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O Brasil na boleia do caminhão: relatos de um movimento que travou um país

O Brasil está no acostamento, com as rodas políticas e econômicas travadas com a deflagração de greve dos caminhoneiros. Imerso nesse caos, que poderá se ampliar, conversei com um grupo de caminheiros, que expôs seus anseios e temores sobre possíveis desdobramentos de proporções inimagináveis até mesmo para os que estão parados nas estradas.

Para esse grupo de grevistas, questões como insegurança, falta de infraestrutura e fretes com valores baixos já determinavam um ambiente de pressão e insatisfação. O motor estourou quando o governo, em uma política desastrosa, impôs vários reajustes sucessivos ao preço do combustível, tornando inviável a profissão. Mas ressaltaram: a luta não é somente pela diminuição do preço do diesel. O movimento reivindica a baixa nos preços combustíveis em geral.

Questionados se não estavam sendo massa de manobra de empresários, que buscavam a ampliação do lucro, foram enfáticos em dizer que o movimento surgiu de forma espontânea, mas que os empresários, também prejudicados com as altas abusivas, aderiram.

A apreensão dos caminhoneiros mais esclarecidos é de que a paralisação, por meio de infiltrações de outros setores, seja desviada para um caminho perigoso para o país, que seria a criação de um ambiente propício para uma intervenção militar.

Segundo relato de um grevista, que solicitou não ser identificado: “boa parte do movimento acredita que uma intervenção militar seria a solução para acabar com os assaltos nas estradas e outras questões relativas ao dia a dia do caminhoneiro, no entanto, não estão enxergando que essa é uma questão particular e estão desconsiderando que situações de intervenção respondem a um país inteiro com consequências perigosas. Há também grupos políticos, principalmente de direita, que estão tentando se infiltrar no movimento, o que nos preocupa bastante”.

Questionados sobre quem poderia intermediar uma negociação, o grupo revela uma crise de representação. Muitos não acreditam nos sindicatos da categoria, não acreditam no governo e não acreditam nos atores políticos.

Diante dessa equação de terceiro grau, a pergunta: então como termina essa paralisação? Não há uma direção certa, definida, porque parte só quer retomar a atividade se o governo Temer ruir e há os que defendem a intervenção militar como sentido de reestabelecimento da ordem.

Segundo relatos, a grande mídia vem realizando um trabalho para amenizar a situação, divulgando que o movimento está sendo desmobilizado, mas quem está na estrada aponta que esse caminho não corresponde à realidade. O principal meio de comunicação dos caminhoneiros é o whatsapp e as posições transmitidas pelo aplicativo, provenientes de diversos pontos do país, determinam que a categoria não esteja disposta encerrar os atos.

Um dos grandes problemas para a verticalização das posições a serem adotadas é que existem mais 500 pontos de paralisação em todo o Brasil e há inúmeros pontos de vista para a solução do problema e carrega na boleia outras dezenas de pensamentos. Para os caminhoneiros, as instituições estão desmoralizadas, por isso não conseguem encontrar representação para intermediar a situação.

Ainda que de forma não muito compreensível, começa a pairar um sentimento ao mais esclarecidos, que o movimento já não está mais nas mãos dos caminhoneiros. “Lembra do movimento dos 20 centavos, que acabou determinando uma imensa massa de manobra para o impeachment de uma presidente? Então, nosso medo é que as nossas pautas de reivindicações sejam apropriadas e terminem em até um a intervenção militar”, enfatizou com apreensão um dos manifestantes.

Enquanto não se encontra uma via para a solução do problema, o país está parado no acostamento. Os caminhoneiros, que lutam por melhores condições de trabalho e de vida também podem, sem ter a dimensão dos desdobramentos, e que parados estão transportando um golpe dentro do golpe, uma ação militar, que é descarregada nas mentes de outros segmentos da população, como a solução simplista para o reestabelecimento da ordem social e política.

Da Redação 
Com Brasil 247/Por Ricardo Flaitt

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