Em sua segunda entrevista na prisão, ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou novamente o atual presidente, Jair Bolsonaro (PSL). “Ele acaba de fazer um decreto acabando com todos os conselhos populares que foram criados a partir da Constituição de 1988. Ele defende barbaramente um estado armado, um estado policialesco. Ele acaba de autorizar fazendeiro a usar arma e atirar em quem ele quiser. Ele é um doente! Acha que o problema do Brasil se resolve com arma. Os problemas do Brasil se resolvem com livro, com escola”, declarou na sede da Polícia Federal em Curitiba ao jornalista Kennedy Alencar.
A conversa foi gravada há exatamente uma semana — portanto, antes do decreto assinado na terça (7) por Bolsonaro ampliando o direito ao porte de armas a diversas categorias, como caminhoneiros, advogados, deputados, vereadores e até jornalistas. Ao mencionar que “fazendeiro pode atirar em quem ele quiser”, nota-se que Lula se referia, portanto, às promessas que seu oponente havia feito em 18 de abril, remetendo ao decreto de porte. Exaltado, o ex-presidente declarou que “pelo bem do Brasil” espera que Bolsonaro aprenda a guiar o país. “Em vez de ficar falando bobagens, ele deveria falar que vai terminar o mandato melhor do que o Lula. Vou fazer mais universidade, vou investir mais em ciência e tecnologia, vou colocar mais criança na escola, vou fazer mais casas”. O petista também criticou a postura dos descendentes do atual presidente. “Ele corre atrás dos filhos para apagar um incêndio a cada dia. Não sei como funciona a família, mas o que se apresenta publicamente é um negócio incontrolável”, disse Lula.
A entrevista foi solicitada por Alencar no ano passado, mas só foi realizada neste mês por causa de decisões divergentes de ministros do Supremo Tribunal Federal. Declarações do petista a veículos de imprensa estiveram proibidas de setembro de 2018 a abril deste ano, quando o presidente da Corte, Dias Toffoli, liberou que ele fosse entrevistado pelos jornais Folha de S.Paulo e El País Brasil..
Críticas a Moro
Assim como em sua primeira entrevista, Lula insistiu em sua linha de defesa sobre a condenação no caso do tríplex no Guarujá, questionando as evidências apresentadas pelo Ministério Público Federal e chanceladas pelo então juiz federal Sergio Moro – e atual ministro da Justiça e Segurança Pública – e pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. “Alguém tem que mostrar (a prova). Esse apartamento, esse maldito apartamento, se ele é meu, tem que ter um documento, tem que ter um contrato, tem que ter um pagamento. Alguma coisa tem que ser mostrada. Não é possível que alguém possa dizer que um apartamento é meu se eu não comprei, não morei, não paguei, não tem escritura. Que negócio é meu?”, afirmou. O ex-presidente voltou a acusar Moro de manipular a imprensa ao vazar seletivamente informações sigilosas: “O Moro fornecia à imprensa as informações em primeira mão, do jeito que ele entendia, a imprensa transformava a mentira do Moro em verdade, e aí o cara já estava condenado. Por que que você acha que eu resolvi resistir? Porque eu quero provar que eles mentiram.”.
Para Lula, Moro não vai sobreviver à política. “Ele não nasceu para isso. Ele nasceu para se esconder atrás de uma toga e ficar lendo o Código Penal. É para isso que ele nasceu. Ele tem que se expor a debate. Eu, por exemplo, adoraria se sair daqui fazer um debate com o Moro sobre os crimes que cometi.”
Autocrítica
Lula fez uma autocrítica ao admitir que “lamenta não ter sido mais incisivo” com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) para fazer algumas coisas. “Uma pessoa cheia de confiança como a Dilma, na hora que o carro começa derrapar nem sempre tem a tranquilidade de parar e falar: peraí, vamos parar, vamos ouvir, vamos conversar”. Sobre a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos Rio-2016, o presidente opinou que “foi uma oportunidade mal aproveitada”, porque “o Brasil já estava tomado pelo ódio”.
Peso da corrupção
Questionado sobre o peso da corrupção na economia, ele ponderou: “Não é o peso a ponto de atrapalhar o crescimento da economia no Brasil. O que atrapalha o crescimento da economia é que o Brasil nunca pensou efetivamente em se desenvolver. O Brasil se contentou em ser o que é: um país para 35 milhões, e o restante que seja número estatístico”.
Da Redação
Com UOL