Cacique Serere, apoiador de Bolsonaro, recebeu mais de R$ 80 mil em financiamento para atos golpistas

Publicado em sexta-feira, novembro 17, 2023 · Comentar 


A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, da Câmara Legislativa (CLDF), quebrou o sigilo bancário do cacique José Acácio Serere Xavante, conhecido como cacique Serere, e descobriu uma relação obscura entre o indígena e um fazendeiro da região de Campinápolis, no Mato Grosso (MT).

De acordo com o relatório obtido pelos distritais, o cacique recebeu R$ 85.431,50 no período de novembro de 2022 a janeiro de 2023, para propagar o golpe, além de discursos contra a lisura das urnas eletrônicas no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, no Setor Militar Urbano (SMU), em Brasília. Parte desse montante, de R$ 17 mil, foi transferido pelo fazendeiro Maurides Parreira Pimenta, conhecido como Didi Pimenta.

À CPI, em 31 de agosto, o indígena disse que não conhecia o fazendeiro e que não recebeu nenhum valor para que ele viesse a Brasília acampar em frente ao quartel com outros indígenas. Os distritais, então, mostraram um vídeo de Pimenta, onde o fazendeiro cita ter “enviado oito ônibus com indígenas” e que “há 10 dias que nós estamos conseguindo mandá-los para lá e ajudá-los” — os indígenas são da região de Serere.

Na ocasião, o fazendeiro também pedia para que apoiadores fizessem Pix para ele ou para a própria conta de Serere, de R$ 30 a R$ 500, para ajudar a manter o movimento na capital federal. O indígena, que agora está em liberdade provisória, negou e disse que o fazendeiro quem estava mentindo. “Da minha consciência, estou falando a verdade. Esse (fazendeiro) pode até me conhecer, mas eu não conheço não. Eles estão falando de mim, mas nem conheço”, disse.

Com o documento em mãos, após a quebra de sigilo do cacique, é dado quase como certo de que Serere será indiciado pela CPI. “O dinheiro era para contratar ônibus, carro de som, certamente para manter o acampamento. Eu não tenho dúvidas de que ele será indiciado e ele terá muito a explicar à Justiça brasileira”, disse o presidente Chico Vigilante (PT).

Serere chegou a ser preso pela PF, em 12 de dezembro do ano passado, após a ordem de prisão ter sido expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A prisão dele motivou uma cena de guerra no centro de Brasília, de manifestantes tentando invadir à sede da Polícia Federal.

“Igreja enviou”
Quando prestou depoimento, Serere irritou os deputados, principalmente o relator Hermeto (MDB). Na ocasião, parte dos distritais acusaram o líder indígena de mentir.

Após a exibição do vídeo em que mostra Didi Pimenta pedindo Pix para Serere, o depoente negou. A reação do relator foi um misto de frustração e irritação. Ele repreendeu o líder indígena e ressaltou a importância da transparência nas falas. “O senhor quer falar a verdade, mas está subestimando minha inteligência. É brincadeira. No próprio vídeo ele falou que colocou Pix. O senhor já está preso. Até já cumpriu a pena. Não custa nada falar a verdade”, frisou.

Frente aos questionamentos do relator, o pastor indígena se manteve inflexível, respondendo a poucas perguntas. Somente reiterou fatos já questionados e afirmou que pagou a própria passagem para vir à Brasília participar dos protestos bolsonaristas. “Eu mesmo paguei. A igreja enviou para mim”, disse.

O deputado também perguntou sobre o teor violento dos vídeos das falas de Xavante. Apesar das evidências, o indígena reiterou que é contra a violência e “pedia para as pessoas não agirem com violência”. Essa disparidade entre os fatos foi logo apontada. “Isso está em contradição novamente. Diversos vídeos mostram uma retórica muito agressiva. Isso é democrático?”, perguntou Hermeto.

Por fim, Hermeto fez uma reflexão e destacou como uma grande contradição um líder indígena apoiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que teve em seu governo um grande distanciamento com o povo indígena. Xavante respondeu com uma nova pergunta. “É errado apoiar esse ex-presidente? Não posso ter escolha?”, indagou.

Redação/Polêmica Paraíba

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