‘Narcotráfico não acaba porque financia campanhas políticas’, diz Marcinho VP

Publicado em sexta-feira, outubro 20, 2017 · Comentar 


O detento 37 deixa o pátio onde jogava bola com outros presos, em uma tarde ensolarada de outubro, para ser escoltado por um agente penitenciário. Ele é levado até uma sala dividida ao meio por uma grade de ferro dentro das instalações do presídio de segurança máxima de Mossoró (RN) — cidade com 295 mil habitantes localizada no semiárido nordestino.

Condenado a um total de 48 anos de reclusão pelos crimes de tráfico de drogas e por ser mandante de dois assassinatos, Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, conhece os procedimentos do sistema penitenciário federal: são 21 anos ininterruptos passando por prisões, mais da metade de sua vida. Vira-se para a parede e as algemas são retiradas pelo agente. Senta-se na cadeira à espera das perguntas do UOL, em uma entrevista exclusiva de duas horas.

Ouve-se o barulho da disputa renhida do futebol no pátio. Marcinho VP sorri. O uniforme azul pálido transparece o suor dele. “A gente precisa aproveitar o pouco tempo que tem fora da cela”, diz aquele que é apontado pelas autoridades da segurança pública como um dos chefes do Comando Vermelho, a maior facção criminosa do Rio de Janeiro, fundada em 1979. “Isso é folclore”, diz.

Marcinho VP gosta de escrever. Afirma ser alvo de “injustiças” e, para se defender, lançará no sábado (21) o livro “Marcinho Verdades e Posições — Direito Penal do Inimigo”. A obra foi redigida em coautoria com o jornalista Renato Homem. O detento conta sua trajetória no mundo do crime, nega as acusações que lhe pesam, relembra companheiros, comenta sobre política e Operação Lava Jato e ataca o ex-governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), a quem diz ter prestado favores eleitorais em 1996. “Ele é o cacique-mor da maior organização criminosa do Rio de Janeiro.”

A polícia afirma que Marcinho comandou o tráfico no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio. Ele nega.

Marcinho defende a legalização da maconha. “O tráfico de drogas não acaba porque financia campanhas políticas no Brasil”, afirma. “O tráfico é nocivo e funesto, mas a corrupção é o crime que mais mata no Brasil.”

UOL 
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