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Casal chicoteado por relação homossexual: o que é a sharia, lei islâmica estrita que determina a punição

Nesta quinta-feira, dois estudantes foram açoitados em público depois que foram declarados culpados de manter um relacionamento homossexual por um tribunal islâmico na Indonésia, o país muçulmano mais populoso do mundo. Mas, na província conservadora de Aceh, o que determina a punição é a sharia, a lei religiosa islâmica.

A sharia é o sistema de leis islâmicas derivado do Alcorão (livro sagrado do Islã), da suna — tradições do profeta Maomé — e da interpretação dos estudiosos islâmicos ao longo da história. Ela abrange não apenas questões religiosas e morais, mas também aspectos cíveis, criminais e familiares.

A aplicação da sharia varia de acordo com o país e a escola de pensamento islâmico seguida. No caso das relações homossexuais, a maioria das interpretações tradicionais da sharia considera as relações pecaminosas e proibidas. Isso se baseia principalmente em trechos do Alcorão e dos hadiths — ditos e ações do profeta Maomé —, que condenam atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo.

Um membro da polícia da Sharia açoita um homem considerado culpado de relações sexuais com outro homem sob a estrita lei islâmica da sharia — Foto: YASUYOSHI CHIBA / AFP
Um membro da polícia da Sharia açoita um homem considerado culpado de relações sexuais com outro homem sob a estrita lei islâmica da sharia — Foto: YASUYOSHI CHIBA / AFP

A punição para relações homossexuais varia bastante a partir de como a sharia é aplicada em cada país. Em alguns, como Irã, Arábia Saudita, Afeganistão e partes da Nigéria, atos homossexuais podem ser punidos com pena de morte ou prisão severa. Em outros, como Indonésia e Egito, a aplicação da sharia pode resultar em punições como prisão, multas ou punições corporais, como as chibatadas aplicadas nesta semana no jovem casal.

Embora a interpretação tradicional da sharia condene as relações homossexuais, sua aplicação varia muito de acordo com o país e a corrente islâmica seguida. Há também estudiosos e muçulmanos progressistas que argumentam por uma interpretação mais inclusiva, enfatizando valores como compaixão, privacidade e liberdade pessoal, sugerindo que as punições severas não seriam compatíveis com o contexto atual.

Estudantes condenados a mais de 80 chicotadas

 

Dois estudantes foram açoitados em público nesta quinta-feira (27) depois que foram declarados culpados de manter um relacionamento homossexual por um tribunal islâmico na província conservadora de Aceh. A flagelação começou antes do meio-dia em um parque na capital provincial, Banda Aceh.

Dois homens indonésios chegam para comparecer à audiência em um tribunal da Sharia — Foto: CHAIDEER MAHYUDDIN / AFP
Dois homens indonésios chegam para comparecer à audiência em um tribunal da Sharia — Foto: CHAIDEER MAHYUDDIN / AFP

Um homem, acusado de instigar o relacionamento, recebeu 82 chicotadas, enquanto o outro recebeu 77. As sentenças dos homens foram reduzidas em três chicotadas devido aos três meses que passaram detidos.

As punições foram aplicadas diante de dezenas de pessoas. Grupos de defesa dos direitos criticaram a punição e acusaram uma tendência de discriminação contra a população LGBTQ no país.

“A intimidação, discriminação e abusos contra pessoas LGBTQ em Aceh são como um poço sem fundo”, declarou à AFP Andreas Harsono, pesquisador para a Indonésia da Human Rights Watch.

Redação/OGlobo
Foto Reprodução/ YASUYOSHI CHIBA / AFP 

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