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O benefício inesperado que a atividade física traz para você

Já é sabido que a prática regular de atividade física reduz o risco de doenças cardíacas, hipertensão e acidente vascular cerebral, como apontam diversos estudos científicos. Contudo, há um outro benefício, revelado por pesquisas mais recentes, que até agora não entrava nesta lista.

Segundo o professor de Psicologia da Universidade Europeia, Oscar Elia Zudaire, o conselho comum entre praticantes de exercísos, “Vá com tudo para a academia e não pense mais nisso, cara”, tem respaldo científico. “Por trás de shakes de proteína e selfies no espelho, existe uma base científica surpreendentemente sólida: malhar pode nos ajudar a esquecer memórias ruins”, explica, em artigo publicado no The Conversation.

O mecanismo está ligado ao hipocampo, região do cérebro essencial para a memória, onde ocorre a neurogênese adulta, nome dado à formação de novos neurônios ao longo da vida. Esses neurônios recém-formados integram-se às redes existentes, criando novas conexões e, ao mesmo tempo, enfraquecendo lembranças que não são mais necessárias.

“Essa reconexão nos permite esquecer certas coisas”, afirma o pesquisador. Pesquisas com camundongos mostraram que o aumento da neurogênese após traumas reduz memórias dolorosas e sintomas de estresse pós-traumático.

‘Fertilizantes” para os neurônios

O exercício físico é apontado como um dos principais gatilhos desse processo. De acordo com o professor, “exercícios aeróbicos moderados, como caminhada rápida, corrida ou ciclismo, parecem especialmente eficazes, embora o treinamento de força também possa trazer benefícios”.

Ele ressalta que substâncias liberadas durante a atividade, como o BDNF [Brain-Derived Neurotrophic Factor, ou Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro, proteína produzida naturalmente pelo sistema nervoso], funcionam como “fertilizantes” para os neurônios, estimulando seu crescimento e conectividade.

Zudaire menciona ainda que estudos em redes neurais artificiais ajudam a entender o fenômeno. Ao inserir “novos neurônios” (renovar conexões) nesses sistemas, a capacidade de aprendizado e adaptação aumenta. Esse modelo sugere que o cérebro humano usa a neurogênese para evitar sobrecarga cognitiva, romper padrões antigos e criar espaço para novas experiências e memórias.

Prazo para os efeitos

O professor adverte, no entanto, que há um prazo para que o efeito seja mais eficaz: “Essa forma saudável de esquecimento só funciona enquanto as memórias ainda dependem do hipocampo. Se esperarmos muito e a memória se tornar distribuída por todo o cérebro, ela ficará menos suscetível a mudanças, por mais exercícios que façamos”.

A conclusão, segundo Zudaire, é que se exercitar não apenas melhora o humor, mas pode ajudar a “redefinir o cérebro”, permitindo esquecer biologicamente memórias traumáticas e se adaptar melhor.

“Resumindo: o exercício não só nos faz sentir melhor, como também pode nos ajudar a redefinir nossos cérebros. Não apenas enterrando memórias antigas, mas também nos ajudando a esquecê-las de uma perspectiva biológica. Tudo parece indicar que o cérebro precisa dessa neurogênese para nos ajudar a esquecer, nos adaptar e seguir em frente”, diz.

Ou, como ele brinca, “pelo menos dessa vez, seu amigo de academia estava certo”.

Redação/Revista Forum
Foto Reprodução: Pixabay 

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