Num momento em que o Brasil vive uma reconfiguração silenciosa, porém estratégica, do seu xadrez político, dois movimentos antagônicos se destacam no Nordeste e expõem realidades muito distintas: de um lado, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), se aproxima do campo progressista e ensaia uma aliança com o governo Lula. De outro, o senador paraibano Efraim Filho (União Brasil) dobra a aposta no bolsonarismo, mesmo diante de uma base eleitoral majoritariamente refratária à extrema direita.
É, no mínimo, uma jogada arriscada.
A aposta de Efraim no desgaste
Ao assinar recentemente um requerimento pelo impeachment do ministro Alexandre de Moraes, um dos pilares do Supremo Tribunal Federal e símbolo de resistência ao extremismo antidemocrático, Efraim consolida sua guinada ideológica à direita mais radical. A movimentação ganha contornos ainda mais audaciosos com sua recente associação pública à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, durante visita à Paraíba para oficializar apoio à sua possível candidatura majoritária em 2026.
O problema é que o cenário para essa narrativa bolsonarista no Nordeste já mostrou, repetidas vezes, seu limite. Basta observar o desempenho de nomes como Nilvan Ferreira, Bruno Roberto e o próprio ex-ministro Marcelo Queiroga, todos derrotados nas urnas em disputas onde o bolsonarismo foi protagonista. Efraim, que sempre se vendeu como um político pragmático e técnico, agora parece desprezar as evidências, optando por uma identidade ideológica que encontra forte rejeição no eleitorado paraibano.
Raquel Lyra e a lógica da sobrevivência política

Na contramão, Raquel Lyra, governadora de Pernambuco, que em 2022 marchou ao lado de Bolsonaro entendeu com agilidade a mudança dos ventos e busca hoje construir pontes com o Palácio do Planalto. Flerta com Lula, dialoga com ministros petistas e ensaia dividir o protagonismo lulista em Pernambuco com João Campos (PSB), nome natural da base federal no estado.
É a velha e conhecida arte da sobrevivência política, movida por conveniência e cálculo. Mas, convenhamos: conveniência também é estratégia. Raquel percebeu que, para continuar governando e ter influência no futuro cenário eleitoral de 2026, não poderá remar contra a maré de popularidade de Lula no Nordeste, região que deu ao petista suas maiores vitórias nas últimas eleições.
Efraim arrisca tudo e pode sair sem nada
A pergunta que se impõe é: qual a estratégia real de Efraim Filho? Por que apostar em um segmento político que encontra cada vez menos ressonância entre prefeitos e lideranças locais? A visita de Michelle Bolsonaro à Paraíba, ao invés de fortalecer sua base, parece ter provocado rachaduras, com relatos de perda de apoio entre gestores municipais.
Se a leitura é conquistar o eleitorado de direita órfão de lideranças, o movimento parece precoce e solitário. Se é garantir um espaço como alternativa à esquerda, o risco de isolamento político é ainda maior. O senador corre o sério risco de construir uma narrativa que só fala a uma bolha e ser engolido por ela.
Cálculo político ou suicídio eleitoral?
Enquanto Raquel joga com inteligência, adaptando-se ao novo ciclo político, Efraim parece caminhar em direção ao abismo, embalado por uma aposta que já deu errado para muitos. O tempo dirá se ele enxergou o que ninguém viu ou se está apenas sendo o último a sair de um navio que já afundou no Nordeste.
No xadrez político, quem não muda de posição na hora certa pode virar peão de um jogo que já perdeu.
Redação/ExpressoPB
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