Luiz Antonio Simas é referência quando o assunto é carnaval e manifestações da cultura popular brasileira. O historiador, professor e compositor carioca duas vezes ganhador do aclamado prêmio Jabuti, tem sido uma voz crítica à realização de grandes eventos privados de carnaval enquanto a festa pública está impedida de tomar as ruas e as escolas de samba tiveram seus desfiles adiados por conta pandemia no Rio de Janeiro e em São Paulo.
“Acho que se justificaria um adiamento por conta da saúde pública, a minha questão não é essa”, explica Simas. “Mas é esquisito, porque definitivamente não é a questão da saúde pública que determinou [o adiamento]. Isso guarda uma percepção da sociedade que é preconceituosa em relação ao carnaval.”
Ele afirma que a festa já sofria um processo de “privatização” e “domesticação” por parte do mercado mesmo antes da covid-19. Por isso, para além dos prejuízos econômicos aos trabalhadores do carnaval em mais um ano, destaca outras consequências do banimento dos festejos públicos. “Quando você tira o carnaval de rua de cena nesse contexto, há um esvaziamento simbólico da própria rua como instância de construção da vida na cidade”, aponta.
“Uma grande disputa que envolve a cidade passa pela rua. O que a gente quer: encarar a cidade a partir da lógica da circulação de mercadoria, de corpos apressados que se deslocam para o trabalho, ou entender a cidade como ponto de encontro?”.
Em entrevista à Agência Pública, o historiador fala ainda sobre conceitos centrais em sua obra, como a luta pelo encantamento do mundo e as ideias de Brasil e brasilidade, segundo as quais as culturas populares vão se constituindo em frestas no muro entendido como o projeto oficial de país, marcado pelo colonialismo. Nesse sentido, Simas defende que o espaço de produção cultural brasileiro é uma “encruzilhada”. “Encruzilhada é estar disponível para a alteridade, para conviver com o outro, com outras referências, porque ela te apresenta caminhos diversos”, aponta. “Somos um país encruzilhado por saberes ameríndios, múltiplos saberes africanos, inúmeras referências de imigrantes pobres europeus que chegaram aqui.”
Veja a entrevista na íntegra aqui.
Da Redação
Com Pragmatismo Político





