O cantor João Gomes é frequentemente citado pelo gesto de gratidão a quem o ajudou no início da carreira. Recentemente em apresentação chegou a chorar no palco ao reencontrar alguém do passado que lhe estendeu a mão quando ele ainda não tinha alcançado a fama. É certo que na política nem sempre nos deparamos com casos assim, porque ela é mais cruel, o jogo de interesses ultrapassa os limites da ética.
Na história política recente de Marí, figuras políticas constroem suas trajetórias de forma contrária a de figuras populares que tende a reconhecer quem esteve ao seu lado nos momentos mais difíceis. O ex-prefeito Antonio Gomes consolidou na prática a imagem de alguém que, ao alcançar o poder, passou a descartar aliados e a transformar antigos parceiros em adversários.
O histórico é extenso e não passa despercebido pela memória política local. Nomes como Adinaldo Pontes, Vera Pontes, Marcos Martins, Karina Melo, Nilcélio Cabeção, Emanuelle Chaves, Marcos Sales, Manuel Batista, Magdiel Olinto, Nelma Morais e a própria Lucinha da Saúde ilustram um padrão de rompimento que se repete ao longo dos anos. São personagens que, em algum momento, estiveram próximos, contribuíram politicamente e, depois, foram afastados ou confrontados quando já não serviam aos interesses do então chefe político. O ano de 2025 vai terminando carimbando nele [AG] essa característica.
Mais do que simples divergências, os episódios revelam uma estratégia de concentração de poder. É de conhecimento público que durante sua gestão, Antonio Gomes teria sistematicamente limitado o crescimento político daqueles que poderiam se tornar independentes ou protagonistas. A indicação de Lucinha da Saúde como sucessora, hoje amplamente analisada nos bastidores, mostrou-se menos um gesto de confiança e mais uma tentativa de manter influência direta sobre a administração municipal, como se o comando permanecesse em suas mãos, por acreditar que a sua indicada seria uma “marionete” de suas vontades.
Do controle à ruptura
O cálculo, no entanto, falhou. Ao perceber que Lucinha não se comportaria como uma extensão de seu poder, Antonio rapidamente a reposicionou no papel de inimiga política. A partir daí, iniciou-se um movimento de traição dele para com ela e consequentemente um clima de enfrentamento que lembra episódios anteriores: isolamento, ataques e a tentativa de deslegitimação pública da prefeita.
Durante a campanha eleitoral de 2024, as declarações e atitudes se tornaram ainda mais evidentes. Houve ameaças explícitas de abandono político, como se sabe das declarações do ex-prefeito de que desmontaria a famosa “nova via” e deixaria a Dra. sozinha; rótulos ofensivos a ex-aliados, como passou, por exemplo, a se referir a Manuel Batista (seu ex-chefe de Gabinete) e o uso intenso da máquina política para tentar inviabilizar candidaturas consideradas inconvenientes aos seus planos. Marcos Sales, por exemplo, enfrentou diretamente a estrutura e a fúria de quem não escondia o desejo de derrotá-lo a qualquer custo, para tal o ex-prefeito ‘inflou’ candidaturas dos concorrentes de Sales dentro do próprio partido, desestabilizou laços familiares e usou da estrutura financeira para atrair seus eleitores e cabos eleitorais. Outras candidaturas, como as de Magdiel Olinto, Nelma Morais e até Neta do Sindicato, teriam sido deliberadamente boicotadas para não interferirem no xadrez pós-eleição.
O resultado que não veio
Apesar de todo o esforço, após um ano de tudo que foi feito, quase nada do que Antonio Gomes planejou se concretizou. Ele perdeu a eleição do filho para a presidência da Câmara, que foi derrotado pelos votos daqueles que ele diz ter ajudado financeiramente para não permitir a ascensão de quem ele entendia ser ameaça a seu projeto de 30 anos de dominação. Perdeu o controle da principal ferramenta do poder — a caneta — e, talvez mais grave, perdeu o apoio e a admiração de pessoas que o viam como amigo e líder. Venceu em parte do jogo, mas não levou o prêmio final.
Hoje, fora do poder formal, Antonio tenta se reposicionar como vítima do processo político. O discurso, porém, esbarra nos fatos. Ele é protagonista de uma história que ajudou a escrever, marcada por conflitos, rompimentos e pela incapacidade de conviver com a autonomia dos outros. Hoje, cercado por figuras politicamente inexpressivas e com poucos aliados dispostos a defendê-lo publicamente, enfrenta um isolamento que contrasta com a força que um dia teve.
A obsessão pelo confronto
Atualmente, sua atuação política parece concentrada quase exclusivamente no enfrentamento direto à prefeita Lucinha da Saúde e ao seu entorno — Acássio, Roberta, Berinho, Rejane, Jackciele e outros familiares e aliados. Mais do que estratégia, o movimento soa como obsessão. É uma política movida pelo ressentimento, não pela construção de alternativas.
No fim, a história de Antonio Gomes em Marí funciona como um alerta clássico da política: o poder pode até ser conquistado individualmente, mas só se sustenta com lealdade, diálogo e visão de futuro. Quando esses pilares são substituídos pelo descarte sistemático e pelo conflito permanente, o isolamento deixa de ser um risco e passa a ser consequência.
Redação/ExpressoPB
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