A alta nos alimentos é um dos principais desafios dos consumidores brasileiros atualmente. Afinal, a cada ida ao supermercado, os preços de determinados produtos da cesta básica sofrem alteração nas gôndolas – e é para mais. Em 2024, a inflação oficial brasileira, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fechou em 4,83%, segundo o IBGE. E qual item apresentou o maior aumento? Os alimentos.
O grupo passou de 1,03% em 2023 para 7,69% no ano seguinte, superando educação (6,70%), saúde e cuidados pessoais (6,09%), despesas pessoais (5,13%), transportes (3,30%), habitação (3,06%), comunicação (2,94%), vestuário (2,78%) e artigos para residência (1,31%).
Outra curiosidade foi o quarto aumento seguido em alimentação no mês de dezembro, com 1,18%. As carnes subiram 20,84% em 2024, segundo o IPCA, após queda de 9,37% em 2023. No caso do café, a alta nas gôndolas do varejo foi de 46,1% no mesmo período.
O que explica essa alta?
De acordo com Felippe Serigati, pesquisador da FGV Agro, nem sempre são os alimentos que puxam a inflação, pois os preços costumam ser voláteis. No entanto, três fatores foram os responsáveis pela elevação observada atualmente.
“De um lado, as condições climáticas acabaram influenciando a oferta e o volume da produção. Do outro, a demanda ficou aquecida tanto no mercado interno como no externo para produtos do agro brasileiro. E, no meio do caminho, tivemos uma valorização do dólar. Então, podemos dizer que essa é a combinação que explica a alta do acumulado”.
O clima
Os alimentos mais afetados por eventos extremos em 2024 foram grãos, café, cana-de-açúcar e suco de laranja.
No primeiro semestre, o fenômeno El Niño causou seca e temperaturas acima da média em países produtores de grãos do sudeste asiático, Índia e centro-norte da América do Sul, incluindo o Brasil, com quebras na safra. Em seguida, queimadas prejudicaram pomares de laranja em São Paulo e diversos canaviais pelo país.
“O mundo e, principalmente a Europa, vieram ao Brasil para importar um volume maior do nosso café conilon, mas a safra também não foi tão boa e operou abaixo do seu potencial. Sem contar que a florada no segundo semestre foi afetada por escassez hídrica e temperaturas acima da média”, observa Serigati.
Demanda alta
O mercado aquecido, tanto nacional como internacional, causou a elevação do preço da carne ao longo de 2024. Ao mesmo tempo em que a procura interna se manteve grande, fornecedores importantes do exterior procuraram a proteína no Brasil devido a problemas em sua produção.
Um deles foi os Estados Unidos. O país sofre com a redução do rebanho, tendo o menor número desde a década de 1970, e a falta de mão de obra em frigoríficos. A Austrália também precisou recorrer, porque passa por um processo de recomposição do rebanho.
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“Quando olhamos para os mercados aquecidos, é importante explicar a questão das carnes. Não foi problema de oferta, pois abatemos uma quantidade recorde de bovinos em 2024. Por mais que tivemos problemas nas pastagens pela seca, o volume de abate foi grande. O preço subiu pela aquecida do mercado interno e do mercado externo”, descreve o pesquisador.
Além da carne bovina, o frango foi outro item com o preço em alta. Enquanto muitos países foram afetados pela gripe aviária, o Brasil mostrou que os protocolos sanitários funcionam bem e serviu o produto para exportação.
“Ao buscarem frango no mercado, o Brasil disse que tinha. E, nesse caso, a demanda fica aquecida. Não é culpa de ninguém, é consequência do sucesso brasileiro. Só tem lado bom nisso. Podemos, sim, ter o aumento do preço e pode causar algum desconforto, mas também é um incentivo para aumentar a oferta”, completa Serigati.
Na última semana, outro alimento que tem chamado a atenção é o ovo, com reajustes que já chegam a 40% em diversas regiões do país, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). A baixa oferta de ovos no mercado interno e o aumento da demanda das proteínas são os principais responsáveis, mas outros fatores também influenciam: o calor excessivo, que afeta a produtividade das aves, e o aumento no custo de produção.
Dólar
Por último, o aumento da moeda americana também influenciou nas cotações, explica Felippe Serigati. “De um lado, tivemos o fortalecimento do dólar devido à eleição do Trump, o que deve aquecer a economia americana e fazer com que a taxa de juros por lá opere em um patamar mais alto do que inicialmente estava sendo projetado. Mas não aconteceu apenas quando ele foi eleito, aconteceu ao longo do ano porque estavam com um problema fiscal difícil de resolver”, afirma o especialista.
Da redação/ Com Globo Rural