Uma polêmica envolvendo o nome do padre Fábio de Melo durante a tradicional festa de São João em Nordestina, interior da Bahia, tomou as redes sociais e gerou indignação entre fiéis e artistas da música católica. O Ministério Sinal da Cruz, banda católica confirmada na programação oficial do evento, acusa a equipe do sacerdote de impedir sua apresentação no palco principal, na noite da última quarta-feira, 26 de junho.
A “Sinal da Cruz” é uma banda formada na sua maioria por jovens negros de Conceição do Coité, no interior da Bahia.
Segundo relatos da própria banda, o grupo chegou ao local com antecedência para montar seus equipamentos, mas foi surpreendido pela postura intransigente da equipe de Fábio de Melo, que também se apresentaria naquela noite. Embora não tenha sido nomeado diretamente nas primeiras declarações, o sacerdote era o único artista de grande renome escalado para o evento, além do próprio Ministério Sinal da Cruz.
“Infelizmente, a apresentação não pôde acontecer como o planejado”, diz a nota publicada pelo grupo nas redes sociais. “Por motivos diversos, entre eles a irredutibilidade da equipe de um artista de grande renome presente no evento, não foi possível realizar a montagem do nosso equipamento no palco principal.”

Constrangimento e frustração
O produtor da banda, Anderson Annds, gravou um vídeo — posteriormente apagado — detalhando os constrangimentos enfrentados. Segundo ele, ao tentar iniciar a montagem dos instrumentos, a equipe do padre teria se recusado a ceder espaço e tempo no palco. “Desde cedo tentamos conversar, ajustar a melhor maneira de não atrapalhar o show dele e nem a nossa participação na missa. Mas não houve diálogo”, disse.
O episódio ganhou contornos ainda mais delicados após o relato de que um dos membros da equipe do sacerdote teria tratado os músicos com arrogância. “Quando chegou o horário da missa, que a gente também ia tocar, eles não permitiram porque tinham que montar o equipamento deles. Um deles falou: ‘Quem é o mais importante aqui hoje? Não é o Fábio de Melo?’”, relatou Annds.
Apesar da frustração, o grupo permaneceu na cidade e participou da celebração da Santa Missa, que precisou ser transferida para uma área inferior, sob toldos. “Ali, entregamos a Deus o nosso louvor, mesmo em meio às limitações”, escreveu o grupo, agradecendo o apoio da Paróquia São João Batista, do padre Lucivaldo França, da prefeitura e da Pastoral da Comunicação local.
Silêncio de Fábio de Melo e ausência de posicionamento oficial
Até o fechamento desta edição, nem o padre Fábio de Melo nem sua equipe haviam se manifestado sobre o ocorrido. O sacerdote publicou trechos de sua apresentação nas redes sociais, sem qualquer referência ao caso. A prefeitura de Nordestina também não emitiu nota oficial a respeito da denúncia feita pelo Ministério Sinal da Cruz.
A ausência de esclarecimentos por parte dos organizadores e do artista amplificou a insatisfação entre seguidores da banda e membros da comunidade católica local. “Foram meses de trabalho intenso, ensaios e preparação para entregar um dos melhores shows da nossa história. Infelizmente, o que vivemos no dia do evento foi decepcionante e frustrante”, lamentou Annds.
A indignação nas redes sociais cresceu quando veio à tona o valor pago pela prefeitura de Nordestina ao padre. Segundo dados do Painel de Transparência dos Festejos Juninos, mantido pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA), a apresentação de Fábio de Melo custou aos cofres públicos R$ 300 mil.
Histórico recente de polêmicas
Esta não é a primeira vez que o nome do padre Fábio de Melo aparece em meio a controvérsias. Há cerca de dois meses, o religioso se envolveu em outra polêmica após reclamar publicamente do atendimento recebido em uma loja de chocolates em Santa Catarina, o que resultou na demissão de um dos funcionários da empresa.
Na internet, internautas se dividem: enquanto alguns criticam a suposta postura de estrelismo por parte da equipe do padre, outros afirmam que o episódio precisa ser apurado com responsabilidade antes de se formar um julgamento público.
O caso também reacendeu o debate sobre o espaço dado a artistas independentes e menos conhecidos em grandes eventos religiosos e culturais. A nota final do Ministério Sinal da Cruz reforça essa perspectiva: “Seguimos firmes na missão de evangelizar através da música, certos de que Deus transforma cada desafio em aprendizado e graça. Que tudo seja para a maior glória de Deus.”
Enquanto isso, o público aguarda um posicionamento oficial de Fábio de Melo ou de sua produção. A expectativa é de que os envolvidos esclareçam os fatos e que a situação sirva de alerta para que episódios semelhantes não se repitam em eventos que deveriam ser pautados pelo espírito cristão de partilha, acolhimento e respeito mútuo.
Leia a nota oficial do Ministério Sinal da Cruz

Redação/Forum
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