Enquanto os olhos da opinião pública se voltavam para a derrubada do decreto presidencial que aumentava o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), uma outra movimentação silenciosa, porém extremamente impactante, acontecia nos bastidores do Congresso Nacional. Numa articulação política que passou quase despercebida, o Senado aprovou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que aumenta o número de deputados federais para a próxima legislatura.
Essa movimentação escancara um cenário clássico da política brasileira: quando todos estão olhando para a mão direita, o golpe acontece com a esquerda.
O que está em jogo com o aumento do número de deputados?
A proposta aprovada no Senado prevê a redistribuição das cadeiras da Câmara dos Deputados, elevando o número total de parlamentares dos atuais 513 para 538. O argumento é técnico: o Brasil não atualiza a representação proporcional dos estados com base no Censo há décadas. De fato, estados como Pará, Amazonas e Santa Catarina, com crescimento populacional relevante, reivindicam mais representatividade.
Contudo, a crítica está no momento e na forma com que a proposta foi conduzida. Enquanto o país enfrenta dificuldades fiscais, e o Congresso questiona medidas de aumento de impostos — como o decreto do IOF, que foi derrubado sob o pretexto de “proteger o bolso do cidadão” —, os parlamentares avançam em um projeto que, inevitavelmente, trará mais custos aos cofres públicos.
IOF: o “inimigo” ideal para desviar o foco
A derrubada do decreto que aumentava a alíquota do IOF teve forte apelo popular. Afinal, o imposto incide sobre operações financeiras do dia a dia, como empréstimos, câmbio, cartão de crédito e investimentos. A medida foi impopular desde o início, e parlamentares, especialmente da oposição, aproveitaram para se posicionar como defensores da população.
Mas há um detalhe importante: o decreto já tinha prazo de validade e a revogação teria efeitos muito limitados. Ainda assim, foi usado como cortina de fumaça perfeita para abafar a verdadeira jogada estratégica: a ampliação do número de deputados.
O custo da representatividade ou o custo da ilusão?
Com mais deputados, o impacto direto será no orçamento público. Cada novo parlamentar representa salários, cotas parlamentares, verbas de gabinete, assessores, viagens e todo o aparato logístico. Em um momento em que o país discute cortes e responsabilidade fiscal, a aprovação da PEC parece caminhar na contramão da austeridade pregada.
E a pergunta que fica é: o povo realmente entendeu o que aconteceu? Ou foi mais uma vez distraído com uma pauta mais “digestível”, enquanto decisões profundas foram tomadas em silêncio?
Uma estratégia política já conhecida
Essa tática de “jogo duplo” — uma pauta polêmica em evidência e outra de grande impacto passando sem alarde — não é nova. Trata-se de uma estratégia conhecida na política: enquanto se cria barulho em um lado, aprova-se o que realmente interessa no outro. E, infelizmente, ela segue sendo eficaz, graças à baixa cobertura da mídia tradicional em temas menos “vendáveis” e à desatenção do cidadão comum, cada vez mais cansado e desinformado.
Quem paga a conta?
O aumento no número de deputados pode até ter argumentos técnicos válidos, mas a forma como foi conduzido expõe a fragilidade da nossa democracia representativa. Faltou debate público, transparência e, principalmente, respeito com o eleitor.
Enquanto isso, o povo segue sendo enrolado — e nem percebe.
Redação/ExpressoPB
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