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ANÁLISE | A repetição da violência política de gênero em Marí: O caso de Lucinha da Saúde e o espelho de Vera Pontes

A célebre frase atribuída a Karl Marx, parafraseando Hegel — “a história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa” — cabe com perfeição na análise da política mariense. Passados mais de 25 anos da gestão da ex-prefeita Vera Pontes, Marí volta a assistir a um ciclo de ataques sistemáticos contra uma mulher no poder. Desta vez, a vítima é a atual prefeita Lucinha da Saúde.

Em um tempo em que pouco ou nada se falava sobre violência política de gênero, Vera enfrentou uma dura e constante resistência durante sua gestão. Se os ataques contra Vera foram brutais, os direcionados a Lucinha assumem contornos ainda mais sofisticados e perigosos — alimentados pela tecnologia, pela desinformação digital e pelo discurso de ódio em redes sociais.

O contexto mudou, os meios evoluíram — do panfleto impresso à inteligência artificial —, mas a estrutura de deslegitimação permanece. Em comum, tanto Vera quanto Lucinha carregam o peso de serem mulheres que romperam a hegemonia masculina na política local.

Entre os personagens que protagonizam essa narrativa cíclica está o “comunicador independente” Wagner Ribeiro. O que era feito com papel, microfones e cópias de xerox em 1998, hoje se transformou em uma máquina digital altamente eficiente e destrutiva. O mesmo Wagner Ribeiro, agora mais experiente e adaptado às novas tecnologias utiliza redes sociais, plataforma de blogs e até ferramentas de inteligência artificial para distribuir conteúdos sistematicamente críticos à atual prefeita, Lucinha da Saúde, ampliando o dano, não apenas à imagem institucional da prefeita, mas também à integridade de sua família e aliados.

Com ele [Wagner] uma legião de “ativistas” reproduzem seu conteúdo, sincronizam ações de linchamento público da prefeita, da gestão, dos gestores, dos familiares e dos que se aproximam com opiniões simpáticas a prefeita.

Diferente de Vera, que enfrentava limitações geográficas na difusão das críticas, Lucinha lida com a rapidez e o alcance quase ilimitado da internet. Em segundos, qualquer postagem — seja ela verídica ou recheada de desinformação — pode atingir milhares de pessoas, moldando percepções e inflamando sentimentos. E é justamente esse o perigo. O ativismo político disfarçado de jornalismo opinativo tem sido uma das principais armas usadas contra a atual gestora.

Sob o pretexto de fiscalizar e informar, Lucinha e seus familiares são frequentemente alvos de conteúdos que expõem rostos, salários, vínculos pessoais e supostas decisões de governo — tudo isso acompanhado de uma narrativa sensacionalista, construída para causar indignação pública. A estratégia é clara: desmoralizar, isolar e enfraquecer uma mulher que, legitimamente, ocupa um cargo majoritário conquistado pelo voto popular.

As acusações veladas, a exposição de dados pessoais, a disseminação de boatos e a construção de uma narrativa de ódio criam um ambiente tóxico que ultrapassa os limites do embate político saudável. Informações distorcidas, manchetes sensacionalistas e conteúdo enviesado se tornam combustível para um discurso de revanchismo e violência — com consequências reais e graves. Nos bastidores, já circulam relatos de ameaças de morte contra familiares da gestora, o que eleva o caso a uma nova e perigosa escala.

É importante destacar que Lucinha enfrenta um cenário ainda mais desafiador do que Vera Pontes enfrentou: além da oposição natural que qualquer governante tem, ela ainda precisa lidar com traições internas, com antigos aliados que hoje se voltam contra ela. Isso amplia o cerco e deixa a gestora vulnerável não só politicamente, mas emocional e socialmente.

A história de Marí nos convida a uma reflexão urgente: até quando a cidade — e a sociedade — tolerará que o jogo político se transforme em campo de linchamento de mulheres? O debate democrático precisa de crítica, mas também de responsabilidade. E, sobretudo, de respeito à decisão soberana do povo, que, mais uma vez, confiou a uma mulher a missão de governar.

Redação/ExpressoPB
Foto Reprodução 

 

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