Nascida em fevereiro, trazia consigo a alegria do carnaval que, às vezes,coincidia com a data do seu nascimento.No último Natal, esteve na platéia do Auto do Menino Deus encenado pelas crianças da Escola de Artes do Município de Bananeiras, em frente à Matriz do Livramento.O clima não lhe fez bem e em pouco mais de uma semana, uma enfermidade repentina lhe tirou a vida. Azeneth Bezerra Aragão cumpriu sua missão na terra quando completaria noventa e seis anos de idade.
Irrequieta e decidida, na fase em que deveria ensinar resolveu aprender, e se tornou uma boa pintora, graças às Organizações das Voluntárias. Seus quadros embelezam as salas de filhos e netos. Já havia contratado a festa do seu próximo aniversário. No hospital chamou o médico e lhe entregou um convite. Foi seu ultimo momento antes de se despedir com destino a uma UTI. Manteve a alegria até o fim.
Na juventude, Azeneth era festejada por todos e, sua alegria contagiante tornou-a madrinha do Bananeiras Clube, que a elegeu Rainha do Milho no longínquo ano de 1942 do século passado.O jornal A União registrou a notícia e adiantou que a homenageada, em retribuição à coroação, ofereceu, em sua residência, um almoço à diretoria do sodalício.Foi professora diplomada na escola das Dorotéias.
Esse último exemplar dos primeiros Bezerra Cavalcanti tinha sangue de português misturado à linhagem das origens bananeirenses. O primeiro estrangeiro a residir em Bananeiras, citado por Humberto Nóbrega, chamava-se Tomás de Aquino Freire de Andrade. Maurílio Almeida revela também a presença, nas fileiras da Guarda Nacional local, do capitão José Freire de Andrade e do tenente João de Aquino Freire de Andrade, por certo, parentes próximos do portuga. Este procurou uma nativa para casar e constituir família, encontrando em Anna, filha do coronel José Ferreira da Rocha, o corone l Camporra, a sua preferida.
O coronel Camporra já cedera sua filha Úrsula Emília para esposa do sobrinho, comendador Felinto Rocha, filho do Barão de Araruna.“Era homem extremamente gordo e de estatura baixa. Possuía um temperamento impulsivo e violento.Morava no Engenho Farias, de sua propriedade, perto do Engenho Jardim, onde residia seu irmão o Barão de Araruna”, descreve Maurílio. Uma filha de Camporra, de nome Cordolina, quis casar com alguém que amava mas encontrou a objeção severa do pai. Em uma madrugada, fugiu com o noivo e seus amigos. Ao descobrir a ausência da filha, o coronel tocou o búzio, reuniu a tropa e foi resgatá-la, pura e virgem, da casa de um amigo de sua confiança. Cordolina “ganharia” depois um marid o escolhido pelo pai.
Melhor sorte teve o português Tomas de Aquino. Antes de instituir família, deve ter recebido o beneplácito do coronel. Casou com sua filha Anna e desse matrimônio nasceu Maria Eugenia, que viria a se casar com Francisco Bezerra Cavalcanti, conhecido como Yoiô Déco, pais da minha sogra Azeneth Bezerra Aragão – bisneta do coronel Camporra e sobrinha neta do Barão de Araruna.
Ela pretendia chegar aos cem anos e me disse isso ao completar os oitenta. Exclamei: “o diabo é quem duvida!” Com muitos risos ela contava essa história da minha verve irreverente, e acrescentava: vou provar a ele que eu chego lá! Quase chega! Mas ela também fazia das suas, e costumava dizer: “quando me levarem, podem olhar pra minha mão que estarei dando um adeusinho”…
Ramalho Leite
Jornalista/Ex-Deputado – Colunista