Em Paris, Lula diz que combate à desigualdade deve ter ‘tanta prioridade’ quanto questão climática

Publicado em sexta-feira, junho 23, 2023 · Comentar 


Em discurso em cúpula, presidente também fez críticas ao Fundo Monetário Internacional, e afirmou que instituições não podem continuar ‘funcionando de forma equivocada’.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta sexta-feira (23) que o combate à desigualdade deve ter tanta prioridade quanto a questão climática. A declaração foi em discurso na Cúpula sobre Novo Pacto de Financiamento Global, em Paris, na França.

Ao lado do presidente francês, Emmanuel Macron, Lula disse não ser “possível” que, “em um reunião entre presidentes de países importantes, a palavra desigualdade não apareça”.

“Eu vim aqui para falar que, junto com a questão climática, presidente Macron, nós temos que colocar a questão da desigualdade mundial. Não é possível que numa reunião entre presidentes de países importantes, a palavra desigualdade não apareça. A desigualdade salarial, a desigualdade de raça, a desigualdade de gênero, a desigualdade na educação, a desigualdade na saúde”, disse.

“Ou seja, nós estamos num mundo cada vez mais desigual e, cada vez mais, a riqueza está concentrada na mão de menos gente. E a pobreza concentrada na mão de mais gente. Se nós não discutirmos essa questão da desigualdade, e se a gente não colocar isso com tanta prioridade quanto a questão climática, ou seja, a gente pode ter um clima muito bom e o povo continuar morrendo de fome em vários países do mundo.”

Lula citou feitos de seus dois primeiros mandatos, entre 2003 e 2010, e dos de Dilma Rousseff (PT), entre 2011 e 2016, e disse que, recentemente, o Brasil “andou para trás, como muitos outros países andaram para trás”.

“Depende do governo que é eleito, depende do governo que tem a preocupação com a questão social”, disse.

Críticas ao FMI

No discurso, o presidente brasileiro também fez críticas ao Fundo Monetário Internacional (FMI), organização criada após a Segunda Guerra para reestruturar as economias de países pós-conflito. Hoje, a instituição oferece empréstimos a nações em dificuldade financeira.

Para Lula, “aquilo que foi criado depois da Segunda Guerra Mundial, as instituições [..] não funcionam mais, e não atendem mais as aspirações e nem os interesses da sociedade”.

“Vamos ter claro que o Banco Mundial deixa muito a desejar naquilo que o mundo aspira do Banco Mundial. Vamos deixar claro que o FMI deixa muito a desejar naquilo que as pessoas esperam do FMI”, disse.

O presidente citou empréstimos feitos pela Argentina, e disse que o FMI agiu de forma “irresponsável”, e que essas instituições “não podem continuar” atuando de “forma equivocada”.

“E muitas vezes os bancos emprestam dinheiro e esse dinheiro emprestado é o resultado da falência do Estado. É o que estamos vendo na Argentina hoje, Argentina, da forma mais irresponsável do mundo, o FMI emprestou 40 bilhões de dólares, 44 bilhões de dólares, para um senhor que era presidente. Não se sabe o que ele fez com o dinheiro. e a Argentina hoje está passando uma situação econômica muito difícil, porque não tem dólar nem para pagar FMI.”

Lula é aliado do atual presidente da Argentina, Alberto Fernández, e contrário ao antecessor dele, Maurício Macri, que governo o país entre 2015 e 2019.

O presidente brasileiro tem feito esforços para ajudar o governo vizinho e Lula, inclusive, tem um encontro com Fernández em Brasília, na próxima segunda-feira (26).

Esta sexta-feira é o último dia de compromissos de Lula na Europa, na terceira viagem que faz ao continente desde o início deste mandato. O presidente também participou de um almoço com o presidente francês, Emmanuel Macron.

A agenda de Lula na viagem foi extensa. Na quinta (22), discursou, a convite da banda Coldplay, no evento “Power Our Planet”, que reuniu apresentações artísticas e pronunciamentos de líderes mundiais.

À ocasião, disse que os países ricos têm uma “dívida histórica” e devem financiar a preservação de florestas.

No pronunciamento, Lula repetiu o compromisso de zerar o desmatamento na Amazônia até 2030, e disse que fará “todo e qualquer esforço” para “manter a floresta em pé”.

Redação/G1

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