Pelo menos 18 pessoas morreram no assalto ao Hotel Intercontinental de Cabul, na noite deste sábado (20), após 12 horas de resistência por parte de um comando armado – informou o Ministério afegão do Interior.
De acordo com um balanço provisório, entre os mortos, há 14 estrangeiros.
“Catorze estrangeiros e quatro afegãos morreram”, declarou o porta-voz do Ministério do Interior, Najib Danish, ao veículo afegão Tolo News, sem especificar as nacionalidades envolvidas.
Oficiais ucranianos já disseram que pelo menos um cidadão de seu país está entre os mortos.
“O ataque terminou. Todos os agressores foram abatidos, 126 pessoas foram resgatadas, incluindo 41 estrangeiros”, acrescentou Danish, que se referiu a “três agressores”, em vez dos quatro inicialmente citados.
Ainda segundo ele, “as operações de limpeza continuavam em curso no sexto andar” para detonar as munições que restaram.
Pouco depois das 8h deste domingo (1h, horário de Brasília), enquanto uma fumaça emanava do sexto e último andar do prédio, alguns homens tentavam fugir pela sacada, usando uma corda feita de lençóis. Um deles se soltou. A queda foi transmitida ao vivo pela televisão local.
Uma fonte de segurança disse que o último membro do comando havia-se entrincheirado “em um grande quarto com reféns – afegãos e estrangeiros”, antes de ser abatido.
“Ouvimos como ele gritava com os reféns, que ia matar todos, se não pudesse sair dali”, relatou a fonte consultada pela AFP.
O ataque foi reivindicado hoje pelos talibãs.
“Ontem à noite, o Hotel Intercontinental foi atacado. O ataque foi lançado por cinco mujahedines dispostos ao martírio”, declarou o porta-voz dos talibãs Zabiullah Mujahid, em um comunicado divulgado por e-mail.
Disparos contra os clientes
O comando invadiu o hotel pouco depois das 21h (15h30, horário de Brasília), provocando uma explosão para abrir caminho antes de atirar.
“Quatro atacantes estão dentro do prédio”, informou à AFP um funcionário da agência de espionagem Diretório Nacional de Segurança (DNS), acrescentando que eles estavam “atirando em hóspedes”.
A energia elétrica cortada no bairro do hotel, situado em uma colina no oeste de Cabul. O estabelecimento estava às escuras, salvo pelas altas chamas que emergiam do teto, por causa de um incêndio provocado pelos atacantes.
“Eu não sei se estão dentro do hotel, mas eu posso ouvir disparos de algum lugar perto do primeiro andar”, disse por telefone um homem que não quis se identificar, durante o ataque.
“Estamos escondidos em nossos quartos. Imploro que as forças de segurança nos resgatem o mais rápido possível, antes que eles nos encontrem e nos matem”, completou.
“Orem por mim. Certamente vou morrer”, publicou à noite no Facebook o diretor regional da companhia Afghan Telecom, Aziz Tayeb.
Mais tarde, ele postou que “saí, mas pelo menos 100 dos meus colegas e amigos continuam presos, entre a vida e a morte”.
O grupo estava no hotel para participar de uma conferência.
À noite, as forças especiais foram retomando gradualmente o controle dos andares.
“Mas avançamos lentamente para evitar vítimas civis”, explicou o porta-voz adjunto do Ministério do Interior, Nasrat Rahimi.
No Twitter, familiares buscavam notícias de seus parentes hospedados no imóvel.
“Meu tio está lá. O telefone não dá sinal. Qualquer informação é bem-vinda”, tuitou um internauta.
De Washington, o Departamento de Estado pediu informações sobre se havia cidadãos americanos no estabelecimento.
‘Nenhuma experiência’
Segundo o porta-voz Najib Danish, a segurança do hotel era de responsabilidade de uma nova companhia, que assumiu recentemente o trabalho.
“Estamos investigando para compreender por onde os agressores entraram, como conseguiram usar as portas da cozinha nos fundos”, completou.
Um contador do hotel, que conseguiu fugir porque conhecia bem o edifício, relatou à AFP que “os novos guardas se salvaram sem combater, não responderam, não tinham nenhuma experiência”.
Não se sabe quantas pessoas estavam no hotel durante o ataque, nem quantos são estrangeiros.
O hotel Intercontinental de Cabul costuma ser um lugar procurado para a celebração de casamentos, conferências e reuniões políticas.
Na manhã de sábado, havia sediado uma conferência sobre a presença e os investimentos chineses no Afeganistão.
Inaugurado em setembro de 1969, o hotel já foi alvo de um ataque reivindicado pelos talibãs em junho de 2011, que deixou 21 mortos.
Desde então, o hotel estava sob forte vigilância, com acessos restritos. Como é cercado por jardins e ampla vegetação, é possível, porém, entrar discretamente.