Denúncia do MPE mostrou que, abrigado em um dos QGs do CV, Anastácio Paiva Pereira comandou quadrilha para interferir nas eleições de Santa Quitéria, no Ceará
Abrigado em um dos QGs do CV, Anastácio Paiva Pereira, de 36 anos, o Doze ou Paulinho Maluco, comandou um esquema criminoso para interferir nas eleições de Santa Quitéria, no Ceará, que fica a mais de 2,5 mil km da capital fluminense. Uma denúncia do Ministério Público Eleitoral aponta que, durante cerca de dois meses do ano passado, um grupo chefiado por Pereira fez inúmeras ameaças e expulsou moradores que demonstraram apoio ao candidato que concorria contra José Braga Barroso para a prefeitura da cidade. Por meio de grupos de WhatsApp, os criminosos se articulavam para coagir eleitores do município. O traficante chegou a enviar um comparsa, Daniel Claudino dos Santos, para realizar missões na cidade, que fica a mais de 200 quilômetros de distância de Fortaleza.
Foi de Daniel que uma eleitora, apoiadora do candidato rival, recebeu a mensagem “Lindo vai ser sua cara quando nós pegarmos e deixar toda furada de bala”. A ameaça é apenas uma das dezenas atribuídas ao grupo. Eles também ordenavam que fossem pichados os locais onde houvesse fotos do candidato Tomás Figueiredo e que fossem quebrados carros, motocicletas e bicicletas com qualquer alusão ao político.
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Em 28 de setembro de 2024, outro comparsa de Anastácio, identificado como Francisco Girvando Ferreira de Oliveira, ordenou a divulgação de um novo comunicado em grupos e redes sociais. A mensagem dizia: “Atenção, Santa Quitéria: quem apoia o Tomás Figueiredo vamos expulsar da cidade. Nosso papo é um só”. Abaixo, ele complementou: “Divulga”.
E eles de fato cumpriram as ameaças. O caso de uma eleitora identificada como Geovana foi detalhado na denúncia do MPE. O nome dela surgiu no grupo no fim de setembro, quando Francisco a apontou como alvo a ser expulso por apoiar o candidato rival do grupo. Ele ainda afirmou que a ordem vinha de Pereira, dizendo ser “papo do chefe”.
Depois disso, o grupo passou a monitorar Geovana nas redes sociais, em grupos políticos e nas ruas. Nas conversas, compartilharam o endereço e os perfis dela. Dias depois, Daniel afirmou que a família da mulher já havia sido informada sobre as ameaças: “Já falei com a mãe dela. Vai sair”.
O assunto só foi encerrado quando um dos comparsas enviou imagem e áudio dizendo que ela havia sido vista na rodoviária, insinuando que fugiria. Depois disso, foram até a casa dela e à rodoviária para confirmar se realmente a mulher havia deixado a cidade, mas não conseguiram localizá-la.
Segundo um promotor do Ceará, as ameaças do grupo geraram um clima de terror tão intenso em Santa Quitéria que há moradores que, quase um ano depois dos episódios, não retornaram à cidade. Durante quase dois meses, vários muros foram pichados com frases como “24h para sair fora. Assinado Paulinho Maluco” e “Quem apoia o Tomás vai arrumar problema com a tropa do Paulinho Maluco”.
Em uma das mensagens obtidas pela investigação, Daniel relatou ter seguido as ordens de Pereira para expulsar eleitores: “Rapaz, liguei para um bocado de gente. O chefe só mandava e eu ligando. As que eu liguei saiu fora. Mandei conferir”.
Redação/Extra – Por Bruna Martins e Roberta de Souza — RJ
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