Bastou ser lançado em três países para virar fenômeno mundial. Aguardado com enorme expectativa, o Pokémon Go, novíssima versão para celular do videogame criado há vinte anos pela Nintendo, chegou na quarta, dia 6, aos Estados Unidos, à Austrália e à Nova Zelândia. Horas depois, só se falava nele. Ainda não há dados oficiais, mas, segundo sites especializados, somente nos Estados Unidos foram 21 milhões de usuários diários, 1 milhão a mais do que os do campeoníssimo Candy Crush. Nesta semana, começou a desembarcar na Europa. No Brasil, só daqui a dois meses. Baixar e jogar o Pokémon Go é de graça, porém apetrechos para ganhar pontos na brincadeira custam dinheiro. Daí que já se fala em mais de 14 milhões de dólares gastos nas lojas de aplicativos, o que faz do jogo um dos mais lucrativos de todos os tempos (antes, um resumo para não iniciados: Pokémon Go é um videogame que usa recursos da chamada realidade aumentada para situar os simpáticos bichinhos, os mesmos de vinte anos atrás, em cenários de verdade. Aponta-se a câmera do celular para algum lugar real – a mesa do computador, o saguão do prédio, a calçada, o parque, onde você estiver – e lá se encontra um dos bichinhos. A graça é “caçá-los” — com a ajuda dos tais apetrechos que custam dinheiro, claro).
Até pouco tempo atrás, o Pokémon Go seria “coisa de nerd”. Na definição clássica, nerd, também chamado de geek, é um sujeito esquisito, antissocial, navegador habilíssimo da internet. Sua gama de interesses parece coisa de criança: quadrinhos, super-heróis, videogames, ficção científica, mundos de magia e fantasia. A diferença é que ele leva tudo isso muito a sério. Os Pokémons são seus velhos amigos. Mas ele conhece a fundo também a genealogia do Superman, do Batman e do Homem-Aranha. Circula pela Terra Média e pela Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts como se fossem sua casa. “O nerd é um apaixonado que não se contenta com o superficial. Vê um filme ou série e quer conhecer os bastidores e as sequências, entender os personagens e o assunto”, ensina Alexandre Ottoni, 37 anos, fundador do site Jovem Nerd.
Durante décadas, essa turma estranha viveu no seu mundinho, colecionando bonecos, jogos de tabuleiro e fantasias e sendo alvo de piadas e narizes torcidos. Agora, até meio que à sua revelia, o mundinho se expandiu e boa parte do universo nerd caiu nas graças dos jovens em geral. No Brasil, nos últimos três anos, oito das dez maiores bilheterias do cinema tiveram como tema heróis, ficção científica, fantasia e magia. Na TV e nos serviços on demand não é diferente. A nerdíssima trama apocalíptica de The Walking Dead, baseada em uma série de quadrinhos do mesmo nome que os entendidos admiram e acompanham desde 2003, é a mais vista da história da TV a cabo. Em segundo lugar vem Game of Thrones, outro título unha e carne com a turma. Os nerds ficaram tão pop que ganharam até uma série, a premiada The Big Bang Theory, na nona temporada.
Como é próprio dos pioneiros, contudo, alguns nerds de berço agora torcem o nariz para o que consideram um certo desconhecimento dos recém-chegados. “Pessoalmente, acho bacana ver gente nova se apaixonando por histórias que conheço há tantos anos”, diz Massao Matsuhashi, 28 anos, nerd “desde criança”. “Mas há quem desenvolva uma relação possessiva com alguns personagens e ache a popularização ruim.” De fato, a formação cultural dos neonerds apresenta falhas. O biólogo carioca Renato Nunes, 27 anos, é tão fã de super-heróis que coleciona bonecos. Confessa, porém, uma lacuna capital: “Nunca li uma história em quadrinhos”. É imperdoável…
Da Redação
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