Na política, os gestos falam mais alto do que discursos. E a visita do governador João Azevêdo à residência da prefeita de Belém, Aline Barbosa, na última sexta-feira (1º), foi mais do que um gesto: foi um recado claro e calculado. Poucas horas antes da audiência do Orçamento Democrático em Bananeiras, o chefe do Executivo estadual surpreendeu até mesmo os mais experientes articuladores políticos com um movimento que colocou aliados históricos em posição desconfortável e, ao mesmo tempo, revelou o traço pragmático de sua estratégia para 2026.
A presença do governador na casa da prefeita, sua antiga adversária política nas eleições de 2022, repercutiu nos bastidores da política belenense, apesar da gestora já ter confirmado aliança política com JA, principalmente entre os aliados que mantêm presença e influência em Belém. Renata e Roberto Flávio, o casal de ex-prefeitos com longo histórico político na cidade e alinhados com a base de João, não esconderam o descontentamento. O mesmo pode ser dito do Secretário Executivo de Esporte, Pedro Matias, figura do PT na região e opositor declarado de Aline, apesar de não ter verbalizado qualquer comentário. Ainda assim, João Azevêdo ignorou a lógica das afinidades partidárias e escolheu o que parece ser o caminho mais eficaz: sentar-se com quem tem a chave da gestão e o controle da máquina pública local.
Essa movimentação revela uma mudança de paradigma. João está mirando 2026 com lentes realistas. E o que ele enxerga? Que apoios ideológicos ou partidários já não garantem, sozinhos, votos para catapulta-lo ao Senado Federal. É preciso costurar alianças com quem detém capital político real, com quem tem presença, voto e liderança nas bases, mesmo que isso custe o desconforto de figuras tradicionais de sua própria base.
Ao lado do deputado Eduardo Carneiro, o governador optou por prestigiar a prefeita-empresária que controla a administração da cidade. Mais que um encontro simbólico, a visita sela um pacto político: Aline Barbosa não só sinalizou apoio ao projeto de João para o Senado em 2026, como também mostrou disposição para reconstruir pontes com o governo estadual, abandonando o palanque de oposição do passado.
A pergunta que fica é: qual será o custo dessa reconfiguração? João Azevêdo chateou sua base tradicional, composta por nomes como Gervásio Maia, Hervázio Bezerra, Wilson Filho e Maria Porto todos eles com indicados e estruturas em Belém e arredores. Mas, ao que tudo indica, o governador aposta que vale mais ganhar uma prefeitura estratégica do que manter aliados em zonas de conforto.
Esse episódio é um alerta para todos que subestimam os sinais silenciosos da política. O gesto de João Azevêdo em Belém não foi casual. Foi cálculo, foi articulação, foi reposicionamento. A velha lógica de fidelidade cega está sendo substituída por alianças pragmáticas, e os políticos que não perceberem isso correm o risco de ficarem para trás.
Em tempos de eleição à vista, com nomes em disputa e espaços de poder sendo redesenhados, quem tem voto e comando administrativo está um passo à frente. E o governador sabe disso melhor do que ninguém.
Redação/ExpressoPB
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