Brasileira é reconhecida entre 16 mulheres que restauram a Terra

Publicado em domingo, março 19, 2023 · Comentar 


Foto: Divulgação

À medida que a humanidade enfrenta uma crise atrás da outra, as mulheres em todo o mundo estão construindo soluções para uma das ameaças mais graves de todas: a mudança climática. Para marcar o Dia Internacional da Mulher instituído pelas Nações Unidas, celebrado em 8 de março, o Global Landscapes Forum (GLF) homenageou 16 mulheres na linha de frente das crises climática e de biodiversidade.

O GLF é uma plataforma global de uso integrado da terra, dedicada a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o Acordo do Clima de Paris. Entre as brasileiras que já foram reconhecidas estão Gisele Bundchen, a cientista Luciana Gatti, Sonia Guajajara e Fe Cortez, que trabalha com a recuperação de resíduos sólidos. Entre líderes globais nos anos anteriores se destacam Jane Goodall, Wanjira Mathai, e Samantha Power. Neste ano, na lista internacional “16 Mulheres que Restauram a Terra 2023”, Maria Amália Souza é a única brasileira.

Essas mulheres excepcionais são as faces da inovação em ciência, tecnologia, arte, políticas públicas, negócios sustentáveis, ativismo ambiental, jornalismo, litígio, financiamento climático, negociações de tratados climáticos internacionais e restauração de ecossistemas de base em todo o mundo.

Para a ambientalista brasileira Maria Amália Souza, as mais importantes florestas tropicais do mundo, as que precisam ser mantidas preservadas por ter condições de minimizar o impacto das mudanças climáticas, estão em países do Sul Global – Amazônia, Bacia do Congo e Indonésia.

“Essas florestas só estão nas condições atuais de preservação até hoje por exclusivo mérito dos povos tradicionais que ali vivem. Ainda assim, a filantropia como um todo deposita bilhões nas mãos de algumas poucas gigantes conservacionistas há décadas, enquanto esses mesmos povos dão suas vidas por esses lugares cotidianamente”, afirma Maria Amália.

Foto: Marcelo Camargo | Agência Brasil

Segundo a ambientalista, a preservação depende do apoio direto aos “verdadeiros guardiões nas suas soluções que comprovadamente funcionam. Fazer esse recurso chegar de forma cuidadosa, eficiente e rápida é a nossa missão… E agora, depois de 18 anos, temos mais do que suficiente evidência de que nossa aposta está correta. Falta o resto do mundo entender isso, e rápido, se queremos deixar algum planeta habitável para as futuras gerações”, completa.

Não são apenas palavras. Maria Amália Souza liderou a criação do primeiro fundo socioambiental da América do Sul, desenvolvido por sulamericanos para sulamericanos. Há décadas ela luta para assegurar financiamento para grupos de base comunitária tradicionais, os verdadeiros guardiões dos importantes biomas da região. Em 2005, criou o Fundo Casa Socioambiental, que tem desenvolvido estratégias para fazer o dinheiro de grandes investidores chegar ao coração da floresta, ou seja, às organizações e comunidades que tradicionalmente vivem e conhecem os biomas e que são fundamentais para a conservação da biodiversidade no planeta, incluindo a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, entre outros.

Quem é Maria Amália Souza

Graduada em Serviços e Desenvolvimento International com foco em Estudos Internacionais de Meio Ambiente pela World College West, na Califórnia, há quase 40 anos, Maria Amália Souza se dedica a desenhar estratégias sistêmicas para assegurar que recursos filantrópicos cheguem aos grupos de base comunitária mais excluídos e vulneráveis. Ela é membro-fundadora da Rede Comuá de Filantropia para Justiça Social e lidera a participação do Fundo Casa Socioambiental em várias coalizões internacionais de fundos/fundações filantrópicas.

Trabalhando em redes capilarizadas e com grande conhecimento sobre o funcionamento da filantropia em vários países, o trabalho de Maria Amália e do Fundo Casa Socioambiental apoia atualmente uma média de 500 projetos por ano. Ao longo de sua história já apoiou mais de 3 mil projetos em 10 países. R$ 62,5 milhões de reais chegando nas mãos de comunidades ribeirinhas, associações de pescadores em regiões afetadas por vazamentos de óleo, grupos de mulheres artesãs, associações de agroecologia, comunidades indígenas, quilombolas, sustentabilidade urbana, soberania alimentar, entre tantas outras formas complementares de aportar recursos para se obter resultados sistêmicos.

Esse trabalho já influenciou a criação e fortalecimento de outros 8 fundos ao redor do mundo, que apoiam a conservação com justiça social de alguns dos mais importantes biomas do planeta. A Alianza Socioambiental Fondos del Sur, idealizada por ela, e composta por 9 fundos socioambientais na América Latina, África e Ásia tem chamado a atenção de grandes fundações filantrópicas globais, fazendo com que milhões de dólares circulem e cheguem nas comunidades para ações efetivas.

“Falta dinheiro na mão dos povos das florestas”, afirma a especialista, juntamente com o dado de que 80% das florestas que ainda estão de pé no planeta se localizam em territórios de povos originários, como reservas indígenas e de comunidades tradicionais. Segundo Maria Amália, é nesses locais – e nessas mãos – que o dinheiro precisa chegar.

O trabalho dela tem atraído grandes corporações do Vale do Silício e as principais fundações filantrópicas como Oak Foundation, Mott Fnd, Gordon and Betty Moore Foundation, Climate and Land Use Alliance ou o Forests People and Climate initiative, que já aprovou US$ 8 milhões nos próximos anos para fortalecer a aliança global dos fundos socioambientais.

“Não são os grandes projetos que fazem a diferença, mas a arte de apoiar múltiplas abordagens complementares de milhares de comunidades dentro dos grandes biomas. Muitas vezes o recurso não chega a quem mais precisa e efetivamente protege o planeta. Nosso desafio é apoiar o máximo de comunidades nessas situações de vulnerabilidade para que assumam o protagonismo e façam o que sempre fizeram: proteger a Amazônia e outros biomas. Agregamos um valor enorme de conhecimento e experiência para estar nessas redes de confiança, que fazem com que o recurso chegue de forma segura”, revela a ambientalista.

“Nosso processo é simplificado. Fazemos chamadas de financiamento e há uma extensiva rede de confiança que espalha a notícia e apoia o processo para que os projetos dos grupos mais remotos e invisíveis cheguem até nós. Assim, chegamos na ponta, em quem realmente faz a diferença no cuidado das florestas e do planeta”, explica.

Para fazer milhões de dólares chegarem a pequenas comunidades e disseminar impacto, o Fundo Casa Socioambiental desenvolveu uma robusta e eficiente sistemática de gerenciamento financeiro, monitoramento e avaliação para os apoios diretos, além de contar com essa poderosa teia de redes de confiança e colaboração.

“São nossos olhos e ouvidos nos territórios, que junto com as ferramentas que desenvolvemos para fortalecer suas capacidades, garantem uma autonomia cada vez maior para esses grupos. Acreditamos que a transformação parte da escuta, e por isso ouvimos os verdadeiros protagonistas de cada causa que abraçamos: aqueles que têm suas vidas diretamente afetadas por qualquer alteração no território que ocupam”, diz a ativista homenageada.

Da Redação
Com Ciclo Vivo

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