Os brasileiros deportados dos Estados Unidos que chegaram na noite deste sábado (25) a Minas Gerais relataram, após o desembarque no Aeroporto de Confins, que sofreram tortura e agressões por parte de agentes de imigração norte-americanos.
O voo com 158 pessoas a bordo – sendo 88 brasileiros – precisou fazer um pouso de emergência na noite da sexta-feira (24) em Manaus (AM), devido a problemas técnicos. O grupo ficou horas preso dentro da aeronave, sem ar condicionado, e dormiu de forma improvisada. Todos estavam algemados e acorrentados.
“Fique 50 horas acorrentado no braço, na barriga e nos pés. Sem poder ir ao banheiro. Se fosse, ficava com a porta aberta. Estávamos suados, as crianças chorando. Pedimos para sair [do avião] e não deixaram. Um deles me agrediu, me enforcou, não sei quem é o segurança. A gente pedia para tirar as algemas, meu braço está inchado”, contou Jeferson Maia à BandNews TV.
Além dos relatos de abusos durante o voo, os brasileiros detalharam também que sofreram uma série de violências quando estavam detidos em solo norte-americano esperando para saber se teriam a estadia regularizada ou se seriam deportados.
“Fiquei 8 meses no processo [de deportação], achando que poderia sair, mas na verdade não consegui. Fiquei 8 meses em um lugar quente, sendo torturado psicologicamente, não me alimentando bem, sem saber o que ia acontecer. Foi muito difícil”, relatou Deividson Toledo.
Governo ordenou retirada das algemas
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, orientou a Polícia Federal no sábado (25) a recepcionar os brasileiros deportados dos Estados Unidos em Manaus e determinar às autoridades norte-americanas a “imediata retirada das algemas”, citando “flagrante desrespeito aos direitos fundamentais dos cidadãos”.
De acordo com comunicado do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Lewandowski informou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) da situação, que determinou que uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) fosse mobilizada para transportar os brasileiros até o destino final, Minas Gerais, “de modo a garantir que possam completar a viagem com dignidade e segurança”.
A pasta enfatizou que a” dignidade da pessoa humana é um princípio basilar da Constituição Federal e um dos pilares do Estado Democrático de Direito, configurando valores inegociáveis”.
Ministra diz que denúncias são graves
Macaé Evaristo, ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, afirmou à imprensa após o desembarque no grupo no Aeroporto de Confins que a pasta acompanha a situação e se prepara para tomar providências caso aconteça uma “escalada” na quantidade destes voos.
“As denúncias são muito graves de violação. Tinha em uma mesma aeronave famílias, crianças, crianças com autismo, algum tipo de deficiência, que passaram por situações muito graves. Ficaram muito tempo dentro da aeronave, esperando o desembarque em Manaus. Foram mais de 4 horas com as portas fechadas, calor insuportável. Nossa tarefa é fazer um acolhimento humanitário. Em Minas Gerais, acionamos a Secretaria de Assistência Social e pedimos apoio da prefeitura de Belo Horizonte, e fomos atendidos.”
Nossa proposta é, se tiver escalada desses voos, trabalhar para ter um posto de atendimento humanitário a tosos os brasileiros que estão retornando para casa.
Agenda anti-imigração dos EUA
Este foi o segundo voo que trouxe deportados brasileiros ao Aeroporto de Confins neste ano. O primeiro chegou no dia 10 de janeiro, ainda durante o governo do democrata Joe Biden, com 100 pessoas a bordo. O novo presidente, o republicano Donald Trump, prometeu intensificar a agenda anti-imigração.
Uma estimativa do governo norte-americano aponta que o país tem quase 5 milhões de imigrantes ilegais, dos quais 230 mil seriam brasileiros.
“O presidente Trump está enviando uma mensagem forte e clara ao mundo inteiro: se você entrar ilegalmente nos Estados Unidos da América, enfrentará consequências severas”, escreveu a nova porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, na rede social X.