Castro recebe a visita da imagem de São Sebastião no Palácio Guanabara, ao lado de Dom Orani — Foto: Rafael Campos/Governo od Estado/Divulgação
Só dois projetos viraram lei
As denúncias contra Crivella se multiplicavam. Pesquisas internas feitas pela Câmara mostravam o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) como favorito a substituí-lo, já que a lei municipal previa a realização de uma nova eleição em caso de impeachment àquela altura.
Castro foi um dos articuladores de um projeto que mudaria a lei orgânica do município, tornando a eleição indireta e diminuindo as chances de uma vitória do socialista. A proposta foi vetada.
No rápido mandato, Castro aprovou apenas dois projetos de autoria exclusiva.
Um que tomba a Festa do Cantinho das Concertinas, na Cadeg, como bem imaterial. Outro que obrigava a Prefeitura a usar recursos advindos de multas de trânsito.
“O Cláudio não era um cara de alta relevância até porque tinha acabado de entrar. Ele defendia especificamente o interesse da Igreja Católica”, diz um ex-vereador.
Apelido na Alerj
Com o afastamento de Witzel, suspeito de corrupção na Saúde fluminense, Castro passou a fazer a interlocução com a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Na Casa, assim como na Câmara, eram unânimes seus elogios no trato. Cordato, cordial, carinhoso e gentil foram alguns dos adjetivos usados pelos parlamentares.
Um observador do alto escalão concorda e diz que Castro promoveu a “lógica do loteamento político” no estado e tenta “montar uma base na Alerj para sobreviver no mandato“.
“É uma pessoa extremamente habilidosa. Conseguiu trazer pro governo dele pessoas que eram muito vinculadas ao então presidente (da Alerj, Jorge) Picciani, à base do governo Pezão. Um grande trânsito na Assembleia Legislativa. Por outro lado, diferente do Witzel, que tinha um discurso agressivo contra instituições, não tentou nenhuma interferência nos outros poderes”, afirma.
Nesta semana, pela primeira vez, teve um atrito na Assembleia. A votação do projeto para suspender o leilão da Cedae contrapôs governador em exercício e deputados.
Aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), eleito sob a agenda de privatizações, Castro determinou que o projeto aprovado na Alerj não tinha validade. E sinalizou sua fidelidade ao governo federal.
Castro saiu com a imagem arranhada depois que o presidente da Casa, André Ceciliano (PT), disse que ele ameaçou deputados.
Líder do governo, o deputado estadual Márcio Pacheco (PSC) saiu em defesa do governador.
“Cláudio Castro é, talvez, uma das pessoas mais cordatas e preparadas para o trato político que eu conheço”.
Atuação como governador em exercício
Castro assumiu como governador em exercício em plena pandemia. Sempre se posicionou contra o que chamou de lockdown para conter a disseminação Covid. Chegou a se envolver em discussões com prefeitos que anunciaram medidas mais restritivas no feriado prolongado entre o fim de março e o início de maio.
O prefeito da capital Eduardo Paes ironizou a posição de Castro de querer manter bares e restaurantes abertos no período e apelidou a antecipação de feriados de “Castrofolia”.
Posteriormente, Castro acabou decretando medidas de restrição, embora mais leves do que as adotadas no Rio e em Niterói, por exemplo. Ele pediu que a população evitasse fazer festas. Recebeu, entretanto, convidados para comemorar o aniversário em Itaipava, em Petrópolis, na Região Serrana. Um decreto da prefeitura local proibia aglomerações.
Ainda durante a pausa emergencial entre 26 de março e o domingo de Páscoa (4), começou a circular o vídeo de Castro cantando pagode durante uma festa em fevereiro.
No mesmo dia do capítulo final do julgamento do impeachment de Wilson Witzel, que acabou o confirmando como governador, Cláudio Castro participou do leilão da Cedae. O leilão foi confirmado pela Justiça após uma votação na Alerj que pedia a sua suspensão.
“Esse leilão é um marco para o estado do Rio de Janeiro e nos dá esperança para um futuro melhor para o nosso povo”, disse Castro.
Delator diz que Castro recebeu propina
Delator diz que Cláudio Castro recebeu R$ 100 mil em propina
A Operação Catarata, realizada em setembro do ano passado, apurava desvios de R$ 66 milhões em contratos de assistência social no governo do estado e da Prefeitura.
Um dos presos foi o empresário Marcus Vinicius Azevedo da Silva, que tinha sido assessor de Castro na Câmara. A empresa de Marcus Vinícius, segundo o Ministério Público, fazia parte das licitações de fachada.
Bruno Selem, que também foi preso no esquema e era funcionário da Servlog, diz que o dono da empresa, Flávio Chadud, pagou R$ 100 mil a Cláudio Castro em propina. Ele nega a acusação e processa o delator.
Câmeras de segurança de um shopping na Barra da Tijuca mostram o encontro. À época, Castro era vice-governador e comandava a Fundação Leão XIII, responsável por políticas de assistência social do governo do Estado, que atende a população de baixa renda e em situação de rua.
As suspeitas de participação do agora governador já foram compartilhadas com o grupo de atuação do Ministério Público que investiga pessoas com foro especial na esfera estadual.
Cláudio Castro nega qualquer ato ilícito.
Da redação/ Com G1