O saudoso escritor Wellington Aguiar contou quase toda a história da Paraíba, através das páginas dos jornais. Do Império, quando os periódicos começaram a transmitir as noticias da Corte, passando pela Abolição e chegando à República, tudo foi comentado a partir de uma notícia ricamente expressa em detalhes e adjetivos. Quando na direção de A União, passei a conviver com traças e ácaros mas, de luvas e máscara, arriscava-me a mergulhar naqueles preciosos arquivos em busca do passado, em fatos e curiosidades de épocas distintas. Que vício! Apaixonei-me por essas pesquisas e até no Arquivo Nacional encontrei páginas que me impressionam pelo inusitado de sua forma de redação. Era assim que se noticiava o nascimento de uma criança: “O ilustre Sr. Francisco Paulino de Figueiredo e sua Exmª. Senhora tiveram ante-hontem o seu lar domestico ale grado pelo chilrear innocente de mais juma creancinha que lhe veio aumentar a prole. Nossos parabens”.
Os atos oficiais, emanados do Palácio do Governo, eram igualmente publicados no jornal do Partido Republicano Federal do Estado da Parahyba. Para ocupar esse meu espaço semanal, busquei algumas portarias que referenciam figuras ilustres do passado, hoje, quase todos, nomes de ruas e praças. Na edição de 04 de novembro de 1898, encontramos o nosso futuro presidente Castro Pinto, no inicio da uma careira que chegou ao Senado da República: “Por acto de hontem do governo do Estado, foi nomeado o dr. Castro Pinto para a cadeira de sociologia e moral do Lyceu Paraibano.Similhante nomeação, tendo recahido sobre pessoa muito competente e de tão invejável talento como é o dr. Castro Pinto , é digno de todo applauso”.
Outra noticia, nos dá ciência de importante nomeação, essa de interesse do setor econômico. “Por telegramma que vai na secção competente, sabemos ter sido nomeado Gerente da Caixa Economica d´este Estado, o nosso distincto e particular amigo e colega de redacção, dr.Joao Leopoldo da Silva Loureiro.Nossas cordiais felicitações a este nosso amigo pela prova de confiança com que acaba de ser distinguido e ao governo pela feliz escolha”.
Não fugirá dos meus olhos qualquer referencia à minha região brejeira, principalmente Bananeiras, o segundo maior território ali sediado a partir de 1833, segundo Horácio de Almeida, que aponta Areia em terceiro lugar. Para a cidadela dos barões do café foi nomeado para o cargo de carcereiro, o cidadão Antonio Paulino dos Santos Filho, por indicação do “respectivo delegado de policia”. Em data próxima, para sub-prefeito, assumiria o cafeicultor Sigismundo Guedes Pereira Filho.O padre Walfredo Leal, que dirigia o Estado, em 1 de outubro de 1896 assinou portaria removendo de Bananeiras para Mamanguape o professor João Ignácio da Silva Queiroz, enquanto o titular da cadeira de ensino primário de Mamanguape, ocuparia seu lugar em Bananeiras. Ao que parece, o primeiro removido adoeceu com o impacto da transferência. O mesmo diário nos dá conta de que o mencionado professor foi afastado do cargo, “com ordenado, durante três meses para tratar sua saúde, onde lhe convier”.
Pelas páginas de A União, temos noticia de que a Intendência Municipal de Bananeiras resolveu ceder à Diretoria Geral dos Correios e Telegraphos a casa da rua do Livramento daquela cidade, “com a mobília precisa para nela ser estabelecida a estação telegráphica”. A cessão era condicionada. Dentro de um ano, o Correio obrigava-se a construir sua sede própria. O acordo foi cumprido e a sede dos correios de Bananeiras é um centenário prédio bem conservado até hoje.A inauguração da linha telegráfica ligou a “florescente cidade ao mundo civilizado”, diz o jornal.
E para não dizer que não falei de flores, digo, das flores de café que mantiveram a riqueza do brejo por muitos anos, registro o seguinte anuncio: “Oliveiros Coriolano P. de Lucena, avisa aos senhores plantadores de café, que em sua propriedade Angicos, acha-se a venda pelo preço de vinte a trinta mil reis o milheiro, cem mil pés de café próprios para muda.Bananeiras 8 de abril de 1896”. Nessa propriedade o menino Iveraldo Lucena, futuro andarilho, corria c&eac ute;lere entre os pés de café. (Mantive nas transcrições a grafia da época).
Ramalho Leite
Jornalista/Ex-Deputado – Colunista