Após radialista expor ‘temeridade’ na atividade radiofônica, relatório aponta que metade dos jornalistas assassinados em 2015 são do rádio

Publicado em quinta-feira, fevereiro 25, 2016 · Comentar 


Mayara-Paiva

Radialista Mayara Paiva

Dados divulgados pelo Relatório ABERT sobre Liberdade de Imprensa – 2015, lançado nesta segunda-feira (22), coloca em foco a realidade vivida pelos profissionais brasileiros no exercício do jornalismo. Segundo o documento, “o levantamento anual feito pela Press Emblem Campaign (uma ONG independente criada por jornalistas, com base na Suíça) mostra que o Brasil é hoje o quinto local mais arriscado do mundo para os profissionais de imprensa”.

Coincidentemente no sábado (20), antes dos números serem divulgados, a comunicadora do programa Araçá em Debate da Rádio Comunitária Araçá FM  da cidade de Mari, Mayara Paiva, revelou a seus ouvintes a temeridade em tratar no radiofônico assuntos relacionados a prefeitura, pois desde suas críticas a gestão municipal no programa anterior, a mesma vinha recebendo indiretas, como se fossem recados: “tome cuidado no que fala”, disse a radialista sem citar o nome de quem teria lhe mando o suposto recado.

Apesar de durante a semana ter sofrido pressão, Mayara disse não se intimidar e que continuaria fazendo as críticas que achar pertinente com relação a gestão pública municipal.

A atividade de radialista e/ou jornalista na cidade de Mari começa a inspirar cuidados, pois as falas dos agentes públicos dão recados indiretos aos profissionais que direcionam algumas críticas a gestão pública local, como por exemplo a fala feita pelo prefeito de Mari Marcos Martins no seu programa radiofônico semanal Governo em Ação levado ao ar pela Codecom na mesma Rádio Araçá FM no último dia 30 de janeiro quando o mesmo insinuou que alguém teria lhe proposto partir para a violência contra aqueles que lhe fazem críticas, mas o próprio prefeito diz não ter aceito tal proposta.

Violência contra profissionais no Brasil em 2015 – O país aparece em pior situação quando o assunto é violência contra jornalistas do que nações como Iêmen e Sudão do Sul, que estão em guerra – a Síria, local mais perigoso para a atividade, registrou 13 mortes em 2015; no Brasil, foram oito.

Um dos casos mais chocantes e emblemáticos dessa situação foi o assassinato do radialista Gleydson Carvalho. Ele estava no ar, apresentando seu programa na rádio onde trabalhava, em Camocim (CE), quando foi morto a tiros por dois homens que invadiram o local. O profissional era conhecido por denunciar irregularidades cometidas por políticos da região.

O crime, que aconteceu em agosto, retrata bem o perfil das vítimas fatais no jornalismo em 2015. Todos os oito mortos eram homens. Seis deles foram executados no Nordeste. E a maioria, assassinada a tiros, estava envolvida com a cobertura da política local. Quatro eram radialistas e outros quatro, blogueiros.

Para o presidente da Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná (Aerp), Alexandre Barros, o próprio perfil do meio rádio acaba se tornando um agravante em meio a essa violência. “Justamente por seu imediatismo, linguagem direta e proximidade junto às comunidades, o rádio desenvolve uma atuação social muito mais forte que outros veículos. Isso faz com que a repercussão de seus conteúdos tenha um grande peso na opinião pública”, avalia Barros.

De fato, a praticidade e a informalidade do rádio são características apontadas por especialistas como elementos fundamentais para o compromisso social que o meio desenvolve. De acordo com o jornalista e professor, Valdir Cruz, o rádio, por ser um veículo barato e ágil, está sempre próximo da população e garante uma função social natural. “Entre todos os meios de comunicação, incluindo a internet no celular, o rádio é o mais prático, já que exige apenas um sentido para ser captado, a audição. Além disso, a agilidade na transmissão dos conteúdos complementa esse potencial de utilidade social; com isso, ele se torna fundamental para o fortalecimento da cidadania, oferecendo e disseminando informação, cultura e educação”, explica.

IMPUNIDADE
Diante do cenário vivenciado dia a dia pelos profissionais e retratado no relatório da Abert, o presidente da associação nacional, Daniel Slaviero, acredita que a união da sociedade em defesa da liberdade de expressão precisa ser reforçada, assim como o combate à impunidade.Em 2016, segundo ele, a situação é ainda mais preocupante por ser ano de eleições municipais.

“Todos os casos (de morte) que ocorreram em 2015 estavam relacionados à investigação em casos de corrupção, seja envolvendo agentes públicos ou empresários. Então, como estamos em um ano de eleições municipais e os veículos de comunicação fazem um papel investigativo muito forte, é uma preocupação para a Abert e para as outras entidades que acompanham o trabalho jornalístico que esses números não sejam agravados. E para que isso não ocorra, precisa haver uma ampla investigação, apuração e punição rigorosa nesses casos para que outras pessoas que queiram ter esse tipo de atitude contra profissionais da imprensa sejam inibidas”.

Segundo o Relatório ABERT sobre Liberdade de Imprensa – 2015, além das oito mortes, foram registradas 64 agressões. Esses casos, somados a ameaças, intimidações, vandalismo e ataques, totalizam 116 ocorrências de violações à liberdade de expressão. O documento compila os casos que aconteceram durante todo o ano de 2015, de janeiro a dezembro.

Da Redação
Do expressopb.net informações do Rádio em Revista via 1ª Notícia

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