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Resultados preliminares apontam para 2º turno na Bolívia entre centrista e conservador; veja quem são os candidatos

As eleições presidenciais na Bolívia realizadas neste domingo (17) apontam para um segundo turno entre dois nomes que representam caminhos distintos para o país.

Os resultados preliminares oficiais mostram que o senador centrista Rodrigo Paz, do Partido Democrata Cristão (PDC), liderava com 32,18% dos votos. Ele é seguido pelo ex-presidente conservador Jorge “Tuto” Quiroga, da coalizão Alianza Libre, com 26,94%.

Isso pode colocar um fim ao ciclo de quase 20 anos do movimento de esquerda liderado por Evo Morales, que deve ter uma derrota histórica. O atual presidente, Luis Arce, rompeu com Morales e a disputa entre as alas implodiu o Movimiento al Socialismo (MAS) e aprofundou a crise econômica no país.

Candidatos da esquerda, como Andrónico Rodríguez e Eduardo del Castillo, tinham 8% e 3,2% dos votos, respectivamente.

As pesquisas de boca de urna da TV local Unitel e pela Ipsos Ciesmori também apontaram para esse resultado.

O segundo turno está previsto ocorrer em 19 de outubro.

Conheça, a seguir, os candidatos que devem disputar o segundo turno.

Rodrigo Paz, a aposta de centro

 

Rodrigo Paz Pereira, de 55 anos, busca se firmar como alternativa de centro em meio à polarização política boliviana. Filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989–1993), cresceu em um ambiente politizado. Foi deputado, vereador e prefeito de Tarija, onde ficou conhecido por priorizar obras de infraestrutura e gestão fiscal.

Atualmente, é senador e se apresenta como liderança moderada, capaz de dialogar tanto com setores conservadores quanto com grupos progressistas.

Sua campanha defende estabilização econômica, atração de investimentos estrangeiros e fortalecimento das instituições democráticas.

Paz tem conquistado apoio principalmente entre jovens urbanos e eleitores que buscam romper com o ciclo de radicalização que marcou a política boliviana nos últimos 20 anos.

No entanto, sua trajetória também é marcada por polêmicas. Durante sua gestão em Tarija, enfrentou acusações sobre irregularidades em um projeto milionário de construção de uma ponte sobre o rio Guadalquivir, apelidada de “Puente Millonario”.

O Ministério Público abriu investigação sobre supostos problemas de contratação e execução. Paz nega as acusações e afirma que é alvo de “perseguição política” do MAS.

Jorge ‘Tuto’ Quiroga, um velho conhecido

Aos 65 anos, Jorge “Tuto” Quiroga é um nome histórico da direita boliviana. Formado em engenharia nos Estados Unidos, iniciou sua carreira pública como vice-presidente de Hugo Banzer Suárez.

Assumiu a presidência da Bolívia em 2001, após a morte de Banzer, e governou até 2002. Durante esse curto mandato, buscou aproximação com os EUA e aplicou medidas econômicas liberais, marca que continuou a definir sua trajetória política.

Após deixar o governo, Quiroga tentou retornar ao Palácio Quemado em 2005 e 2014, sem sucesso. Mesmo fora do poder, manteve presença ativa no debate político, sendo um dos principais críticos dos governos de Evo Morales e Luis Arce.

Na eleição de 2025, lançou-se pela coalizão Libre (Libertad y Democracia), formada por partidos de direita e centro-direita. Defende cortes de subsídios considerados ineficientes, modernização do Estado, combate ao narcotráfico e maior abertura econômica.

Quiroga, porém, também carrega controvérsias. Ele foi protagonista nos bastidores da crise de 2019, quando Evo Morales deixou o país após acusações de fraude eleitoral. Segundo a Agência Boliviana de Informação, Quiroga participou das negociações na Igreja Católica que antecederam a saída de Morales e autorizou o voo que levou o então presidente ao exílio.

Posteriormente, foi nomeado representante internacional pelo governo de Jeanine Áñez, mas renunciou para disputar novamente a presidência em 2020.

Além disso, em 2025, rompeu com um bloco oposicionista que buscava unificar candidaturas contra o MAS. O motivo foi o uso de pesquisas eleitorais como critério para escolher o representante da coalizão, o que ele considerou injusto.

A decisão de concorrer sozinho pela Libre foi criticada por adversários que o acusaram de colocar ambições pessoais acima da unidade da oposição.

Um país em crise e fragmentado

As urnas refletem um país mergulhado em crise econômica e política.

A Bolívia enfrenta inflação em níveis históricos, escassez de combustíveis e alimentos, e queda acentuada das reservas internacionais. As longas filas para conseguir itens básicos se tornaram símbolo do descontentamento popular.

Esses problemas reforçaram o sentimento de insatisfação popular, levando grande parte da população a buscar alternativas ao governo do MAS, o que alimentou as forças de centro e direitas no pleito.

Morales foi impedido de concorrer pela Justiça Eleitoral e Luis Arce desistiu da disputa em meio a divisões internas no partido. Sem liderança unificada, o partido que governou a Bolívia por duas décadas perdeu protagonismo.

Morales, em meio à tensão, chegou a pedir que seus apoiadores votassem nulo — uma estratégia para deslegitimar o pleito e sinalizar seu protesto, ainda que endossasse um possível resultado adverso.

Redação/G1

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