Antes da barbárie… palavras

Publicado em terça-feira, setembro 11, 2018 · Comentar 


Em 1933 o filósofo judeu Walter Benjamin escreveu um texto em que tratava da experiência. Seu diagnóstico era ao mesmo tempo nostálgico e perturbador: a sociedade estava ficando mais pobre de experiências. Em 1940, nas suas teses sobre o conceito de história, Benjamin anunciava o saldo que o progresso técnico trouxera para Europa: a guerra e em sua sombra a Barbárie. Ele não chegou a ver o cogumelo de Hiroshima pintar com fogo uma das piores cenas da história da humanidade, suicidou-se antes, em 1940.

Antes da barbárie… palavras. Se a sociedade está ficando pobre em experiência, a virtude da experiência está cada vez custando mais caro. Os congressos, conferências e livros sobre as atrocidades do regime militar no Brasil não inibiram que um vice candidato ao cargo máximo de nossa República falasse em rede nacional, não por acaso na Globo, sobre a possibilidade de um “autogolpe”. Xingado por alguns, deliciou os ouvidos de outros, mas o pior: foi um discurso aceitável. Foi proferido e muitos o tomaram como parte do jogo.

Mas o jogo, neste caso, não vale pontuação ou queda na tabela. Este jogo coloca em risco o pouco que se conseguiu. O trabalho de formiga realizado nos últimos anos entre os muros das universidades pode ter sido apenas uma pedra no meio do caminho, mas a barbárie quando alimentada pelo ódio consegue ultrapassar muralhas. Em Serra da Raiz, as pessoas ainda seguiram, como em uma procissão fúnebre, “figuras políticas” que representam aquilo que de pior temos em nossa política. Vez ou outra alguém coloca o número que soma 8 nos comentários de algum outro alguém. E de alguém em alguém, o que antes parecia morto abre seus olhos famintos e parece piscar em direção aos que já perceberam sua presença.

O odor do ódio, sem razão lógica, já pode ser sentido. “O outro” é o alvo principal desta canalização de energia fascista. O pior é quando descobrirmos, da pior forma, que todos podem ser este “outro”. A euforia das conquistas sociais na primeira década do nosso século XXI me lembra um pouco o louvor à técnica que antecedeu a catastrófica guerra. O progresso tão odiado pelos novos paradigmas pode ter se disfarçado de bem social. E enquanto todos comemoravam as merecidas vitórias daqueles que sempre rastejaram pelo esquecimento, os ressentidos conseguiram plantar uma pequena semente de ódio. E no silêncio esta semente cresceu. Em outubro pode gerar frutos. Lutemos agora para que a germinação seja interrompida. Se isso não acontecer deixo pelo menos palavras… antes da barbárie.

Júlio Cesar Miguel 
Acadêmico de História
Contato com a coluna:  julio543543@outlook.com

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