Advogada aposentada de 78 anos leva uma vida ‘fora da caixinha’ ao dar aulas, estudar e organizar festas para alunos

Publicado em sábado, maio 13, 2023 · Comentar 


A vida social da idosa Maria Ede Catani Antunes, de 78 anos, é agitada. — Foto: Arquivo Pessoal

Maria Ede Catani Antunes não se deixa abalar pelos comentários que costuma ouvir. Aos 78 anos, a advogada aposentada se divide entre a sala de aula, seja como professora ou estudante, e viver “loucamente”. “Eu vivo a minha vida numa boa, eu sou mais eu”.

Idosa, baladeira e estudiosa, ela participa de um curso para a Terceira Idade na Universidade Católica de Santos, no litoral de São Paulo, há uma década. Ela contou ao g1, nesta quarta-feira (26), que foi esse período que a fez abrir a mente e “sair da caixinha”.

Também conhecida como Dedé, Maria Ede ainda cursou licenciatura em Filosofia e Sociologia há aproximadamente sete anos, além de diversos outros cursos on-line que fez durante a pandemia. “Acho que isso me agregou outra visão de mundo, [de como] ver as pessoas ao meu redor. Sou bastante aberta a aprender e conhecer. Eu aprendi muito aprendendo”, ressalta.

Como estudante e presidente do grêmio estudantil do curso para a Terceira Idade, ela faz questão de auxiliar na mudança de grade curricular para os alunos. Neste semestre, os 25 idosos, que têm mais de 60 anos e participam das aulas, terão as seguintes disciplinas: Psicologia, Plantas Medicinais, Uso Racional de Medicamentos, História Geral [aprenderão sobre a revolução mexicana], Comunicação e Música.

Turma da terceira Idade durante aula em laboratório em uma universidade em Santos, no litoral de São Paulo. — Foto: Arquivo Pessoal

Turma da terceira Idade durante aula em laboratório em uma universidade em Santos, no litoral de São Paulo. — Foto: Arquivo Pessoal

A advogada aposentada ainda dá aulas em outro curso voltado para idosos, porém, na Universidade do Oeste Paulista, no campus de Guarujá (SP). Ela faz questão de ressaltar aos alunos a importância do conhecimento. “Eu falo para a turma: estudem, porque a única coisa que te salva é ter conhecimento”, afirma.

Etarismo, deboche e lamentações

É justamente por estar em constante aprendizado acadêmico que Maria Ede lamentou a situação vivida pela estudante de biomedicina Patrícia Linares, de 44, que foi vítima de etarismo [discriminada pela idade] por três colegas de sala por ser mais velha em uma universidade particular em Bauru, no interior paulista.

“Isso foi inadmissível, não existe limites para o aprendizado, tenho um aluno de 90 anos e ele é altamente participativo. A idade cronológica não quer dizer nada”, ressalta.

Maria Ede Catani Antunes participa do curso para a Terceira Idade na Universidade Católica de Santos há uma década. — Foto: Caroline Melo/ g1 e Arquivo Pessoal

Maria Ede Catani Antunes participa do curso para a Terceira Idade na Universidade Católica de Santos há uma década. — Foto: Caroline Melo/ g1 e Arquivo Pessoal

Vida agitada

A vida social da idosa é agitada. O dia dela começa às 7h30, sempre com uma caminhada pela faixa de areia das praias de São Vicente e Santos, e termina por volta das 1h. Na rotina corrida da idosa estão: as aulas que participa e leciona, os encontros em grupos sociais de idosos, clube do livro, idas ao teatro e o trabalho voluntário no centro espírita que frequenta.

Inclusive, é pela vontade de interagir com novas pessoas que Maria Ede decidiu lecionar em um curso para idosos. “[Isso] me obriga a estudar sempre e a conviver com pessoas diferentes, pegar transporte público, Uber, entre outros”.

Nos corredores das duas universidades, Dedé é sempre parada por funcionários e alunos, todos querendo conversar. É essa simpatia que a faz ser querida pelos colegas de classe.

Idosa, baladeira e estudiosa: Advogada aposentada se divide entre cursos e viver a vida ‘loucamente’ aos 78 anos no litoral de SP — Foto: Arquivo Pessoal

Idosa, baladeira e estudiosa: Advogada aposentada se divide entre cursos e viver a vida ‘loucamente’ aos 78 anos no litoral de SP — Foto: Arquivo Pessoal

Presidente do grêmio estudantil do curso para a Terceira Idade, Maria Ede foca na interação entre alunos e organiza encontros com os amigos em restaurantes e bares, além das “festas” que faz na universidade, como lanches comunitários.

De acordo com ela, depois que os dois filhos saíram de casa resolveu se mudar mudar para o litoral de SP com o falecido marido em busca de mais qualidade de vida. “Meus filhos são tranquilos e eles acham [minha vida] uma loucura. Eu gosto também de chocar [as pessoas]. Isso faz parte da minha personalidade. É para ver se elas acordam”.

Maria Ede Catani Antunes participa do curso para a Terceira Idade em uma universidade de Santos (SP) há uma década. — Foto: Caroline Melo/ g1

Maria Ede Catani Antunes participa do curso para a Terceira Idade em uma universidade de Santos (SP) há uma década. — Foto: Caroline Melo/ g1

Nessa onda de escandalizar as pessoas ao seu redor, Maria Ede decidiu ir à Parada do orgulho LGBTQIA+ em São Paulo no ano passado. Ela convenceu os familiares a irem com ela e ainda acompanhou o trio elétrico, que percorreu a Avenida Paulista. “Tem uma energia fora de série”, disse a idosa, que ressaltou a organização e felicidade do público.

Apesar de ter realizado diversos sonhos na vida, Dedé ainda sonha em fazer a travessia de navio, da Europa para o continente americano.

Maria Ede Catani Antunes não se deixa abalar pelos comentários  que costuma ouvir. — Foto: Arquivo pessoal

Maria Ede Catani Antunes não se deixa abalar pelos comentários que costuma ouvir. — Foto: Arquivo pessoal

Redação/G1 

Comentários