O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira (18) que não haverá qualquer tipo de proteção a envolvidos no esquema de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), mesmo que as investigações atinjam pessoas próximas ou integrantes de sua própria família. Segundo ele, a apuração foi uma decisão do próprio governo e seguirá até que todos os responsáveis sejam identificados.
As declarações foram feitas durante entrevista coletiva concedida no Palácio do Planalto. Lula explicou que o processo de investigação exigiu tempo justamente para evitar ações superficiais ou motivadas por exposição política. “A decisão de apurar esse fato foi do governo. Por que demorou? Como a gente não quer fazer pirotecnia, a gente quer investigar com seriedade, a CGU levou praticamente dois anos fazendo investigação”, afirmou.
O presidente ressaltou que o governo optou por comunicar a sociedade apenas após a consolidação das apurações iniciais. “Seria muito fácil fazer uma denúncia e não apurar. Fomos nós, do governo, que tomamos a decisão de comunicar a sociedade brasileira”, disse. Lula também revelou que chegou a defender a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito por iniciativa do próprio Executivo. “Eu queria que nós convocássemos a CPI. Seria a primeira vez que o governo convocaria uma CPI”, afirmou, acrescentando que acabou prevalecendo o entendimento de que a oposição deveria conduzir o processo.
Lula afirmou que as irregularidades já identificadas exigiam resposta firme do Estado. “Como nós tínhamos descoberto a bandidagem, a corrupção, a roubalheira, a gente tinha que fazer”, declarou. Ele destacou ainda medidas já adotadas para reparar parte dos danos causados aos beneficiários. “No caso do INSS já devolvemos para 4 milhões de pessoas R$ 2,7 bilhões”, disse.
Segundo o presidente, todas as pessoas eventualmente envolvidas serão investigadas pela Polícia Federal, independentemente de posição política ou vínculo pessoal. “Todas as pessoas que estiverem envolvidas, diretamente ou não, vão ser investigadas pela Polícia Federal. Muitas das coisas estão em segredo de Estado”, afirmou. Lula fez um apelo por cautela na divulgação de informações. “É importante que haja seriedade para que a gente possa investigar todas as pessoas. Todas. Ninguém ficará livre”.
Foi nesse contexto que o presidente mencionou diretamente a possibilidade de envolvimento de familiares. “Se tiver filho meu metido nisso, ele será investigado”, afirmou. Lula classificou como inaceitável qualquer tentativa de desvio de recursos destinados a aposentados. “Não é possível você admitir, num país em que milhões de aposentados ganham um salário mínimo, ter alguém tentando se apropriar de dinheiro de aposentado com promessas falsas”, disse.
O presidente também delimitou o papel institucional da Presidência no caso. “Eu não sou da CPI, não sou delegado da Polícia Federal e não ministro da Suprema Corte”, afirmou. Ainda assim, garantiu que o Executivo dará todas as condições para que o caso seja esclarecido. “Naquilo que depender da Presidência da República, tudo será feito para que a gente dê uma lição a esse país. Esse país tem condição de ser um país honesto.”
As declarações ocorrem no contexto de uma nova fase da Operação Sem Desconto, conduzida pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União, que investiga um suposto esquema nacional de descontos ilegais em aposentadorias e pensões do INSS. Nesta quinta-feira (18), o secretário-executivo do Ministério da Previdência, Adroaldo Portal, teve a prisão domiciliar decretada e foi afastado do cargo. A investigação também alcançou o senador Weverton Rocha (PDT-MA), alvo de mandados de busca e apreensão.
Paralelamente, a CPMI do INSS tem sido palco de disputas políticas envolvendo o nome de Fábio Luís Lula da Silva, filho mais velho do presidente. Embora ele não seja investigado pela Polícia Federal e não haja provas documentais conclusivas sobre seu envolvimento, relatos e depoimentos encaminhados à comissão passaram a mencioná-lo no contexto das apurações, o que ampliou a pressão política em torno do caso.
Redação/Brasil 247
Foto Reprodução: Marcelo Camargo/Agência Brasil





