Serra da Raiz: Uma administração sem legitimidade

Publicado em quarta-feira, fevereiro 14, 2018 · Comentar 


Existem sinais que não podem ser ignorados. É o caso da deteriorização política do grupo que há anos está no poder na cidade de Serra da Raiz.  A incapacidade de cumprir minimamente com os compromissos públicos já se tornou tão escancarada que não existem motivos lógicos para a continuação da atual administração.  O desgaste é evidente. Os representantes das velhas políticas, na esfera municipal, são responsáveis diretos pela continuidade da lógica senhoril, escravocrata e elitista. Sem compromissos com o desenvolvimento social perpetuam, por meio de suas práticas, a desigualdade social e a miséria, não apenas econômica, mas generalizada nos diferentes aspectos de nossas vidas. Mais do que isto, empurram inúmeras pessoas para a subcidadania. Não podemos mais acreditar no mito da falta de conexões entre a esfera municipal e nacional. Tudo está em conexão, tudo faz parte do grande mecanismo responsável por manter o poder econômico e simbólico nas mãos de poucas pessoas.

O poder legislativo local é um dos principais responsáveis pela manutenção desta ordem. Eleitos sem autonomia e sem o mínimo de preparo político obedecem cegamente aos desígnios do poder executivo. A ausência de projetos que beneficiem a população é mascarada por meio de discussões inócuas e com projetos que não contribuem em nada para o desenvolvimento social da cidade. Em contrapartida a população utiliza como antídoto a indiferença com as discussões da câmara, falta de interesse que é produto da monotonia política dos vereadores. Dotados de uma incapacidade crônica para a crítica social parecem viver os seus próprios contos de fadas. E conto de fada aqui não significa um mundo abstrato, mas um mundo destorcido pelos próprios interesses.

Diante do nosso quadro de relações desiguais o acesso ao ensino superior é uma das principais portas de fuga da subcidadania na qual esta mergulhada a maioria dos jovens pobres. Este maior acesso à universidade é resultado das políticas de inclusão lançadas durante os governos de Lula (PT), algumas delas colocadas em prática pelo então ministro da educação Fernando Haddad. A oportunidade de ingresso das pessoas economicamente pobres em uma universidade publica é ofuscada pela administração local. Apesar das balelas publicadas em revistas de divulgação, o incentivo é nulo, prova disto é o número irrisório de jovens na universidade (Deve-se salientar que este número vem crescendo, mas que mesmo assim é considerado baixo em comparação com outros municípios). Além disso, um acordo feito entre a prefeitura de Serra da Raiz e Duas Estradas faz com que os universitários e estudantes de cursinhos de Serra da Raiz dependam do transporte público do município vizinho (muitas vezes ficando até altas horas esperando o carro em Duas Estradas). Além disso os alunos que recebem a ‘’bolsa universitária’’ se queixam da irregularidade no recebimento do beneficio.

Os profetas do terror que proclamam que todos os políticos são iguais, que sempre ‘’vai ser assim’’, que ‘’nunca vai mudar’’ não são mais escutados com tanta convicção pela população. Por mais que haja silêncio na população não existe bestialidade. As pessoas entendem muito bem a diferença entre políticos e políticos. Já conhecem muito bem os velhos discursos e as velhas práticas. O discurso do ‘’tudo igual’’ se ajusta perfeitamente aos interesses de políticos já manchados com dinheiro público. Como Jessé Sousa bem salientou no seu livro ‘’A elite do atraso’’ – Tudo que foi feito por gente também pode ser refeito por gente – não existem estruturas imutáveis na história humana. Não é preciso ser nenhum analista social para perceber que os governantes locais não são divindades que vão burlar o tempo. Como afirmei anteriormente, o desgaste é evidente. Em 1988 nas eleições municipais Antônio Cavalcanti (Hoje professor da Universidade Estadual da Paraíba) conseguiu 76 votos (4,70 % do eleitorado municipal). O que poderia ser um símbolo da chacota entra para história política de Serra da Raiz como um símbolo de resistência. Resistência aos que acreditam na Irreversibilidade das coisas e que desacreditam na transformação social.

Júlio Cesar Miguel 
Acadêmico de História
Contato com a coluna:  julio543543@outlook.com

 

Comentários