O filósofo Mário Sérgio Cortella aborda um pouco da questão do excesso de simpatia das pessoas, que querem que todos saibam sobre suas vidas.
A quantidade de pessoas exageradamente simpáticas, que tecem elogios o tempo inteiro e que nunca demonstram estar incomodadas com nada não é pequena. Quantas vezes você não se deparou com aquele funcionário que quer agradar ao chefe a todo custo, forçando uma relação inexistente?
Em busca de aceitação, muitos indivíduos acabam se tornando excessivamente chatos, querendo se encaixar em padrões que não condizem com suas realidades. O filósofo Mário Sérgio Cortella, em entrevista para o programa Pânico no Rádio, falou sobre a potencialização dos aspectos negativos das relações com a chegada das redes sociais.
De acordo com Cortella, tem-se tornado cada vez mais difícil evitar a “chatice” das pessoas que querem incomodar os outros aparentando sentir prazer nisso. As redes sociais fizeram com que a maioria dos usuários perdessem a noção do que devem ou não compartilhar. É como se tivessem que fazer pequenos recortes de suas vidas, para que sejam apreciadas, caso contrário não existem.
Aquela existência perfeitamente programada e fotografada, a necessidade de autoafirmação em uma plataforma que foi criada originalmente apenas para que existissem mais interações sociais. O filósofo explica que a noção de chatice ganhou outra dimensão com a internet, mas que sempre foi comum as pessoas perturbarem os outros. Caso não compartilhem com o mundo um pedaço do seu dia, é como se não existissem, se sentem vazias e incompletas.
As relações que se baseiam na sinceridade acabam sendo raras, principalmente porque a superficialidade toma conta da maioria das interações sociais. Quais as chances de você conhecer alguém, trocar redes sociais, curtir fotos, compartilhar conteúdo e simplesmente não saber nada da vida dela? Altíssimas!
A ausência de profundidade faz com que não se conheça verdadeiramente o outro, sabe-se apenas o que é compartilhado. Tentar ser agradável aos olhos do outro é desgastante, principalmente se nunca nada for dito para se impor limites. Tentando se encaixar, acabam engolindo sapos, sendo indivíduos extremamente simpáticos, mesmo quando não existe necessidade.
Cortella emprega uma frase filosófica para explicar o problema com a chatice alheia: “Só os antipáticos são sinceros”. Sem medo de ser mal-interpretados por conta da antipatia, são indivíduos que preferem impor limites, que não querem se dobrar para caber nas expectativas de ninguém. Essas seriam as pessoas capazes de se conectar verdadeiramente e de forma honesta.
A carência das pessoas também é algo questionado pelo filósofo, principalmente entre as que acham valoroso serem pegajosas. Os limites entre onde se encerra o espaço pessoal de um e começa o do outro precisam sempre ser redefinidos em busca de respeito e compreensão, sem permitir que a chatice do vizinho que você mal vê invada seus limites.
Sentir necessidade de se encaixar nos parâmetros dos outros causa apenas tristeza, por isso é tão importante respeitar seu tempo, seu espaço e o dos outros. Não force sua entrada na vida de alguém, é preciso ser convidado. Seja sempre uma pessoa honesta, mesmo que às vezes isso soe um pouco mais antipático e grosseiro. A melhor coisa de que podemos tirar proveito na nossa existência é a maneira como nos relacionamos uns com os outros.
Se a sua forma de se relacionar for a partir da boa educação e da gentileza, não se preocupe em tentar agradar ao ideal do outro. O mais importante é respeitar seu tempo e seu espaço, sem lutar e se dobrar para ser aceito, afinal nada é mais importante do que nossos valores pessoais, e não devemos abrir mão deles nunca.
Redação/OSegredo