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“A sucessão municipal e o discurso oportunista da democracia”; por Manoel Batista

Foto Reprodução

Começo esse “despretensioso” texto, lembrando Milton Friedman, economista, estatístico e escritor norte-americano. Segundo ele, “Liberdade política significa ausência de coerção de um homem pelo seu concidadão. A ameaça fundamental à liberdade é o poder de coagir, esteja ele nas mãos de um monarca, de um ditador, de uma oligarquia ou de uma maioria momentânea.”

A democracia, conceito fundamental de um Estado de Direito, sempre foi o pilar sobre o qual repousa a vontade e os interesses do povo. Contudo, à medida que nos aproximamos das eleições municipais de 2024, um sombrio espetáculo de poder e influência emerge, com alguns tentando impor nomes de sua preferência e interesse para o cargo de “seus” sucessores. Tal atitude não apenas desrespeita a opinião dos demais colaboradores das gestões que caminham para seu final pré-estabelecido, mas também ignora o direito inalienável da população em determinar de forma livre seu representante.

A premissa de que “o poder pertence ao povo e o governo deve ser para o povo” é uma máxima que parece esquecida por aqueles que tentam ditar o futuro sucessor ou sucessora sem consultar os verdadeiros detentores do poder: os cidadãos. Se a democracia é a base de nossa sociedade, nada mais justo do que buscar meios transparentes e inclusivos para definir quem ocupará os cargos eletivos, pois este não deve ser um privilégio concedido por um grupo restrito, mas sim uma responsabilidade que reflete a vontade coletiva.

É importante ressaltar que o Brasil tem experimentado avanços significativos no campo das decisões políticas democráticas. Ao longo dos anos, vimos o fim do coronelismo político, em que líderes locais detinham controle absoluto sobre a população, impondo suas vontades sem qualquer contestação. O voto de cabresto, símbolo dessa era de manipulação política, gradualmente cedeu espaço para um sistema eleitoral mais livre e representativo, onde cada cidadão tem o direito e o poder de escolher seus representantes.

Contudo, a tentativa de impor nomes para a sucessão municipal, inclusive com sugestão de exoneração de quem sequer foi ouvido nas decisões, lança uma sombra sobre esses avanços. Em vez de abraçar a abertura e a inclusão que a democracia preconiza, alguns parecem querer manter o status quo, perpetuando um sistema onde o poder parece pertencer a um pequeno grupo de oportunistas, em detrimento da voz da população. Essa abordagem subverte o propósito da democracia, colocando os interesses pessoais e de um grupo acima do direito e do dever da população de exercer sua liberdade de decisão.

Felizmente, a história nos ensina que a resistência à imposição e a busca pela verdadeira representatividade podem triunfar sobre os desmandos políticos. A sociedade brasileira já demonstrou sua capacidade de rejeitar líderes que não se alinham com seus valores e anseios, e em 2024 não será diferente. A população está cada vez mais consciente de seu papel fundamental na construção da sociedade, e exige ser ouvida e respeitada.

Portanto, é crucial que alguns “políticos” reconsiderem suas abordagens e adotem processos transparentes e inclusivos na escolha dos candidatos municipais. A sucessão municipal não deve ser vista como uma oportunidade para consolidar poder, mas sim como um momento para fortalecer os princípios democráticos que sustentam nossa sociedade. Tentar impor a exoneração de nomes sem levar em consideração a opinião dos demais colaboradores da gestão e, principalmente, do povo, é um ato contraproducente que mina a confiança daqueles que circulam o poder político e ameaça a descontinuidade dos avanços conquistados pelas gestões outrora eleitas pela forma livre e democrática. Democracia essa que hoje é desprezada por aqueles que criam regras para os outros e exceções para si e apenas para os seus.

“O poder não emana da vontade de alguns, mas da vontade de todos.” – Jean-Jacques Rousseau.

Redação/ Artigo escrito por MANUEL BATISTA

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