Nada, absolutamente nada está acima da vida humana. Aliás, o bem mais precioso de um ser é a vida. Mas o que dizer quando alguém responsável pela saúde e qualidade da vida de outrem troca seu compromisso ético por seu ativismo político? Nenhum profissional de saúde é proibido ou deve se eximir de seu direito de cidadão de escolher um partido, um candidato ou um lado, mas esse direito cidadão não pode se sobrepor a ética profissional e seu juramento na hora de sua formatura.
Quem em Marí – que votou contrário a candidata oficial – tem coragem de colocar sua vida nas mãos de um determinado ‘profissional de saúde’, coordenador de um núcleo de saúde pública que a julgar por sua “vulgaridade” em grupos de whatsaap e nas mesas de bares da cidade oferece perigo ao exercer a sua profissão? Ninguém em sã consciência, eleitor declarado do candidato adversário da prefeita eleita, se arriscaria colocar a sua vida nas mãos desse jovem rapaz profissional de saúde que atua no serviço público local.
Alguém tem que ter a coragem de falar para esse rapaz (quem terá? talvez o Conselho Regional de Enfermagem ou órgão similar) que seu comportamento de ativista político – ele é apenas um no meio da multidão – não condiz com o que deveria ser um profissional de saúde comprometido com a vida de uma população inteira, independente de quem votou ou não na sua escolhida, pois ele tem uma responsabilidade social universal.
Outro dia, antes mesmo da campanha começar, o mesmo personagem deste texto havia revelado em mesa de bar seu desejo – após cerca de uma dúzia de cerveja consumida – que uma comunicadora local merecia um tiro na testa por não alinhar suas ideias políticas com as dele.
Na Ítália de 1920, queimar hereges ou dissidentes/adversários e rir vulgarmente de suas vítimas era atitude dos fascistas admiradores do Mussolini, mas certamente o dito cujo não leu história na escola e não saberá nem do que estamos falando ou do contexto que isso se deu.
Mas, vamos recordar o caso mais contemporâneo, quando dona Marisa Letícia – talvez ele não seja admirador de Dona Mariza porque deve ser bolsonarista de carteirinha – teve sua dignidade humana desrespeitada por profissionais de saúde – quem sabe com o mesmo perfil deste – na hora de sua morte apenas por ser esposa de Lula e/ou divergirem ideologicamente.
O ativismo político dessa gente chega a dar nojo, alhures e aqui. No caso de Dona Marisa, um show de horrores que se estendeu para o whatsaap “com a observação insana de um neurocirurgião que trabalhava na Unimed de São Roque. Em resposta ao comentário da colega, ele expressa o desejo de que o procedimento dê errado e Marisa “abrace logo o capeta”. A barbaridade ganha impulso com o ódio destilado, nas redes antissociais, por cidadãos de todas as profissões e desocupados de todo tipo.”.
Por essas bandas, meia dúzia de fanáticos, acastelados nas tetas da prefeitura sob o olhar e a permissão do “Odorico Paraguaçu” mariense, vive de insultar, ameaçar e amedrontar todos os que divergem de suas escolhas, desde pessoas do povo, autoridades eclesiásticas, profissionais da imprensa, dentre outros.
Cabe-nos dizer que é preciso avisar ao jovem rapaz que é pago com dinheiro do imposto do cidadão para cuidar da vida das pessoas que desça do alto de sua ‘vulgaridade política’ e contenha os seus instintos mais primitivos, do contrário não tem como confiar no seu trabalho como um profissional que cuida da vida das pessoas.
Diz Contardo Calligaris, em seu livro “O sentido da Vida” que ao estudar os grupos totalitários na Europa, conseguiu entender que “os totalitarismos teriam menos chances de existir e de se consolidar se todos nós, rigorosamente e sistematicamente, nunca achássemos graça nas piadas dos idiotas […]”; e é justamente isso que o ‘idiota útil’ do sistema político local precisa entender.
Da parte do cidadão que paga seu imposto a vigilância para não permitir que o idiota vulgar que está com a agulha ou o bisturi na mão não cometa atrocidade com a vida das pessoas apenas porque elas não compactuam de suas ideias e escolhas políticas.
Por fim, recorro mais uma vez a Calligaris, para dizer que “nada atrapalha tanto um idiota quanto a eventualidade de que, quando ele conta uma piada, nem todo mundo ache engraçado ou sinta a necessidade de rir com ele.”. Aos idiotas fanáticos políticos de alhures ou daqui a nossa resistência. Ou resistimos ou eles nos matam, seja a nossa liberdade ou nos aplicando veneno na veia despudoradamente na sala do hospital ou na mesa de um bar, afinal não faz diferença para ele, o desejo menos perigoso ele mesmo revelou sob o testemunho de seus pseudos amigos que faltava a pistola e a bala, mas não a vontade de exterminar alguém que não votava na sua candidata.
Editorial |ExpressoPB – 07/11/2024