O primeiro-ministro da Austrália, de centro-esquerda, Anthony Albanese, venceu as eleições nacionais neste sábado (3) e se reelegeu para mais um mandato, derrotando de forma esmagadora seu rival conservador em uma disputa marcada por turbulências econômicas e pela influência de Donald Trump.
Segundo analistas, a liderança cautelosa e constante de Albanese ressoou em um momento de tumulto global, levando eleitores a abandonarem em massa o opositor linha-dura Peter Dutton.
Além de o Partido Trabalhista de Albanese estar a caminho de conquistar uma maioria parlamentar inesperadamente ampla, o ex-policial Dutton sofreu a rara humilhação de perder seu próprio assento no parlamento.
“Hoje, o povo australiano votou pelos valores australianos. Pela justiça, aspiração e oportunidades para todos”, declarou Albanese a uma multidão entusiasmada em seu discurso de vitória.
“Neste momento de incerteza global, os australianos escolheram o otimismo e a determinação”, acrescentou.
Apoiadores eufóricos do Partido Trabalhista brindaram com cervejas artesanais estampadas com o rosto de Albanese em uma festa em Sydney, entoando o apelido “Albo” enquanto os resultados eram anunciados na TV.
Albanese prometeu investir em energia renovável, enfrentar a crescente crise habitacional e destinar recursos a um sistema de saúde em colapso.
Dutton, por sua vez, queria reduzir a imigração, reprimir a criminalidade e acabar com a proibição histórica da energia nuclear.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, projetou uma longa sombra sobre a campanha eleitoral de seis semanas, despertando grande interesse internacional sobre se o caos econômico causado por suas tarifas teria influência no resultado.
“Em tempos de instabilidade, espera-se que as pessoas recorram a um incumbente mais estável”, disse Henry Maher, professor de política da Universidade de Sydney, à AFP.
A proposta de Dutton de reduzir o funcionalismo público incomodou muitos, lembrando cortes semelhantes promovidos por Elon Musk que causaram caos nos Estados Unidos.
Sua proposta principal de instalar reatores nucleares por todo o país também foi amplamente vista como um fardo.
“Nosso governo escolherá o caminho australiano”, disse Albanese no sábado à noite. “Não precisamos implorar, pedir emprestado ou copiar de nenhum outro lugar. Não buscamos nossa inspiração no exterior.”
“Mais louco que uma cobra cortada”
Eleitores famintos saborearam as tradicionais “salsichas da democracia” após votarem — um rito típico no dia da eleição — enquanto outros, em trajes de banho chamativos, se apertavam nas cabines de votação depois de um mergulho matinal.
Antes mesmo de a primeira cédula ser contada, já havia especulação sobre se Dutton conseguiria sobreviver politicamente à derrota.
“Não fomos bem o suficiente nesta campanha. Isso está evidente esta noite, e eu assumo total responsabilidade”, disse Dutton a seus apoiadores em seu discurso após a divulgação dos resultados.
Algumas pesquisas prévias mostravam que Dutton perdia apoio devido a Trump, a quem ele se referiu como um “grande pensador” no cenário global.
“Quer dizer, o Donald Trump é mais louco que uma cobra cortada, e todos sabemos disso”, disse o eleitor Alan Whitman, de 59 anos, antes de votar no sábado.
O voto é obrigatório na Austrália, com multas de 20 dólares australianos (cerca de 13 dólares americanos), o que leva a taxas de participação superiores a 90%.
Preços altos
Com os australianos se voltando contra Trump, tanto Dutton quanto Albanese adotaram um tom mais combativo.
“Se eu precisasse brigar com Donald Trump ou qualquer outro líder mundial para defender os interesses da nossa nação, faria isso sem hesitar”, disse Dutton em abril.
Albanese condenou as tarifas de Trump como um ato de “autossabotagem econômica” e “não condizente com o de um amigo”.
Questões econômicas dominaram a disputa, com muitas famílias australianas lutando para pagar os preços inflacionados do leite, pão, energia e gasolina.
“O custo de vida está altíssimo neste momento. Os impostos também, é outra questão muito importante. Preço da gasolina, tudo o básico”, afirmou a gerente de RH Robyn Knox à AFP, em Brisbane.
O pequeno empresário Jared Bell compartilhou preocupações semelhantes.
“Nossas compras de supermercado estão, com certeza, muito mais caras do que há alguns anos”, disse ele.
Tropeços na campanha
O governo de Albanese tem se alinhado à onda global de descarbonização, alertando para um futuro em que as exportações de minério de ferro e carvão poluente não sustentarão mais a economia.
A campanha de 36 dias foi em grande parte contida, mas contou com alguns momentos inesperados de leveza.
Albanese caiu para trás do palco em um comício lotado, enquanto Dutton feriu um cinegrafista ao acertar acidentalmente sua cabeça com uma bola de futebol.
Redação/© Agence France-Presse via Forum
Foto Reprodução/Créditos: Saeed KHAN / AFP