Os reclames do plin-plin

Publicado em sexta-feira, agosto 12, 2016 · Comentar 


Aquele famoso apresentador de nossa televisão faria melhor o programa sem a sua presença. O cara é chato e só é superado por outro exemplar que elege como heróis alguns casais de desocupados, confinados em uma casa para engorda e, outras “cositas” mais por baixo do edredom. Mas nós, mortais comuns, temos que conviver com a fama deles ou trocar de canal. O programa melhora nos intervalos quando são apresentados os “reclames do plin plin”. São as mensagens dos  anunciantes  que pagam toda a parafernália armada a cada domingo da graç a global. Melhor faria o programa se desse mais espaço ao seu corpo de balé, uma seleção de pernas e bocas de fazer inveja a algumas  atletas olímpicas de países que nunca ouvi falar. Os reclames de hoje  são muitos divertidos e prendem o telespectador. Acostumado a voltar para a leitura, nos intervalos, muitas vezes me delicio apreciando a forma mágica que os marqueteiros encontraram para vender seus produtos. Mas nesse espaço, tenho preferido mostrar fatos do  passado e, hoje, levo os meus poucos leitores ao inicio do século passado, a edição de 8 de março de 1900, do jornal O Com mercio, editado pelo jornalista Arthur Achilles, nesta cidade de Nossa Senhora das Neves que acaba de aniversariar.

Na sua página comercial, os reclames de remédios, como eram chamados,  ganhavam destaque. Sob o titulo de “Remédios que Curam: Nevralgias, Rheumatismo agudo ou chronico, dor de dentes, SELLOS ante-rheumaticos do dr.Heinzelman”. Para a cura certa da “Dyspepsia, falta de appetite, náuseas, prisão de ventre e tonturas,  recomendavam-se  as Pílulas Ante-dyspépticas”do mesmo farmacêutico. Também estava no comércio um fármaco para combater as tosses, a rouquidão e o catarro – as Pílulas Expectorantes, que não serviam para eliminar as anemias, fraqueza ou inchação no rosto e nas pernas. Para esses males, a Pharmácia Londres tinha à venda as Pílulas Ferruginosas.

Naquele tempo, a Homeopatia já ganhava espaço e, visando desclassificar os charlatães, anunciava-se a Homeophatia Verdadeira, cujo especialista chama-se Umbelino Álvares, sediado na Rua Larga do Rosário, 38, no Recife. Para evitar as falsificações, a marca era a foto do famoso homeopata estampada em tinta azul, com a recomendação: “Exija-se o seguinte retrato”. Mas para comprar com confiança, devia ser procurada a Pharmácia Londres, situada na rua Maciel Pinheiro, 76, na cidade da Parahyba.

Não posso deixar de lembrar o Específico Áureo de Harvey, que prometia “cura infalível” para “Debilidade Nervosa, Espermatorreia, Perdas Seminaes noturnas ou diurnas, Inchação dos testículos, Prostração nervosa, Moléstias de rins e da bexiga, Emissões involuntárias e fraqueza dos órgãos genitaes”. Era uma oportunidade para se largar o chá de catuaba ou a gemada, já que o ovo de codorna foi indicado décadas depois pelo rei Luiz Gonzaga.

Nas páginas dos jornais se vendia tudo: vinho de Málaga, para os convalescentes; Alcatrão Benzoico, para “bronchite ou laryngite” e também o  Xarope de Cumarú. Phosphoros Cruzeiro, Salitre e Enxofre; Cimento e, um óleo denominado de Luz Brilhante, próprio para a iluminação aromática de lamparinas, sem produzir fumaça. Nessa época, é bom que se diga, a Drogaria Rabelo, fazia concorrência com a Pharmácia Londres.

Os reclames chamavam a atenção do belo sexo, eternamente em busca de elegância e beleza, para os calçados oferecidos pela loja “A Botina Elegante, um grande empório de calçados”.E destacava o anuncio: “Esta casa, a primeira nesse gênero n’esta  praça, recebe regularmente das principais fabricas estrangeiras e nacionais as mais altas e primorosas novidades em calçados em todos os feitios e tamanhos”. Respondia pela firma, J. Etelvino & Mo ntenegro, a rua Maciel Pinheiro 50.

E para encerrar, a Casa da Fortuna, de Marcionillo Bezerra anunciava os prêmios da Loteria Esperança, que chegava a doze contos de reis; a Grande Loteria Nacional,  poderia fazer um milionário de duzentos contos, prometendo descontar dos premiados uma “diminuta percentagem”.

Não vou perguntar, mas tenho certeza: vocês vão preferir os reclames do Faustão. Não por ele, mas pelas meninas do balé! 

Ramalho Leite
Jornalista/Ex-Deputado – Colunista

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