Paraibana representa o Brasil no karatê internacional

Publicado em domingo, abril 22, 2018 · Comentar 


Entre as formações rochosas de sua geografia irregular, a cidade de Queimadas, região metropolitana de Campina Grande, à 145km de João Pessoa, esconde um diamante das artes marciais japonesas. Ainda em processo de lapidação, tal como acontece com as pedras preciosas, Caline Castro da Silva, de 14 anos, luta contra os adversários, enfrentando as dificuldades e prestes a realizar um feito notável: representar a Paraíba e o Brasil em uma competição internacional de Karatê.

De sorriso fácil e fala firme, é difícil acreditar sobre a idade que a menina diz completar. Parece ser mais velha. A maturidade que a jovem atleta exala é reflexo de uma trajetória construída em cima de muito foco e do sonho em ir mais longe, uma dupla imbatível que levou Caline a um lugar de destaque. A partir de amanhã, ela veste o kimono com a bandeira do Brasil para defender o país no Campeonato Sul-americano de Karatê, em Guayaquil, maior cidade do Equador.

Era início da tarde quando Caline recebeu o Correio em uma rua no centro de Queimadas. Apenas um lado do portão estava aberto. A pouca iluminação do local era compensada pelos muitos troféus e medalhas que se amontoavam no canto da parede. O local é simples, mas um sacrário para o coração da karateca. Foi nessa mesma academia que, há seis anos, o destino da jovem encontrou o esporte. Uma relação que envolve escola, família e cinema. Acaso, presente e futuro.

“Eu comecei em um programa social da escola que tinha a modalidade. Na época, eu pedi para os meus pais me colocarem, e fui gostando. Depois, quis entrar na academia. Criei uma paixão enorme pelo esporte e estou até hoje. O engraçado é que eu também assistia a filmes e isso me empolgava muito”, disse. Do primeiro treino até hoje, muita coisa mudou na vida de Caline. Mas uma coisa, em especial, transformou a atleta. A possibilidade de superar novos limites e aumentar o nível de competitividade. Uma chance que não será esquecida.

Sabendo da seletiva para o Sul-americano que iria acontecer em João Pessoa, a jovem não perdeu tempo. Mas tudo parecia muito difícil. Distância, estrada e um detalhe: o nível era alto. As concorrentes eram atletas com experiência em competições internacionais e até com passagens pela seleção brasileira. Mas nesse momento, como entre tantos, o esporte protagonizou mais uma cena onde o talento faz o caminho inverso à lógica e sempre vence. Não deu outra. A tensão enquanto comentava todo o caminho percorrido deu lugar a uma feição de alívio. E orgulho.

“Eu consegui, fiquei em primeiro lugar. Foi um momento muito especial para mim, difícil. Todas as competidoras eram experientes. E eu não. É a primeira vez que vou pra seleção e é a primeira competição internacional que disputo”, comemorou. Da escola para a academia, da academia para o Brasil. E agora, para o mundo.

O desafio de tornar real a ida para o Equador

A vida tranquila ilustrada pelos treinos e experiências normal a qualquer pessoa de 14 anos de idade, se transformou em uma grande correria após a classificação de Caline para a Seleção e para o Sul-americano. Foi preciso uma mudança completa em duas vertentes que modificaram a vida da atleta: física e financeira. Guayaquil, no Equador, é uma cidade que não tem uma altitude muito elevada, mas suas temperaturas são extremas durante todo o ano. Um lugar com características diferentes. Tempo, clima, ar. Uma nova realidade.

O treinamento de Caline precisou ser adaptado. Um dos momentos marcou a atleta e o seu treinador, o professor Silvino. “Eu fechei todos os portões. Queria que ela treinasse no calor mesmo, para suportar. Teve uma hora que ela falou que não agüentava. Eu insisti: Vamos, “Pretinha”! Lá (no Equador) vai ser dessa forma!”, comentou o treinador. A outra mudança necessária na rotina da jovem era a base para a realização do projeto de disputar a competição. Sem o dinheiro, era impossível planejar alimentação, translado e a segurança necessária para um bom rendimento em outro país.

Ela vestiu a camisa e, junto com a família, equipe de treino e amigos, foi em busca do impossível. Os valores para uma competição desse nível se aproximam dos dez mil reais. Com muitas economias, claro. Campanhas, bazar, apoio. Qualquer alternativa que tornasse viável uma arrecadação de dinheiro para a participação na competição era aceita. A karateca pode afirmar com todas as letras que vai chegar preparada. A luta começou antes dela entrar no tatame. Foi nas ruas.

“Tudo fica mais intenso, mais difícil, complicado. A gente tem que treinar mais e, ao mesmo tempo buscar ajuda financeira. Os custos são muito altos e, para conseguir dentro de um mês, é muito difícil. Tive que correr muito atrás”, confessou.

Da Redação 
Com Jornal Correio
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