Após campanha turbulenta, Crivella (PRB) é eleito no 2º turno no Rio

Publicado em domingo, outubro 30, 2016 · Comentar 


23out2016-o-senador-marcelo-crivella-prb-candidato-a-prefeito-do-rio-de-janeiro-durante-caminhada-na-orla-de-ipanema-e-leblon-na-zona-sul-da-cidade-no-fim-da-manha-deste-domingo-23-1477242158751_615Em sua terceira tentativa, o senador e bispo neopentecostal licenciado Marcelo Crivella foi eleito prefeito do Rio de Janeiro no segundo turno da eleição, neste domingo (30). A vitória do religioso, sobre o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), é também a primeira do PRB (Partido Republicano do Brasil) em uma capital.

Marcelo Bezerra Crivella, 59, vai substituir, no dia 1º de janeiro do ano que vem, o atual prefeito, Eduardo Paes (PMDB), que está à frente do Executivo municipal desde 2009. Nas últimas eleições municipais, o peemedebista foi apoiado pelo senador.

No local escolhido para a comemoração do candidato, o Bangu Atlético Clube, na zona oeste do Rio, o resultado foi recebido aos gritos: “O Rio tem jeito, Crivella é prefeito”, entoavam os apoiadores, antes mesmo da chegada de Crivella. Entre os aliados que estão no local estão o suplente de Crivella no Senado, o presidente interino do PRB nacional, Eduardo Lopes, e o presidente da Câmara dos Vereadores do Rio, Jorge Felippe (PMDB).

Ao som da música “Chegou nossa hora”, utilizada na campanha é cantada por Crivella, alguns apoiadores do candidato choraram após a confirmação de sua eleição.

Campanha turbulenta
À frente da coligação “Por um Rio mais humano” (PRB/PTN/PR), com o quinto tempo de propaganda eleitoral na televisão –um minuto e 11 segundos– no primeiro turno Crivella ocupou a liderança isolada nas pesquisas de intenção de voto durante toda a campanha.

No segundo turno, chegou a abrir 26 pontos percentuais sobre Freixo, segundo pesquisa do Ibope. Seu índice de rejeição caiu 11 pontos entre dois levantamentos do mesmo instituto, de 35% para 24%, na primeira fase da campanha.

Sua vantagem sobre Freixo chegou a cair dez pontos percentuais em um levantamento Datafolha. Na última semana de campanha, dizendo-se perseguido por veículos do “Grupo Globo” e pela revista “Veja”, ele faltou a entrevistas previamente marcadas e passou dois dias em Brasília, cumprindo agenda no Senado.

Alvo de acusações de que, caso eleito, iria misturar interesses religiosos e políticos, nos últimos meses, Crivella tentou se aproximar de representantes de outras crenças e chegou a se envolver em polêmica com o cardeal dom Orani Tempesta, da Igreja Católica, por distribuir, sem autorização do religioso, panfletos estampando a foto de um encontro entre os dois.

A biografia disponível em seu site de campanha, por exemplo, omite a informação de que ele é evangélico, mas diz, na primeira linha, que ele é “filho de pais católicos”. Chamado de “bispo” em debates no primeiro turno, defendeu-se de acusações de que a Iurd (Igreja Universal do Reino de Deus) iria controlar o seu governo.

“É impressionante como eles inventam essa conversa, esses boatos. É verdade que eu fui bispo, e tenho muito orgulho disso, mas fui também motorista de praça, fui professor, sou engenheiro, senador e fui ministro da Pesca”, afirmou, no último debate antes do primeiro turno.

No segundo turno, o candidato do PRB atraiu o apoio de três dos adversários no primeiro turno: o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSC-RJ), que teve 14% dos votos válidos e foi o quarto colocado; o deputado federal Indio da Costa (PSD-RJ), quinto na disputa, com 8,99%; e o deputado estadual Carlos Roberto Osorio (PSDB-RJ), o sexto, com 8,62%.

Alvo de muitas críticas de Crivella ao longo da campanha, o PMDB não endossou o senador e nem seu adversário. Apesar disso, nomes importantes da legenda como o presidente da Câmara Municipal do Rio, Jorge Felippe, e a vereadora Rosa Fernandes, a quarta mais votada nesta eleição, declaram apoio ao candidato do PRB. Isso sem contar com a aliança com o senador Romário (PSB-RJ), eleito há pouco mais de dois anos com aproximadamente 4,7 milhões de votos no Estado, recorde histórico.

Biografia
Carioca, o novo prefeito do Rio se tornou conhecido por sua atuação na Iurd –fundada por seu tio, o bispo Edir Macedo– e como cantor gospel, com 16 álbuns gravados. Há 14 anos, entrou na vida política.

Engenheiro, professor universitário e escritor, foi ao continente africano como missionário no início dos anos 1990, e lá ficou por quase uma década. De volta ao Brasil, morou em Irecê, no sertão da Bahia, para desenvolver um projeto social e beneficente da igreja na zona rural da cidade.

Crivella é casado há 36 anos e tem três filhos. Disputou sua primeira eleição em 2002, já como candidato ao Senado pelo Rio, para o qual se elegeu com mais de 3,2 milhões de votos. Em 2010, foi reeleito para o mandato, que chega ao fim em 2018.

Há 11 anos, saiu do PL para fundar o PRB, ao lado do então vice-presidente da República, José Alencar, a quem classifica com um grande amigo.

Sua carreira, no entanto, foi marcada por quatro derrotas em pleitos para o Executivo –à prefeitura, em 2004 e 2008, e ao Governo do Estado, em 2006 e 2014. A ligação com a Universal foi alvo de frequentes ataques durante as campanhas, nas quais enfrentou alto índice de rejeição.

Entre 2012 e 2014, foi ministro da Pesca da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Em maio deste ano, entretanto, votou pela admissibilidade do processo de impeachment contra ela no Senado.

Segunda maior cidade do país
Crivella vai governar a segunda cidade mais populosa do Brasil, com cerca de 6,5 milhões de habitantes –atrás apenas de São Paulo.

Com um PIB de R$ 282,5 bilhões, de acordo com os dados mais recentes do IBGE, de 2013, a capital fluminense tem índice de mortalidade infantil de 12 por mil nascidos vivos (a média do Brasil é de 13,8 por mil) e taxa de analfabetismo de 2,75% (5º lugar entre as capitais brasileiras).

A cidade também tem 18,6 homicídios por cem mil (22º pior índice entre as capitais brasileiras, segundo estatísticas de 2015) e 9,6% de domicílios com renda per capita mensal até 1/4 do salário mínimo. O Rio de Janeiro é também, desde 2012, a cidade mais cara para se morar no país.

Da Redação
Com Uol

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