A tentativa do Portal Paraíba 2.0 de desconstruir a denúncia de violência política de gênero praticada contra a prefeita Lucinha da Saúde feita em artigo assinado pelo editor de EXPRESSO, Paulo Sérgio, revela mais do que um viés editorial, escancara uma visão seletiva da realidade e um profundo desconhecimento (ou negação conveniente) do que de fato caracteriza esse tipo de violência.
O artigo publicado com o título “Escudo da vitimização não substitui a responsabilidade” é emblemático por aquilo que diz e principalmente pelo que omite. A crítica se debruça com afinco sobre a reação da prefeita diante de um vídeo repleto de insinuações machistas, mas em nenhum momento analisa o conteúdo do vídeo em si. Nenhuma linha sobre a afirmação de que Lucinha “foi inventada por um homem”. Nenhuma palavra sobre a insinuação de que sua autonomia política seria “traição”. Nenhum repúdio ao termo “sombra,” usado como metáfora de submissão e posse.
Ignorar esse contexto é normalizar a violência simbólica contra mulheres que ocupam espaços de poder. É transformar em “opinião” aquilo que, na prática, é deslegitimação baseada em gênero.
Ao afirmar que “recorrer à pauta de gênero como blindagem política enfraquece a luta das mulheres”, o artigo do Paraíba 2.0 comete o mesmo erro histórico de tantos outros discursos que acusam mulheres de vitimismo sempre que elas se posicionam contra a opressão. Não é “blindagem”, é resistência. Não é “vitimização”, é enfrentamento a um sistema que insiste em reduzir mulheres ao papel de coadjuvantes, especialmente quando ousam liderar.
Se o vídeo tivesse sido direcionado a um homem, haveria insinuação de que ele deve submissão a quem o indicou? Haveria dúvida sobre sua legitimidade política? Haveria a metáfora da “sombra”? Provavelmente não. Isso é machismo estrutural, mesmo quando travestido de crítica política.
Mais grave ainda é o silêncio da imprensa diante dessa linguagem carregada de violência simbólica. Ao não condenar, ou sequer mencionar, o teor do vídeo, o Paraíba 2.0 se torna cúmplice da tentativa de desqualificação da prefeita enquanto mulher. Quando um veículo escolhe mirar sua crítica apenas na reação de quem sofre violência, e não no conteúdo de quem a pratica, ele escolhe um lado. E não é o lado da democracia, da equidade ou da justiça.
Não se trata de Lucinha como mulher apenas. Trata-se do direito de qualquer mulher ser reconhecida como líder legítima, com voz própria, com autonomia, sem precisar ser grata eternamente a quem a precedeu.
Responsabilidade não anula violência. E a crítica política não pode servir de escudo para o machismo.
Lucinha é alvo de denúncias? Que se investigue. Mas é também alvo de um discurso que tenta submetê-la, desqualificá-la e silenciá-la por ser mulher. E isso, sim, precisa ser denunciado com força, coragem e com todas as letras. Porque se hoje calamos diante de um vídeo tendencioso, amanhã estaremos permitindo que mulheres sejam caladas nas urnas, nos palanques e nas cadeiras de comando. E isso é inadmissível.
Redação/ExpressoPB
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