Eleições 2018: Especialista em marketing eleitoral aborda o tema em entrevista para à EXPRESSO

Publicado em quarta-feira, setembro 5, 2018 · Comentar 


FELIPE MIRANDA

“A redução do período de campanha levou os candidatos a investirem ainda mais nos meios digitais para suas estratégias de marketing eleitoral”

 

Com a chegada do período eleitoral, a EXPRESSO procurou entender como funciona o marketing político e ouviu o especialista Felipe Miranda onde ele aborda o tema esclarecendo como se dar as estratégias para conquistar o eleitor através do marketing digital.

RE – Qual a importância do marketing digital e das redes sociais nas eleições 2018?

Felipe Miranda – Em uma sociedade cada vez mais conectada as campanhas eleitorais realizadas em ambientes digitais podem determinar o sucesso ou fracasso de um candidato. As inúmeras ferramentas digitais potencializaram a criação de grupos e redes sociais tornando o debate sobre política ainda mais amplo e intenso.

RE – Mas antes de mais nada é necessário fazer um retrospecto de como surgiu o marketing. 

Felipe Miranda – Registros revelam que o termo marketing surgiu pela primeira vez nos Estados Unidos, logo após a Segunda Guerra Mundial, quando os consumidores passaram a ser mais exigentes na hora de consumir produtos e serviços. No Brasil, o termo passou a ser estudado a partir de 1954, com a implementação dos primeiros cursos de administração, ministrados pelo professor norte-americano Karl A. Boedecker, na então recém criada escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas.

RE – Tratando-se mais propriamente da política, existe alguma diferença entre o marketing político e eleitoral?

Felipe Miranda – O Marketing político, assim como o marketing eleitoral, são dois segmentos, voltados para a atividade política e cada um possui sua particularidade. Nas campanhas políticas existem a junção de duas importantes necessidades que fazem o processo acontecer. De um lado o político, em representação de um partido, que necessita da aprovação do povo para conquistar os votos necessários para eleger-se. E do outro, o eleitorado, sedento de novas propostas, novas representações e melhorias para a sociedade e o seu dia a dia. Para atender ambas necessidades, não é de hoje, que o marketing se tornou uma ferramenta fundamental, como forma de entregar ao eleitorado aquilo que ele “necessita”, e considerando o lado do candidato, garantindo que ele possa atingir e, consequentemente, conquistar seu eleitorado. Considerando que o relacionamento candidato-eleitor sempre foi a maior das estratégias em uma campanha eleitoral. Como aponta as reflexões de Mahanelli (1992) que diz que o êxito de um político não consiste apenas em sua candidatura em si, porém, em sua visibilidade pública e repercussão positiva de sua imagem no cenário público. Visibilidade esta que na maioria das vezes acaba por justificar a grande espetacularização que é criada em torno das campanhas eleitorais, considerada por Guy Debord (1997) como poder “catalisador” da dominação.

RE – E o marketing digital, esse feito nas mídias sociais, como tem sido trabalhado?

Felipe Miranda – Bem, com o advento da internet, novas segmentações do marketing foram instituídas: o marketing político digital e o marketing eleitoral digital. Compreender como tais transformações, bem como os novos hábitos de uma sociedade cada vez mais “hiperconectada” impactaram nos processos políticos é de extrema importância, especialmente considerado este um processo irreversível. Atualmente, é possível reunir em uma só plataforma digital eleitores do país inteiro, simpatizantes da esquerda ou direita, além de personagens diretamente ligados a partidos políticos e até mesmo, candidatos e parlamentares. Diante destas transformações o tradicional Marketing Eleitoral precisou ser adaptado atendendo as necessidades de uma nova realidade digital, cada vez mais mutável.

RE – E porque nas últimas eleições o marketing digital tem sido tão presente nas campanhas eleitorais?

Felipe Miranda – Em 2016, o Tribunal Eleitoral determinou mudanças no processo de campanhas eleitorais, entre eles, a redução do período de campanha, que antes era de 90 dias e passou a ser de 45 dias, isso levou os candidatos a investirem ainda mais nos meios digitais para suas estratégias de Marketing Eleitoral. Diante disto, uma enxurrada de conteúdos, de notícias à páginas e redes sociais oficiais, onde os candidatos publicam intensamente suas rotinas do dia a dia, os eleitores passaram a ter uma relação cada vez mais próxima, muitas vezes até idolatrando tais candidatos. A exemplo do empresário e ex-prefeito de São Paulo, João Doria, que disputa o governo do estado, que foi um dos políticos mais espetacularizados desde que anunciou sua pré-candidatura. Doria massificou sua campanha nas mídias digitais e tradicionais, sob o slogan de “João Trabalhador”, fortalecendo a idéia de que não era político, mas gestor e empresário. Quando lançou oficialmente a sua campanha pela Prefeitura de São Paulo, em agosto de 2016, João Doria, tinha apenas 5% das intenções de voto. Bastaram sete meses para que o candidato, sem nenhuma experiência em cargos eletivos, fosse eleito no primeiro turno com 53% dos votos, resultado bastante expressivo diante do obtido pelos seus cinco adversários.

Publicado na Edição Impressa nº 40
Julho/Agosto-2018

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