Um homem de 23 anos foi brutalmente espancado por populares na manhã desta sexta-feira (17), nas proximidades do terminal de ônibus do Parque Solón de Lucena, conhecido como Lagoa, no Centro da capital paraibana. O episódio, registrado em vídeos que circulam nas redes sociais, provocou tumulto e reacendeu o debate sobre o aumento de casos de linchamentos no país.
De acordo com a Polícia Militar, o jovem seria suspeito de envolvimento em um caso de estupro ocorrido no bairro de Mandacaru, na Zona Norte da cidade.
Após a agressão, equipes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) socorreram o homem e o encaminharam ao Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, no bairro Pedro Gondim. Segundo boletim médico, o paciente segue internado em observação, com quadro clínico estável.
A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar a motivação do linchamento e investigar a suposta ligação do homem com o crime sexual que teria gerado a revolta popular.
Casos recentes revelam padrão de linchamentos no Brasil
O episódio na capital paraibana não é isolado, conforme apurou o ExpressoPB.net. Casos semelhantes têm sido registrados em diferentes regiões do país, indicando uma preocupante tendência de “justiça com as próprias mãos”.
Em Tabira (PE), um homem suspeito de violentar e matar uma criança de 2 anos foi retirado de dentro de uma viatura e linchado até a morte por moradores revoltados.
Em Contagem (MG), um suspeito de estuprar uma menina de 7 anos também foi linchado por uma multidão enfurecida, antes da chegada da polícia. Já em Santa Rita, também na Paraíba, um homem acusado de violentar a própria sobrinha bebê foi morto a tijoladas por moradores.
E em Paranaguá (PR), no início de outubro, um suspeito de estuprar duas crianças foi linchado até a morte no bairro Comporta.
Especialistas alertam: “Justiça pelas próprias mãos enfraquece o Estado de Direito”
Especialistas em segurança pública e direitos humanos alertam que a multiplicação desses episódios ameaça o sistema judicial e o princípio da presunção de inocência, pilar da Constituição. Segundo o advogado criminalista Fábio Nogueira, “a sociedade tem o direito de exigir punição, mas não de substituir o Estado. Linchamentos não trazem justiça, trazem apenas mais violência e risco de erros irreversíveis”.
Levantamento recente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que quase 200 casos de linchamento foram registrados no país entre 2023 e 2024, com crescimento de 18% em relação ao biênio anterior.
Reflexo da impunidade e da descrença institucional
Para o sociólogo Luiz Fernando Sampaio, o fenômeno está ligado à sensação generalizada de impunidade e à falta de confiança nas instituições.
“Quando o cidadão não acredita que o sistema de justiça funciona, ele cria o seu próprio. O problema é que isso desumaniza e banaliza a vida”, afirma.
Além disso, a exposição nas redes sociais potencializa esses episódios, transformando o ato de violência em espetáculo. “A gravação e o compartilhamento dos vídeos funcionam como um combustível para a histeria coletiva”, analisa o especialista.
O desafio do poder público
Diante da escalada de casos, especialistas defendem que o poder público adote políticas urgentes de comunicação e segurança, com foco em educação cidadã e fortalecimento das instituições de justiça.
A Polícia Civil da Paraíba ainda não divulgou o resultado das investigações sobre o caso ocorrido na Lagoa nesta sexta-feira (17). O homem permanece internado sob custódia policial, e não há informações sobre o andamento do inquérito que apura o suposto estupro.
Redação/ExpressoPB
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