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Violência política de gênero na Paraíba: prefeitas de Mulungu e Marí sob ataque de antecessores

A prefeita de Mulungu, Daniela Ribeiro, e a prefeita de Marí, Lucinha da Saúde, tornaram-se os focos mais recentes de uma onda de hostilidade política dirigida a mulheres no interior da Paraíba, uma violência que mistura ataques verbais, tentativas institucionais de desestabilização e episódios que chegaram a expor riscos reais à integridade física da gestora e de sua equipe. Os episódios se encaixam num quadro mais amplo: a Paraíba figura entre os estados com maior número de ocorrências de violência política nas eleições recentes, segundo levantamentos locais.

O que aconteceu em Mulungu e por que especialistas chamam isso de violência política de gênero

Em outubro de 2025, declarações públicas de um ex-gestor contra a prefeita de Mulungu provocaram repúdio em âmbito estadual. Parlamentares e organizações encararam as falas como exemplo clássico de violência política de gênero , quando o ataque mira não só posições políticas, mas a identidade de gênero de mulheres que ocupam cargos públicos, com intenção de deslegitimá-las e silenciá-las. A repercussão levou a notas públicas de solidariedade e pedidos de investigação sobre se as ofensas configuram crime ou ilícito eleitoral.

Além do ataque verbal, a atual gestão em Mulungu responde a ações judiciais e investigações eleitorais que tratam de suposto uso da máquina pública, processos que, embora sejam rotineiros no contencioso pós-eleitoral, servem muitas vezes como instrumento de desgaste político quando combinados com ataques de imagem e pressão por parte de antigos grupos no poder. Especialistas em direito eleitoral alertam que perseguições institucionais e campanhas de desmoralização são estratégias clássicas para empurrar mulheres para fora do espaço público.

Marí: ameaças, tiros e clima de intimidação

Em Marí, sinais de escalada chegaram a níveis de risco físico: vídeos e relatos locais mostraram disparos na madrugada que ampliaram o temor em torno da prefeita e de seu chefe de gabinete, além de reforçar denúncias de ameaças e tentativas de intimidação organizadas por grupos ligados a antigos atores políticos da cidade. Houve ainda movimentações na Câmara municipal, com tentativas de CPI e investidas políticas que aliados da prefeita classificam como revanchismo. Para aliados e ativistas, o quadro não se limita a disputa política comum: é também um esforço para desmontar a autoridade de uma mulher no comando do executivo municipal.

Não são casos isolados: o contexto paraibano

Dados e levantamentos nacionais e locais mostram que a violência política cresceu nos últimos ciclos eleitorais, afetando desproporcionalmente mulheres. A Paraíba aparece entre os estados com mais episódios relatados em eleições, segundo levantamento da imprensa regional sobre o primeiro turno de 2024, e órgãos como o Ministério Público têm acompanhado denúncias de violência política de gênero em várias cidades. Organizações de defesa das mulheres afirmam que a combinação de assédio, difamação, ameaças e instrumentalização de processos judiciais forma uma estratégia persistente de exclusão.

Padrões observados e como ligam os casos

  1. Retaliação por antecessores: em várias cidades, ex-gestores ou suas bases políticas articulam investidas que vão de campanhas de difamação a pedidos formais de investigação eleitoral. Esses movimentos têm duplicado o desgaste institucional das prefeitas.

  2. Uso de narrativa de “incompetência” ou “ilegitimidade”: o discurso procura naturalizar a saída da mulher do poder como algo “esperado”, reforçando preconceitos de gênero.

  3. Escalada para a violência física e intimidação: no caso de Marí aparecem até sinais de ações que colocam em risco a segurança da gestora e da equipe.

  4. Tentativas institucionais de desgaste: CPIs, queixas eleitorais e pedidos de cassação, mesmo quando sem provas robustas, assumem função política de desgaste.

Reações e o que está em jogo

Movimentos feministas, parlamentares e entidades da sociedade civil têm exigido investigação rigorosa, aplicação da Lei da Violência Política de Gênero e medidas de proteção, inclusive cautelares, aos alvos. Deputadas e líderes regionais já se manifestaram em defesa das prefeitas, apontando a necessidade de mecanismos rápidos para proteção e a responsabilização de quem instrumentaliza a justiça ou a violência para fins políticos.

Redação/ExpressoPB
Foto Reprodução 

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