Antonio Gomes da Silva encerrou em 31 de dezembro de 2024 seu terceiro mandato de prefeito de Marí como um dos nomes contemporâneos mais controversos da política local. Com uma trajetória marcada por alianças oportunistas, traições e uma estratégia implacável, ele moldou a política da cidade nas últimas quatro décadas, desde que foi eleito vereador nos anos de 1980. Nesta reportagem, EXPRESSO explora as nuances de uma história repleta de embates sutis, ambição desmedida e forte domínio político, destacando pontos que o tornaram figura central — e polêmica — em Marí.
O Início de tudo: convocação e primeira traição
Antonio Gomes foi convocado à política pelo então candidato Adinaldo de Oliveira Pontes na eleição de 1982 vindo a se eleger vereador ao lado do saudoso Gordo. Desconhecido da cidade, mas bem conhecido no sítio Taumatá, onde reside até os dias atuais, logo ele ganhou o apelido de “Juruna”, por sua semelhança com o cacique e deputado homônimo com atuação no Congresso Nacional na mesma época. Contudo, a relação com Adinaldo foi marcada pela traição. Em 1998, Antonio, então Secretário de Agricultura na gestão da prefeita Vera Pontes [esposa do Gordo] foi o ’pivô’ do rompimento do Vereador José Xavier com o grupo Pontes. Xavier era líder da prefeita na câmara, pleiteava a Presidência da Casa com apoio da prefeita, acordo feito desde a vitória de Vera em 1996. Desafeto de Xavier naquele momento, Antonio Gomes comprou a briga na disputa pelo comando do poder legislativo e bancou a candidatura do então vereador Osimar do Fumo contra Xavier, provocando a quebra do acordo e consequentemente um racha no grupo da prefeita.
Xavier migrou para a oposição e Vera Pontes sem saída política ficou com Gomes e Osimar, mas foi derrotada na reeleição de 2000 depois da debandada provocada pelo então vereador que se tornou desafeto dos Pontes.
No ano seguinte, após a derrota da prefeita, Antonio Gomes ‘implodiu’ a eleição do sobrinho de Adinaldo, o então vereador Naldinho que disputava com Sérgio Melo o comando do legislativo mariense. O voto de minerva que daria a vitória de Naldinho era o da vereadora Neide Gomes, mas na reta final, Antonio voltou a quebrar a palavra e orientou a esposa a se abster do voto.
Em 2002, Antonio colocou o “aliado” Adinaldo Pontes em uma situação constrangedora no palanque de Cássio Cunha Lima, na disputa pelo governo do Estado, o que sinalizou sua primeira grande ruptura política.
Ascensão política e quebra de alianças
Em 2004, mirando a ascensão na política local, abandonou Adinaldo e aliou-se ao prefeito Marcos Martins para concorrer como vice-prefeito deste, para tanto teria que eliminar do seu caminho o vice que estava no mandato, o empresário Sapinho. Antonio não se intimidou e conseguiu a vaga. Sua estratégia de manipular alianças culminou em sua eleição como prefeito em 2008, derrotando Adinaldo, seu mentor. Na sequência, rompeu com Marcos Martins – seu avalista no pleito daquele ano – sob o pretexto de uma depressão causada por pressões do ex-prefeito, voltando a se aliar com Adinaldo — outra união que não perduraria.
PRA NÃO ESQUECER: Desde 1982, ano em que disputou a primeira eleição como candidato a vereador, Antonio Gomes perdeu apenas uma eleição, tendo sido eleito vereador em 1982, 1988, 1992 e 1996; em 2000 indicou a esposa como candidata a vereadora vindo a se eleger; em 2004 se elegeu vice-prefeito; em 2008 se elegeu prefeito; perdeu a reeleição em 2012 para o ex-prefeito Marcos Martins; venceu 2016 para prefeito, 2020 se reelegeu e em 2024 elegeu a sucessora.
Em 2016, Antonio retomou o poder ao derrotar Marcos Martins, deixando o Gordo novamente pelo caminho. Dessa vez, contou com um amplo arco de alianças, incluindo setores da sociedade insatisfeitos com o governo de Martins. O retorno ao cargo de prefeito consolidou – anos à frente – seu apelido de “Barão” e deu início a um período de centralização extrema de poder.
Família no poder e controle total
Antonio não apenas dominou a política de Marí; ele transformou a gestão em um negócio familiar. Seus filhos, ex-esposa, noras e cunhada assumiram cargos estratégicos na administração. Eleito três vezes presidente da Câmara, seu filho tornou-se uma extensão de seu projeto político. A prefeitura, por sua vez, tornou-se um reduto fechado, literalmente: a sede está interditada e sem acesso direto ao público.
Polêmicas na Eleição de 2024
Na corrida sucessória, Antonio impôs sua vice como candidata sob a promessa de governar nos bastidores. Contudo, sua candidata perdeu nas urnas urbanas e venceu apenas em redutos rurais, sagrando-se vitoriosa com uma maioria de pouco mais de 200 votos. Além disso, cerca de três Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) e Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) correm na justiça, com acusações de compra de votos e transferência irregular de títulos.
Divisões familiares e expurgo político
A polarização promovida por Antonio fragmentou famílias e grupos políticos, afastando aliados históricos e cooptando novos nomes. Ele promoveu uma renovação no legislativo, substituindo figuras tradicionais por candidatos alinhados a seus interesses. No entanto, sua sede por controle total da cena política trouxe desgaste à sua imagem e expôs os limites de sua hegemonia.
A eleição para a mesa diretora da Câmara Municipal de Marí em janeiro deste ano (2025) é uma prova desse desgaste, com uma derrota fervorosa do seu filho José Alisson que tentava a quarta presidência do legislativo mariense.
O futuro do “Barão”
Mesmo deixando a prefeitura, Antonio ainda busca influência política. Seu legado, contudo, está cercado de polêmicas, acusações e a possibilidade de um desfecho judicial que pode mudar os rumos políticos de Marí.
A relação com sua sucessora está marcada por insatisfações, como comenta-se nos bastidores da política. Uma disputa de poder internamente tem trazido dores de cabeça ao “barão” que deseja reinar sozinho na prefeitura de Marí, mesmo sem ter recebido um único voto.
Na tentativa de demonstrar força política, o ex-prefeito faz movimentos frenéticos para se manter em evidência. Faz ponte aérea Mari/Fortaleza/Brasília. Oscila entre doença, bem-estar e atividade política como estratégia de pautar as discussões no ordinário político local, mas as evidências vão apontando um certo desinteresse da classe política pelos seus projetos.
Antonio Gomes da Silva construiu uma trajetória política única, marcada por estratégias controversas e uma ambição desmedida. Essa ambição o coloca na tentação de dominar com mão de ferro a política de Mari, priorizando seus projetos pessoais e familiares em detrimento de um projeto coletivo que foi construído a várias mãos antes mesmo daquele vitorioso 2016.
O “Barão” deixa a prefeitura, mas a prefeitura parece não ter saído dele e seu impacto — e controvérsias — continuarão o atormentando por anos na esperança de um dia voltar a sentar naquela cadeira. Sua história reflete os desafios de um cenário político onde alianças são fluidas e o poder muitas vezes se sobrepõe aos princípios.
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