Tenho ocupado esse espaço para uma volta ao passado ao invés de incursionar pelo presente. Não por alienação ou omissão, mas por vocação: amo a pesquisa e exalto a memória histórica como lições de antanho para nortear o futuro. Assim chegamos aos primeiros dias de um novo ano com a esperança nascente de que, nos próximos, a vida melhore e as flores voltem a exalar seus melhores perfumes.
Testemunhamos, ao longo desse período, uma invasão traumática às entranhas da Nação, revelando excrementos acumulados e acobertados pelo disfarce, a simulação, a impostura ou a fraude. “Nunca na história deste País” os olhos e os ouvidos de todos foram tão ofendidos pela ação nefasta de uns poucos que se protegiam com a certeza da impunidade. O império da lei prevaleceu e a Justiça invadiu territórios jamais acessados. Se antes apelavam aos quartéis e colocavam os tanques nas ruas, agora se preferiu acreditar “nas flores vencendo os canhões”. A democracia só floresce na paz.
Está por demais justificada a razão pela qual preferi compor os meus textos com a pesquisa e aproveitar da história seus aspectos mais pitorescos e inusitados, chegando ao burlesco. Preferi Pedro II como amante da Condessa de Barral, presente às aulas de suas filhas, ao tempo em que namorava ostensivamente sua preceptora. As peripécias de Pedro I, visitando as mais variadas alcovas e requisitando companhia intima desde as senzalas aos conventos, passaram por este recanto de página. Getúlio Vargas ameaçou por várias vezes o suicídio e o cometeu quando ninguém esperava. Foi um amante apaixonado pelo Brasil e pelas belas mulheres. No advento da República, o herói não teria sido Deodoro mas o seu cavalo. Pelo feito de conduzi-lo, permaneceu até o fim da vida com direito a fartura de feno e a honrosa aposentadoria. Foi o inventor da sinecura.
Preparo para este ano um novo livro a que denominei Gente do Passado Fatos do Presente e cuidei de me explicar: “quem já me conhece sabe que costumo colocar em fatos sérios um pitada de humor, dourar com ironia atitudes muitas vezes equivocadas e criticar com acidez atos que incomodam a perspicácia desse ativista político que já exerceu mandatos, ajudou outros a conquistá-los e, por isso mesmo acumulou a experiência que o transformou em um gestor publico requisitado por vários governos”. Com o perdão da imodéstia, quem se dá ao trabalho de ler o que escrevo haverá de concordar com esse perfil.
A rememoração de fatos pretéritos é para mim uma forma de, ao lembrá-los, transmitir a certeza de que estou aprendendo e ensinando uma nova lição, para repetir Geraldo Vandré, que neste fim de ano revisitou a sua Paraíba. Nunca a pregação de sua canção esteve tão presente e necessária a incutir na mente dos brasileiros o desejo de mudança. Que cada um faça a sua parte: “vem, vamos embora que esperar não é saber/quem sabe faz a hora não espera acontecer”. (Republicado por incorreção dos personagens)
Ramalho Leite
Jornalista/Ex-Deputado – Colunista