JBS amarga prejuízo de R$ 1,5 bilhão no primeiro trimestre

Publicado em sexta-feira, maio 12, 2023 · Comentar 


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JBS registrou um prejuízo líquido de R$ 1,5 bilhão no primeiro trimestre deste ano, pressionada pelos custos elevados e por gargalos tanto na América do Norte quanto no Brasil. No mesmo período de 2022, a companhia havia obtido lucro de R$ 5,14 bilhões.

Todas as unidades de negócios do grupo encerraram o primeiro trimestre com resultado líquido negativo. Em entrevista ao Valor, o CEO global da empresa, Gilberto Tomazoni, disse que o desempenho nos três primeiros meses deste ano foi um ponto fora da curva e que confia em uma recuperação. Segundo ele, essa melhora já toma forma com o recuo das cotações de grãos usados na alimentação animal, principalmente o milho.

Frigorífico de carne bovina da JBS — Foto: Paulo Whitaker/REUTERS

Frigorífico de carne bovina da JBS — Foto: Paulo Whitaker/REUTERS

O primeiro trimestre não representa o potencial do nosso negócio e nem o que esperamos para este ano. É um resultado excepcional
— Gilberto Tomazoni
.

O executivo ressaltou que a empresa tem tomado as medidas necessárias para reduzir impactos externos sobre os próximos balanços. “Nós já vislumbramos uma recuperação atual das margens”, acrescentou.

No primeiro trimestre, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado caiu 78,6% em comparação com o mesmo período de 2022, para R$ 2,16 bilhões. De acordo com a JBS, os preços dos grãos ainda elevados no mundo afetaram as margens, assim como a sobreoferta de proteínas, principalmente frango e suínos. A margem Ebitda ajustada caiu 8,6 pontos percentuais e encerrou o trimestre em 2,5%.

A receita líquida, por sua vez, recuou 4,6%, para R$ 86,68 bilhões. No primeiro trimestre, 77% das vendas globais da JBS ocorreram nos mercados domésticos em que a companhia atua; as exportações responderam por 23%.

As operações de carne bovina e suína da JBS nos Estados Unidos tiveram participação significativa no prejuízo que o grupo divulgou na noite desta quinta-feira (11/5), afetadas pelo ciclo do gado, que apertou a oferta, e por estoques elevados de carne suína, que reduziram os preços.

O Ebitda ajustado da JBS USA Beef ficou em R$ 115,8 milhões, ou 97,2% a menos do que no mesmo período do ano passado, e a receita caiu 5,6%, para R$ 27,36 bilhões.

No trimestre, as margens de carne bovina na América do Norte sofreram impacto relevante das mudanças nas condições de mercado, com a virada do ciclo do gado, que reduziu a disponibilidade de animais para abate, afirmou a companhia em relatório.

O CFO da JBS, Guilherme Cavalcanti, disse que a virada no ciclo do gado nos EUA já era esperada e que a redução dos preços do milho tende a contribuir para diminuição dos custos no país, já que grande parte da terminação é feita em confinamento.

Na JBS USA Pork, o Ebitda ajustado atingiu R$ 231,7 milhões no primeiro trimestre, ou 81,2% a menos do que no mesmo intervalod e 2022. A receita líquida da unidade, por sua vez, caiu 5,6%, para R$ 9,39 bilhões.

Segundo a empresa, os preços da carne suína no atacado norte-americano caíram aproximadamente 20% no primeiro trimestre, comparado ao intervalo de janeiro a março de 2022. Adicionalmente, os custos dos grãos e mão de obra permaneceram em níveis elevados, pressionando também os resultados.

“Um ponto que vai afetar (positivamente) tanto os EUA quanto o mundo inteiro, é o preço dos grãos”, enfatizou Cavalcanti.

Seara

A unidade de aves e suínos do grupo JBS no Brasil, Seara, obteve uma queda de 76,1% no Ebitda ajustado do primeiro trimestre, ante o mesmo período de 2022, para R$ 147 milhões.

“Na Seara, a gente enfrentou um desafio na queda de preço das exportações, alto custo dos grãos e baixa produtividade na agropecuária”, disse o CEO da JBS.

Em contrapartida, a Seara registrou receita líquida de R$10,3 bilhões, um crescimento de 8,9% em relação ao mesmo período do ano anterior, como resultado vindo do aumento do volume em 7% no ano a ano e do aumento de 2% nos preços médios de venda. Foi a única unidade de negócios da JBS que viu sua receita crescer entre janeiro e março de 2023.

As vendas no mercado doméstico, que responderam por metade da receita da unidade no período, totalizaram R$5,2 bilhões, 13,5% maiores.

Já na exportação, a receita líquida em dólares foi de US$991 milhões, o que representa um aumento de 5,3% em relação ao ano anterior, graças a um crescimento de 11% no volume vendido, já que os preços em dólares foram 5% inferiores na comparação anual.

Para os próximos meses, a perspectiva de uma safra cheia no país e menores despesas com o milho deve favorecer os negócios da companhia.

Segundo Cavalcanti, a estratégia de hedge para compra do cereal não é divulgada, mas ele acredita que será possível notar melhora nas despesas ao longo do segundo trimestre, e resultados mais consolidados na segunda metade do ano.

China

Após uma suspensão temporária de embarques de carne bovina brasileira para a China, que ajudou a pressionar a receita líquida da JBS Brasil no primeiro trimestre, o CEO global do grupo acredita que o cenário é promissor para os próximos meses – seja pela retomada de vendas ao mercado chinês, ou pela flexibilização logística.

De acordo com Tomazoni, a JBS ainda poderá contar com os embarques da proteína produzida na unidade de Mozarlândia (GO), que foi reabilitada neste ano e quase não conseguiu vender devido ao autoembargo do país por um caso atípico de “mal da vaca louca” no Pará, que teve a suspensão de exportações derrubada somente no fim de março.

“A demanda por carne bovina na China cresce em espiral e vai continuar”, comentou em entrevista ao Valor.

Do ponto de vista logístico, o otimismo é pautado em despesas menores com o envio de cargas para a Ásia, sobretudo aos chineses, diante de uma trégua nas medidas restritivas contra a Covid-19.

Redação/Globo Rural 

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