também no exterior.
MaisPB – Qual a satisfação de conviver e trabalhar num departamento da UFRN, com toda evolução e modernização, numa das universidade mais avançadas do Brasil? Como você ver o interesse do alunado?
Thais Batista – Ingressei na UFRN em 1996 e de lá pra cá vi a Universidade crescer de uma forma surpreendente, tornando-se referência em cursos de Tecnologia da Informação (TI), tanto de graduação quanto de pós-graduação. Hoje a UFRN tem vários cursos de graduação, bem como diversas pós-graduações na área de TI, todos muito bem conceituados. Há também um núcleo de inovação no Instituto Metrópole Digital (IMD) e um parque tecnológico integrado à UFRN que congrega várias empresas. Ou seja, a UFRN nos proporciona um ecossistema que funciona muito bem e cria contexto motivador, dinâmico e vibrante. Esse cenário contagia professores e atrai muitos alunos para a área. Os alunos da área de TI têm bastante oportunidades de trabalhar em projetos de inovação acadêmicos e também com várias empresas que têm cooperação com a UFRN.
MaisPB – Se a gente mudasse de assunto e permanecesse na mesma rota – como a você analisaria os prós e os contra da Internet e das redes sociais?
Thais Batista – Esse é um tópico muito importante que podemos conversar muitas horas sobre ele, mas falarei aqui resumidamente. A internet foi uma das maiores revoluções da era atual e possibilitou o surgimento das redes sociais que cresceram de uma forma imprevisível. Há vários prós e contras nesse cenário revolucionário que viabilizou diversas tecnologias disruptivas que mudaram a vida da sociedade. Entre os maiores benefícios estão a possibilidade de comunicação imediata entre pessoas, de acesso a informações disponíveis em qualquer parte do mundo, bem como o fato de trazer celeridade para serviços de várias áreas. Ao mesmo tempo, esse cenário fascinante acarretou problemas graves cujas soluções não são triviais. De uma forma bem simplificada, podemos citar a proliferação de diversos tipos de crimes cibernéticos que usam a internet e as redes sociais para a realização de atividades ilícitas. A medicina também reporta o impacto negativo na saúde relacionado ao uso excessivo da internet e das redes sociais. São vários benefícios e problemas que terei o prazer de conversar com você em um debate especificamente sobre esse tema.
MaisPB – Com doutorado em Ciência da Computação, você não pensa em escrever livros, fazer publicações em revistas especificas ou mostrar sua arte aqui no MaisPB, onde temos uma página de Opinião e que seria acolhida com muita honra?
Thais Batista – Eu escrevi 3 livros técnicos da área de Computação, todos em inglês, que foram publicados por uma editora internacional. Também tenho muitos artigos técnicos publicados em revistas internacionais da área. Apesar dos meus textos terem um perfil fortemente técnico, seria uma honra partilhar opiniões ligadas à Computação no MaisPB.
MaisPB – Seu pai Juarez Batista era um intelectual, um escritor, um educador que deixou sua marca em diversos segmentos sociais e culturais e ainda hoje os alunos daquela época e o público geral elevam sua memória. Você sendo a caçula da família, poderia comentar sobre ele e sua mãe Lygia? O conhecimento que veio de casa?
Thais Batista – Meus pais são as inspirações para a minha vida, exemplos de pessoas inteligentes e que dedicaram uma vida inteira ao trabalho. Na minha infância o cenário em que eu vivia era com meu pai trabalhando muito como professor e advogado e com minha mãe sendo estudante de Direito extremamente dedicada (foi aluna laureada) e que ainda trabalhava com o meu pai no escritório. Deles herdei o apreço pela leitura e escrita e também a vontade de transmitir o conhecimento. Eu fui criada em um celeiro de leitura, uma casa com uma sala enorme coberta de estantes com livros, nos proporcionando um ambiente que nos incentivava a ler. Na infância e adolescência li todos os clássicos da literatura brasileira. Esse ambiente teve grande influência na minha escolha por seguir a área acadêmica e me dedicar ao ensino e pesquisa.
MaisPB – Você e seus marido formaram uma família, com duas filhas, elas trabalham em qual mercado?
Thais Batista – Meu marido, Jair, também é paraibano e professor da UFRN da área de Computação. A nossa filha mais velha, Larissa, seguiu a nossa área e é Engenharia de Software. Em 2015 ela foi fazer mestrado na Europa e lá permanece até hoje. Atualmente, ela trabalha na Finlândia como Engenheira de Software em uma empresa. A nossa filha mais nova, Cristina, é Arquiteta e Urbanista, trabalha em Natal e também faz projetos em João Pessoa.
MaisPB – Além da família, você tem muitas amizades em João Pessoa, que se fortaleceram desde a infância no Colégio João XIII. Poderia falar dessa simbiose humana?
Thais Batista –Muitas amizades foram construídas na infância no João XXIII permanecem até hoje. Grandes amigas me apoiaram durante todo o meu processo de formação profissional. Não poderia deixar de expressar todo o meu agradecimento especial a duas amigas de infância (Lourdinha Freitas e Georgiana Farias) que sempre estiveram por perto e me apoiaram durante todo o meu curso de mestrado e doutorado no Rio de Janeiro. As queridíssimas Lourdinha Freitas e sua maravilhosa mãe Maria Emília que, mesmo longe, se faziam perto, davam apoio incondicional, preocupavam-se comigo e torciam por mim em todas as horas. Minha queridíssima Georgiana Farias, também morando na cidade maravilhosa durante os anos em que lá estive, a amiga de infância que estava ao lado, sempre em sintonia, cuidando de nós. Elas são pessoas que habitam meu coração, amizades de uma vida e para toda a vida!
Quem é Thais Batista
Thais Vasconcelos Batista é professora Titular do Departamento de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde ingressou em 1996. Até Julho de 2023 orientou 15 teses de doutorado e 35 dissertações de mestrado, publicou 3 livros internacionais e mais de 200 artigos em periódicos e eventos na área de Computação.
Formação Acadêmica:
Atuação Profissional:
Prêmios
Redação/Mais PB
