A série Tremembé, lançada pelo Prime Video no fim de outubro, virou assunto nacional: em poucos dias ocupou posições de destaque nas plataformas de streaming e redes sociais, reacendendo o interesse por casos criminais que marcaram o país e provocando uma onda de críticas sobre transformar tragédias reais em entretenimento.
O que é Tremembé (e por que incomoda)
Produzida e dirigida por nomes do audiovisual brasileiro e baseada em reportagens e livros do jornalista Ullisses Campbell, Tremembé dramatiza a rotina e as relações de detentos célebres na Penitenciária Doutor José Augusto César Salgado (conhecida como Tremembé), reunindo personagens reais de Suzane von Richthofen a Elize Matsunaga em episódios que misturam verossimilhança jornalística e licença dramática.
Para os produtores, a série é um retrato do sistema prisional e uma tentativa de entender os mecanismos psicológicos e sociais que cercam condenados de grande repercussão. Para críticos e familiares de vítimas, porém, há uma outra leitura: a de que o conteúdo espetaculariza crimes sem garantir reparação às vítimas nem contexto suficiente sobre danos reais. Artigos que já saíram sobre a produção ressaltam essa tensão central entre curiosidade pública e responsabilidade editorial.
Repercussões imediatas: buscas, vendas e movimentações nas redes
A estreia teve impacto direto fora da tela: livrarias e sebos registraram aumento na busca por obras relacionadas aos episódios e ao próprio presídio, inclusive por livros proibidos ou esgotados que discutem a rotina da penitenciária, e plataformas de venda relataram pico de interesse por títulos que serviram de base para a série. Ao mesmo tempo, personagens reais vinculados à produção registraram movimentações em suas redes e lojas virtuais, aproveitando a exposição para reativar páginas ou anunciar produtos.
A controvérsia legal e ética: quem lucra com a história?
Um dos principais debates desencadeados por Tremembé é jurídico e moral: os condenados teriam direito a remuneração por retratarem suas histórias em obras audiovisuais? Especialistas consultados pela imprensa explicam que, em regra, a legislação brasileira não assegura pagamento automático a criminosos pela apropriação de fatos já públicos; contudo, a questão abre espaço para negociações, autorizações de imagem e disputas sobre direitos autorais e de imagem e alimenta discussões sobre a ética de lucrar com crimes.
Críticas de conteúdo: sensacionalismo vs. contexto
Críticas publicadas por veículos culturais apontam que a série, em alguns trechos, opta por uma estética de true crime pop, ritmo acelerado, enquadramentos “glamourosos” e foco nas personalidades, que pode reduzir o espaço para reportagens investigativas ou reflexões profundas sobre as vítimas, o sistema penitenciário e políticas públicas. Para esses comentaristas, Tremembé funciona bem como entretenimento, mas falha ao não priorizar o contexto que conectaria casos individuais a problemas estruturais.
Impacto cultural e jornalístico: por que importa para o Brasil
Além do debate moral, Tremembé revela um fenômeno mais amplo: a demanda do público por narrativas de crime real e a forma como plataformas globais como a Amazon Prime moldam a memória coletiva. Séries assim reescrevem episódios da história recente sob a lente do drama e têm potencial para influenciar julgamentos públicos, reabrir feridas e até alterar a circulação de informações sobre processos e penas. Por isso, o caso Tremembé é menos sobre uma obra isolada e mais sobre como mídia, justiça e mercado cultural se cruzam no Brasil contemporâneo.
O que esperar a seguir
Fontes próximas à produção já comentam possibilidade de segunda temporada e ajustes no tom da narrativa, movimentos que provavelmente alimentarão mais debates sobre responsabilidade editorial. Seja qual for o caminho, Tremembé já cumpriu um papel: reacendeu uma discussão pública sobre limites do storytelling sobre crimes reais e sobre como o público consome tragédia.
Redação/ExpressoPB
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