“Fora de cogitação” e “sem nenhum sentido”. Essas foram duas expressões amplamente usadas nesta terça-feira (2) no Ministério da Economia, em Brasília, sobre a pressão feita pelo Centrão para que o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) recrie o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
O ministro da Economia, Paulo Guedes, reagiu às especulações – que estavam bem fortes, principalmente no Congresso -, e afirmou nos bastidores que as tratativas eram “fake news”.
No Palácio do Planalto, auxiliares do presidente, que admitiam que a recriação da pasta estava na conta a ser paga ao Centrão pela campanha vitoriosa de Arthur Lira (PP-AL), baixaram o tom diante da resistência de Guedes e afirmaram que Bolsonaro estaria “pensando no assunto”. O tema deve ser um dos abordados no primeiro encontro entre Bolsonaro e o novo presidente da Câmara, que acontece nessa quarta-feira (3).
Na Economia, as reações contrárias à recriação da pasta foram bem contundentes e pessoas próximas a Guedes chegaram a afirmar que o ministro poderia até mesmo desistir do cargo caso as negociações para diminuir seu super-ministério prosperassem.
Além do MDIC, antigos ministérios como o do Trabalho e Previdência, da Fazenda, do Planejamento tornaram-se secretarias subordinadas ao ministro desde o início da gestão Bolsonaro, que prometia enxugar a máquina pública.
Não é a primeira vez que há pressão política para o desmembramento da “super-pasta”, o que até agora Guedes conseguiu barrar. Também não é a primeira vez que o presidente muda de discurso. Na semana passada, em um evento que era fechado à imprensa, mas que foi filmado e divulgado por parlamentares, Bolsonaro admitiu que poderia criar novas pastas após a eleição do Congresso.
Na avaliação de membros da equipe econômica, uma recriação do MDIC destruiria o projeto de abertura econômica e ainda por cima criaria um feudo de privilégios. Ou seja, caso atenda ao pleito do Centrão, Bolsonaro poderia afundar de vez a chamada agenda liberal de Guedes.
Um dos argumentos do time de Guedes é que a lógica do ministro, desde que assumiu o cargo, era colocar todas as pastas juntas para poder fazer uma reforma econômica ampla, que resultasse em um ambiente de melhoria de negócios e maior competitividade. E que não privilegiasse apenas um ou outro setor.
Além disso, a parte de política industrial seria apenas uma parte da política econômica e não poderia ser vista de uma forma separada, que “antagoniza” com a agenda principal.
Para auxiliares de Guedes, não faz sentido retomar o protagonismo do antigo MDIC nas discussões de condução econômica. Guedes quer ter a palavra final.
Até porque a antiga pasta possuía uma política de proteção industrial com subsídios e altas tarifas de importação. Guedes é contra a política de subsídios e não apoia ideias de pacotes de ajudas setoriais, como as que existiram para a indústria automotiva em governos passados.
O que o ministro ainda acredita que vai conseguir fazer, dizem auxiliares, é melhorar os gastos públicos e permitir que a iniciativa privada possa ser mais competitiva sem precisar de ajuda do estado.
Membros do Ministério da Economia até reconhecem que pode existir pressão política do Centrão por mais cargos. A avaliação, no entanto, é que faz parte do jogo.
Guedes e seus auxiliares lembram que não é a primeira vez que há pressão política para diminuir a pasta da Economia e acreditam que conseguirão blindar mais uma vez esse apetite do Centrão pelo poder.
No Planalto, porém, sobre a mesa de Bolsonaro essa é uma das propostas em avaliação. Auxiliares do presidente reconhecem os argumentos de Guedes, mas avisam que nem tudo se trata de decisão técnica. E que Bolsonaro tem que pensar e pesar a parte política.
No xadrez da reforma que pretende fazer, Bolsonaro está tentando justamente equalizar interesses e promessas sem correr o risco de desmanchar seu time principal. Por isso, tenta segurar o apetite do Centrão.
Guedes, apesar de não ter conseguido tirar boa parte de sua agenda do papel, ainda continua sendo o nome da economia para o presidente. Por outro lado, sabe que terá que renegociar com esse mesmo Congresso um plano para a retomada da economia.
Como virou moda nos últimos dias em Brasília: que façam suas apostas.
Da redação/ Com UOL