O primeiro-vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), admitiu, em depoimento à Polícia Federal, que recebeu a oferta de doação via caixa dois de um executivo da Odebrecht. Ele contou que recusou a proposta. O tucano, porém, não denunciou o caso nem à Polícia Federal nem em discurso na tribuna do Senado. A oferta, segundo o senador, foi feita a ele em seu próprio gabinete e tinha como alvo sua campanha ao governo da Paraíba em 2014. As informações são da Folha de S.Paulo.
A versão de Cássio contradiz os depoimentos de delatores da Odebrecht e a análise da Procuradoria Geral da República sobre os dados encontrados no sistema do “departamento de propina” do grupo. Ainda no seu depoimento Cássio disse: “Ele apenas disse que faria a doação por caixa dois e, sejamos sinceros, a doação de caixa dois fez parte da cultura política brasileira”.
Segundo a PGR, planilhas do Drousys encontradas em anexo de e-mails enviados em 2014 “corroboram as afirmações do executivo da Odebrecht Alexandre José Lopes Barradas, que revelou o pagamento de R$ 800 mil nas eleições de 2014, via caixa dois, em favor de Cássio Cunha Lima”. De acordo com Barradas, o parlamentar foi identificado pelos codinomes “Trovador” e “Prosador”.
A reportagem mostra que, em sua delação, um executivo da Odebrecht contou que o grupo resolveu ajudar a campanha do tucano porque havia apresentado ao governo da Paraíba uma proposta de parceria público-privada para um projeto de esgotamento sanitário na região da Grande João Pessoa (PB). Mas o governador Ricardo Coutinho (PSB) “não deu andamento” ao projeto.
Barradas disse que a empresa acreditava que Cássio “poderia ter uma opinião mais favorável à participação privada no setor de saneamento do Estado da Paraíba”.
Em depoimento dado em junho, o senador disse que havia procurado a Odebrecht para pedir doação oficial. O tucano afirma que “reagiu imediatamente” quando recebeu a resposta da empreiteira de que doaria apenas por meio de caixa dois. Ele relatou ter recebido R$ 200 mil do braço petroquímico da Odebrecht, a Braskem.
Conforme a Folha, Barradas disse que o senador de fato “demonstrou incômodo e preocupação” com a sugestão do caixa dois, mas que, como “estava precisando, aceitou receber os valores não contabilizados”. O executivo disse que doou ao político de maneira irregular R$ 800 mil, em duas parcelas, entregues em espécie em “um hotel na periferia de Brasília”. A PF agora quer saber quem era Luiz, apontado como responsável pela retirada do dinheiro em nome do paraibano.
Em resposta à Folha, Cássio Cunha Lima afirmou que não denunciou o caso por considerar a prática própria da “cultura política brasileira”. “Ele apenas disse que faria a doação por caixa dois e, sejamos sinceros, a doação de caixa dois fez parte da cultura política brasileira, a imprensa sabia disso, o Ministério Público sabia disso, o país inteiro sabia. Em boa hora passou a ser criminalizada”, alegou. “Queria deixar registrado que o delator disse que eu fui o único a resistir ao caixa dois. Eu não pedi, resisti e não recebi.” Cássio Cunha Lima responde a inquérito da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal.
Redação
Com Congresso em Foco