O Brasil já garantiu sete medalhas nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020. Após a melhor largada em Olimpíadas na primeira semana, o país segue fazendo história. Nesta quinta-feira, Rebeca Andrade, 22 anos, conquistou a prata na ginástica artística individual feminina, a primeira história das mulheres na modalidade. Já Mayra Aguiar, 29 anos, garantiu seu terceiro bronze em três olimpíadas consecutivas, na categoria até 78kg/100kg. Em comum, as duas mais novas medalhistas do Brasil têm em comum a determinação e uma trajetória de superação após graves lesões que quase as deixaram fora do páreo no Japão. Já o primeiro ouro do Brasil chegou na madrugada desta terça-feira, 27 de julho, nas ondas surfadas pelo potiguar Ítalo Ferreira, 27 anos Assim, os brasileiros somam até agora uma medalha de ouro, três de prata e três de bronze. As duas de prata foram obtidas em uma modalidade que, assim como o surfe, fez sua estreia nestes Jogos Olímpicos de Tóquio 2020: o skate street. Rayssa Leal e Kelvin Hoefler mostraram que o Brasil é uma potência nas quatro rodinhas. Já os outros dois bronzes vieram de esportes nos quais o país já tem tradição: o judô, com Daniel Cargnin, e a natação, com Fernando Scheffer.
O objetivo do Brasil em 2021 é superar seu recorde de medalhas, conquistado na Rio 2016. À época, foram 19 pódios, e o maior número de ouros olímpicos (sete), o que valeu ao país o 13º lugar na classificação geral. A meta é ambiciosa, tendo em vista que em Tóquio a delegação está bem mais reduzida do que nos últimos Jogos: são 301 atletas brasileiros ante 465 em 2016. Além disso, este ano não existe o efeito jogar em casa, que pode ter beneficiado os atletas graças ao apoio da torcida. Aliás, a maioria das competições realizadas na capital japonesa não conta com público nas arquibancadas, uma medida para evitar o recrudescimento da pandemia do novo coronavírus, o que em tese torna as arenas um campo neutro.
Rebeca Andrade entrou para a história olímpica brasileira com a inédita medalha da equipe feminina na ginástica artística. Aos 22 anos, a ginasta de Guarulhos, na Grande São Paulo, subiu ao pódio após um desempenho hercúleo no tablado e uma performance embalada ao som de Baile de favela. “Todos sabem da minha trajetória, o que eu passei. Acho que mesmo se eu não tivesse ganhado a medalha, eu teria feito história, justamente pelo meu processo para chegar até aqui. Não desistam, acreditem no sonho de vocês e sigam firmes”, comemorou, emocionada. Da arquibancada, a norte-americana Simone Biles ―que desistiu de disputar a final para preservar sua saúde mental―vibrou com a conquista de Rebeca, que é fã da campeã olímpica. As duas ainda disputam duas finais na mesma categoria.
Ítalo Ferreira, ouro no surfe – O surfista potiguar de Baía Formosa e 27 anos entrou para a história ao se sagrar o primeiro campeão olímpico na modalidade. A medalha veio na praia de Tsurigasaki, após uma emocionante disputa na final contra o japonês Kanoa Igarashi —que eliminou Gabriel Medina na semifinais. Ferreira mostrou consistência na sua linha, com manobras aéreas e muita velocidade. Durante a final, um susto: sua prancha se partiu na primeira onda. O brasileiro não se abalou, correu para a areia, pegou outra e voltou ao mar. Já campeão, se emocionou em entrevista à TV Globo: “Eu acreditei até o final, treinei muito nos últimos meses, e Deus realizou meu sonho. Posso fazer o que eu amo, ajudar as pessoas, a minha família. Estou sem palavras, só agradecer. É algo que eu sonhei e almejei bastante. Tá aí, meu nome está escrito na história do surfe.”
Rayssa Leal, prata no skate street – Conhecida como a Fadinha do skate, ela fez história no esporte mundial com apenas 13 anos. A prata conquistada na modalidade skate street fez dela a mais jovem medalhista olímpica do Brasil. A jornada das ruas de Imperatriz, no Maranhão, para o segundo lugar no pódio (superada apenas pela japonesa Momiji Nishiya, também de 13 anos) foi marcada por uma comoção entre a torcida brasileira. Desde que um vídeo de Rayssa andando de skate com sete anos de idade vestida de fada azul viralizou, ela chamou a atenção do mundo do esportes e se tornou inspiração para uma geração de mulheres e homens: “Se uma menina de 13 anos vai representar o Brasil hoje, é por causa de mulheres skatistas que me inspiram, que me mostram que uma garota pode tudo.”
Kelvin Hoefler, prata no skate street – Este paulista de Guarujá —que quando criança era obrigado a andar de skate dentro de casa porque sua rua era de terra— foi o primeiro medalhista do Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Aos 27 anos, Hoefler faturou a prata na categoria skate street. “Isso aqui representa o skate brasileiro, a nossa garra e a nossa persistência. Isso aqui não é só meu, é o skate do Brasil que merece isso aqui, merece até mais”, celebrou. O ouro ficou com o japonês Yuto Horigomi, e o americano Jagger Eaton levou a medalha de bronze sob um sol de 40 graus na pista.
Fernando Scheffer, bronze na natação – O atleta de 23 anos ficou em terceiro lugar nos 200 metros livres, conquistando a medalha de bronze nas Olimpíadas em sua primeira participação nos Jogos. O caminho até o pódio não foi fácil para este gaúcho de Canoas: no ano passado, devido à pandemia, seu clube, o Minas Tênis Clube, fechou as portas e ele ficou três meses fora das piscinas. Por isso, o nadador brasileiro teve que recorrer a uma bicicleta ergométrica alugada e a halteres para não deixar o corpo parado. No começo de 2021, com o recrudescimento da crise sanitária, ele e cinco colegas de equipe partiram para um sítio em Minas Gerais de outro nadador. Precisaram treinar num açude.
Bronze na Olimpíada de Londres 2012. Bronze na Rio 2016. E novamente bronze, nos Jogos Olímpicos de Tóquio. A gaúcha Mayra Aguiar, 29 anos, superou uma séria lesão e a sétima cirurgia da carreira e subiu pela terceira vez a um pódio olímpico, após terminar na terceira colocação no judô feminino, categoria até 78kg. “Não aguentava mais fazer cirurgia, ainda mais no momento que vivemos, tive medo, angústia. Mas continuei. Dar o nosso melhor vale a pena. Estou bem emocionada. Muito importante para mim”, disse a atleta, limpando as lágrimas do rosto, nesta quinta-feira.
Daniel Cargnin, bronze no judô – Aos 23 anos este gaúcho de Porto Alegre trouxe a 23ª medalha do judô brasileiro na história dos Jogos Olímpicos para casa. A conquista do bronze na categoria peso meio-leve (até 66 quilos) ocorreu após luta tensa, contra o israelense Baruch Shmailov. Sua caminhada rumo ao pódio foi marcada por lesões em 2020 e até pela covid-19. Dedicou a vitória à mãe: “Acho que a gente sonhou junto isso, e vou ser bem sincero que queria era pegar, ligar para ela e falar que valeu à pena. Quando uma vez estava em um treino, pequeno, voltei chorando porque tinha apanhado muito. Ela falou: ‘não, Dani, vamos comer alguma coisa e amanhã é um novo dia.”
Da redação/ Com El País Brasil